Dia de homem, hein.
Aposto que você, que corta lenha nas florestas do Oregon e caça alces com não mais que as próprias mãos já deve estar reclamando como um velho turrão: “má que porra de dia do homem o quê! E eu vou lá ficar comemorando dia de macho por aí?”
Pois devia.
O dia do homem é muito mais que citar as qualidades de nós, viris chefes de família, que entendemos tudo de caminhões e sabemos exatamente quais as melhores carnes para um churrasco. Esse dia, marcado por sei lá quem como nosso, serve para lembrar e celebrar grandes homens do passado que fizeram de nós desentupidores de encanamento e trocadores naturais de chuveiro, o que somos.
O que o Gengis Khan fez por nós, nunca haveremos de conseguir pagar. Al Capone salvou nosso uísque do começo da noite enquanto Elvis Presley provou que mexer a pélvis com um violão a tiracolo pode garantir muitas menininhas. Esses caras que acabei de citar serviram de moldes para o que nos tornamos. Conquistadores, beberrões que só fazem música pra pegar algumas pequenas.
E o que seria de nós, colecionadores de pornochanchada, se o escritor russo Vladimir Nobokov não tivesse escrito sua obra-prima, Lolita? Como seriam as nossas doces perversões se o grande Nelson Rodrigues, no ímpeto de chocar a sociedade mostrando sua própria realidade, não tivesse publicadoA dama do lotação e Bonitinha, mas ordinária? Certamente você não seria o homem que é.
Colega de sindicato dos estivadores, lembrem-se desse dia como o dia de homenagear os vikings sitiando vilarejos, varando noites regadas a costelas de boi e jarras de hidromel. O dia para recordar todas as feitorias dos malandros da antiga Lapa que formaram o que hoje é o “jeitinho brasileiro”. Daqueles bambas que viviam de boemia, de cachaça e mulata. Sem Noel Rosa, Cartola e Vinícius de Moraes, sem sei se eu queria ser cidadão brasileiro do sexo masculino.
Reconheçamos a importância para a nossa formação, da existência dos ogros dos filmes de ação: Schazzas, Stallas, e o Bruce “Yippie Kai Yei Motherfucker” Willis (com a benção dos apelidos para os Melhores do Mundo), todos esses crias de John Wayne e Bruce Lee.
Em vez, então, de ficarmos esperando congratulações e bajulações pelo dia do homem, tratemos de manter viva a figura daqueles que, de uma forma ou de outra, montaram a base para podermos ser o que somos hoje. De minha parte, lembrarei de Xico Sá, que resgatou o modo macho de ser, mas sem ser macho, do grande John Fante, o perdedor nato mais estiloso que esse mundo já viu, e do grande mestre Clint Eastwood, que construiu toda a aura do machão armado e, como quem não quer nada, destruiu todo o mito com sua sensibilidade como diretor.
Se você é o homem que diz que é, camarada entusiasta da Kalashnikov, Então faça o favor de honrar as calças que veste fazendo a sua homenagem do dia. Os homens agradecem.
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