Você é a mudança que quer ver no mundo?

Quantas vezes na vida você tinha a opção de sair da zona de conforto e fazer uma mudança, mas preferiu ficar na mesma?

O mundo está cheio de pessoas em busca da transformação de suas rotinas. Mas a maioria dessas pessoas não sabe nem por onde começar. Essas pessoas procuram pelo momento ideal ou acreditam que não têm tempo e recursos para um primeiro passo. Mas aguardar por tudo isso é aceitar perecer na inércia, dado que um ponto de partida não depende de nada disso.

O que é preciso é atitude, aqui e agora. Muitas vezes o caminho pode estar em nossas mãos – como aconteceu comigo –, mas não somos capazes de perceber ou esperamos uma oportunidade melhor, o que não passa de uma desculpa para permanecermos na nossa zona de conforto.

Eu segurava um livro quando me surgiu a ideia de melhorar um dos meus ambientes de maior convívio social: o transporte público. E resolvi fazer isso através de uma ferramenta simples: a literatura. Algo que há tantos anos transformava minha vida.

Pare por um instante e pense em suas atitudes cotidianas. Enquanto pensa, continue lendo esse texto, mas agora preste atenção na sua respiração…

Pausa pra você realmente respirar.

Você respirou fundo, não foi? Pois é. Assim como a respiração, existem coisas que fazemos todos os dias automaticamente, mas que quando resolvemos prestar atenção nelas, acabamos fazendo de uma forma diferente.

Esse exemplo demonstra que você pode estar enganado ao imaginar que muito tempo no emprego, na faculdade, estudando ou realizando diferentes atividades te impede de exercer alguma mudança. A verdade é que você pode estar fazendo tudo em piloto automático, enquanto deixa uma série de ideias e oportunidades escorrer pelo ralo por estar alheio demais para reconhecê-las.

Vivi algumas experiências que me mostraram que mesmo as atitudes simples ajudam e transformam pessoas e lugares, e aqui, tomo a liberdade de compartilhar três com você. Tais vivências são responsáveis pela construção de parte da minha filosofia de vida: tornar o ambiente em que atuo. Independente do resultado, tenho experimentado e percebido que a tentativa é sempre válida.

O Dia da Prosperidade

Trabalhei em uma empresa onde eu possuía certa liberdade. Em dada época, passávamos por um momento complicado de faturamento, com demissões quase diárias. Você pode imaginar como o clima era pesado, recheado de angústias e reclamações.

É de rir pra não chorar.

Foi então que eu tive a ideia de criar o “Dia da Prosperidade” entre os funcionários que respondiam a mim. Neste dia era proibido reclamar e falar coisas negativas sem ter ao menos uma proposta de possível solução. Escolhi uma sexta-feira, onde o clima já era naturalmente mais tranquilo, para iniciar e o resultado veio rápido, com ótima aceitação da equipe.

Nesse dia, as pessoas passaram a ir para o trabalho com uma vontade inconsciente de resolver problemas. Elas estavam animadas pensando no final de semana diferente que teriam, pois mesmo que pudessem imaginar que de alguma forma seria ruim, viam uma possibilidade de melhorá-lo.

Então resolvi mudar o dia para a segunda-feira para testar. Se eu pudesse medir o resultado, diria que dobramos a eficiência! Era sensacional saber que as pessoas fariam o que teria de melhor aos finais de semana para que, ao chegar segunda-feira, pudessem contar como tudo aquilo tinha sido bom e como o seu dia seria ótimo!

Aos poucos tirei a obrigatoriedade da iniciativa e ela se transformou numa rotina natural dos funcionários. Eles estavam muito ocupados pensando em soluções, de modo que não tinham mais tempo - nem vontade de parar - para reclamar.

A transformação estava “completa”.

Carona da Família

O que te faz levantar às 6h30 de um domingo?

A princípio você pode ter imaginado pouquíssimas coisas. E se você pensou isso, você é exatamente como eu era. Mas no meu caso, passei a acordar 6h30 aos domingo para levar meus avós, com dificuldades de locomoção, à missa que tanto gostavam de frequentar.

Uma das minhas avós morava bem perto da igreja. Coisa de duas quadras de distância, mas seus joelhos e uma subida enorme dificultavam sua presença nas missas. Os outros avós moravam um pouco mais longe, e estavam sem carro após o terem roubado. Então sugeri que seria o motorista dos meus velhos nos horários das missas. Detalhe: eles frequentavam a mesma igreja, mas em horários diferentes.

Vi-me numa rotina dominical muito diferente da qual estava acostumado: acordar às 6h30 para buscar a minha avó materna e levá-la à igreja; trazê-la de volta às 7h30; buscar meus avós paternos às 9h30 e leva-los à missa; e às 10h30, buscá-los para deixá-los em casa novamente.

É claro que nestes intervalos eu ia pra casa e dormia, até porque no dia anterior não tinha parado de ir dormir tarde. Mas deixá-los na porta da igreja, desejar-lhes “boa missa”, dar-lhes um beijo e receber um agradecimento era uma sensação maravilhosa. (Recomendo fortemente, para aqueles que os têm, passar pela experiência de receber um agradecimento dos seus avós).

Essa atitude impactou positivamente na vida e na rotina deles, pois além da facilidade que proporcionei, eles também se sentiam mais queridos e cuidados pelo meu gesto e disposição. Mas, sobretudo, impactou em minha vida, por poder contribuir de forma tão simples, porém muito significativa, com quem fez, faz e fará parte de mim, da minha história. Eu ainda acho que dormir é bom demais, mas não me arrependo nem por um segundo da nova rotina que implementei.

Leitura no Vagão

Eu sou apaixonado por leitura e pelo bem que ela move nas pessoas. Utilizo o metrô como transporte para o trabalho, e neste trajeto – que para muitas pessoas é considerado um tempo perdido – eu conseguia ler dois livros por semana. Comecei a reparar que neste ambiente, eu não fazia nada de diferente para as pessoas que estavam ali comigo e isso não batia com minha filosofia de transformar o ambiente que atuo num lugar melhor. O máximo da minha cidadania era ceder o lugar para outra pessoa, segurava uma bolsa, ajudar alguém a embarcar ou desembarcar do trem.

Neste momento pensei: “Como posso melhorar este ambiente?” A resposta foi muito fácil de ser encontrada. Você já sabe que ela estava nas minhas mãos: um livro.

A partir desse dia, há quase dois anos, criei um projeto chamado “Leitura no Vagão” que tinha como objetivo deixar livros nos assentos dos vagões, fosse ele de trem ou metrô, para que outras pessoas pudessem ler. A ideia era, e ainda é, que após a leitura elas deixassem os livros novamente nos vagões para que alcançassem novas pessoas.

Encomendei a impressão de alguns folders contendo informações sobre do que se tratava a iniciativa e os grampeei dentro dos livros. Em uma página em branco, fiz uma etiqueta contendo algumas informações sobre o projeto, como suas redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram) para colar na capa em algum lugar que não atrapalhasse a exposição do título ou a editora. E tudo começou dessa forma em 12 de Agosto de 2014.

Hoje já são mais de 11 mil livros deixados nos vagões e incontáveis pessoas atingidas, dentro e fora do transporte público. O projeto já está no Rio de Janeiro, Distrito Federal, Belo Horizonte, Porto Alegre, Santiago, Nova Iorque e até Dubai. Nesse lugares, o projeto depende ainda mais das ações voluntárias de pessoas que vivem lá.

No Chile, por exemplo, ele é tocado por uma leitora que encontrei num vagão quando deixei alguns livros por lá numa viagem. Encantada pela história, combinamos que ela faria as ações, mas assim como ela, conto com muitas outras pessoas que ajudam diretamente na continuidade do projeto, sendo tão importantes como os seguidores que nos apoiam nas redes sociais, compartilhando conteúdo, disseminando a iniciativa ou doando recursos que mantêm o projeto vivo.

Com o passar do tempo, a iniciativa foi aumentando e hoje ela também envolve a divulgação de autores e autoras independentes no nosso Facebook, resenhas de livros no nosso Twitter e artigos feitos por colunistas para alimentarem o nosso site - sim, nós até já temos um site - tudo para que as pessoas também sejam estimuladas a escrever.

Foto do instagram @leituranovagao da ação realizada no Terminal Barra Funda, em São Paulo.

Portanto, meus amigos, que tal aproveitar esse momento de sua vida, seja ele qual for, para se perguntar: “Quais atitudes devo prestar mais atenção?” ou "O que posso fazer para melhor os ambientes em que convivo?"

Faça com que sua vontade seja maior que as suas desculpas e compartilhe das recompensas.

***

Atualização: após o financiamento coletivo realizado pelo autor no segundo semestre de 2016, agora o projeto está dando um segundo passo e lançando o Clube do Leitura no Vagão.

A ideia é muito simples: você vira assinante do clube e recebe mensalmente dois livros diferentes, na porta de casa, de acordo com seu próprio gosto pessoal. Adicionalmente, no primeiro mês, você também recebe uma camiseta e um marca página personalizados. Mais importante do que tudo isso, porém, é o fato de você estar ajudando a manter o projeto de pé.

Para participar é só clicar nesse link que vai te redirecionar para a página onde você realiza a assinatura. Nós vemos sentido no projeto, apoiamos a causa e incentivamos você a fazer o mesmo.


publicado em 11 de Maio de 2016, 17:16
Fernando tremonti

Fernando Tremonti

Paulistano, palmeirense, desenvolvedor de softwares, eterno defensor da transformação social através da leitura e, consequentemente, fundador do projeto Leitura no Vagão. Me encontre no Twitter ou no Facebook.


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