Vivendo a bordo de um Iate

Festa, drogas e Rock’n Roll. Pelo menos para muitos essa é a imagem que tem da vida a bordo de Iates, barcos, cruzeiros - ou seja, comissários de bordo de todo tipo - uma festa sem fim.

Talvez, mas eu realmente moro num Iate e vou te contar como é.

Começando pelo mais importante.

Trabalho nunca falta

Para falar a verdade trabalha-se mais do que estando em terra firme. Mas a farra é intensa, até mesmo o tempo para descansar sempre é usado para a balada nos países desconhecidos onde estão ancorados.

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Essa turma acaba virando uma família

Primeiramente, viver com 20 (ou mais) em um local se torna a maior diversão de todas, rolam as discussões claro, mas a farra da galera sempre compensa. Quando a equipe toda sai de festa a bagunça é indescritível, e o melhor de tudo é que estamos em um novo porto a cada temporada e você acaba encontrando gente nova, quero dizer não só encontrando...

Minha roommate

Eu (acreditem ou não) dividia o quarto com uma garota linda de 24 anos e adivinha, namorada do sub-capitão. No entanto, era grande amiga minha, ela era a única mulher entre 22 tripulantes mas todos a respeitavam.

Sem contar que Charlotte que era Inglesa, lavava a roupa da tripulação, encolhia a roupa de todo mundo e como acontece em toda família, as meias sempre sumiam.

As regras do dia-a-dia

Quando se vive em um ambiente como esse com várias pessoas e muitas tarefas diárias, o trabalho precisa ser dividido em alguns setores e equipes:

1 – Deck

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Achou o quê, rapá? Que era vida de international playboy na manha. tsc tsc tsc

São os que trabalham na parte de fora do Yacht, limpando e tomando conta de todos os equipamentos que pertencem ao Yacht como Jetskis, chriscraft(barcos menores que são guardados dentro do Yacht), bicicletas, barcos salva-vidas e muitos outros equipamentos e materiais que encontra-se dentro de um Super Yacht

2 - Interior

São os que trabalham dentro do Yacht, tomando conta de todos os compartimentos e fazendo com que esteja sempre limpo e muito bem cuidado todo o tempo, envolve também em muitos casos servir café da manha, jantar e janta ao dono e seus convidados.

O comissário que trabalha no interior tem que estar sempre na ativa e ligado em oque o dono esta fazendo, muitas vezes ir fazer compras com os dono e seus convidados, claro que isso depende do barco em que trabalha e dos costumes e atividades do dono.

3 – Engenheiros

Como o nome já diz, cuidam de toda a parte mecânica do Yacht e qualquer outra parte que envolva eletrônica. Engenheiros têm o trabalho mais importante, mas ao mesmo tempo são os que fazem menos.

Eles têm direito ao um mínimo de 3 à 6 meses de férias paga por ano, por isso se quiser estudar algo que vai dar dinhreiro e poder desfrutar do dinheiro que ganha com férias e viajando de graça esse é o trabalho para se ter.

Modelo econômico? Esqueça.

Os Yachts maiores de 60 metros normalmente são construídos para milionáiros, ou mesmo bilionários. Para se ter uma idéia um Yacht como este gasta uma média de 10 milhões de dólares por ano para sua manutenção e algums são construídos para aluguel chegando até 2 milhões de dólares por uma senama de aluguel dependendo do modelo.

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Como pode ver acima, existem muitos outros barcos que também ficam ancorados no mesmo porto fora os portos que existem nas outras partes das cidades

Barcelona, Rússia, viagens e algumas histórias pra contar

Para quem já conhece Barcelona sabe que aquela cidade é muito boa e com portos que acomodam Iates e outros barcos no inverno e foi lá que passamos 3 meses esperando o inverno passar e claro quando o Yacht não esta navegando o dono não está abordo oque faz nossa a nossa vida muito mais fácil. Todos se tornam amigos e toda noite (sempre fora do Barco) a galera sai pra balada, e em qualquer cidade que estiverem é sempre uma festa.

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Nossa casa ancorada em Bilbao, na Espanha

Uma das cenas mais engraçadas na minha vida de viajante foi quando eu e um amigo voltávamos da balada, quando tropeçamos em algo perto do Iate, lá dentro do porto mesmo, no meio dos sacos de lixo.

Não demos muita atenção porque estávamos muito bêbados, mas depois não conseguíamos parar de rir, era um de nossos amigos, para ser bem preciso o chefe de cozinha que cozinhava para a tripulaçao do nosso Yacht. Tripulação esta que eram 22 pessoas de nacionalidades diferentes, ele estava lá, bêbado como um gambá dormindo abraçado com os sacos de lixo. O pior de tudo é que nós nem tiramos fotos, boiamos!

Quando estávamos na Rússia, St. Petersburg, me lembro que saí para beber com amigos, acabei me perdendo deles e fiquei - novamente - muito bêbado e sozinho.

Não fazia a menor idéia de como ir de volta ao barco, como normalmennte acontece se você está em um local que não conhece ainda mais com muita bebida na cabeça.

Estava literalmente na sarjeta e sem saber como ir embora, quando um entregador de jornal me achou e me colocou na perua para me levar para o Iate. Como o nosso era bem grande e acaba ficando conhecido na cidade, ele sabia onde me levar, mas fui entregue de volta ao barco pelo jornaleiro. Claro, nunca contei pra nimguém. Pelo menos até escrever esse texto.

Moral da História

Mas a vida lá fora é assim mesmo, quando pensamos que estamos na merda tem sempre alguém para ajudar e o jornaleiro para carregar.

No geral tudo que se vive tem um lado bom, nem que seja um lado bem obscuro, e a experiência é sempre uma virtude que ninguém vai tirar de você. Por isso viva e corra atrás dos seus sonhos, meu sonho era viajar o mundo, ainda não terminei mas aproveitei cada minuto até agora e tudo valeu a pena.

Como dizia Gonzaguinha: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz, e cantar a beleza de um eterno aprendiz...”


publicado em 17 de Dezembro de 2007, 10:52
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Rafael Girardi

Rafael Girardi é leitor da PapodeHomem, brasileiro e atualmente mora num Iate em plena Inglaterra. Qual será o próximo porto? Vai saber.


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