Ensinar o autocuidado aos meninos pode ser revolucionário.

A coordenadora de educação do Instituto Alana fala sobre as três instâncias de cuidar: de si, do outro e do espaço.

Pensar na transformação dos homens envolve olhar para o passado, presente e futuro: entender a trajetória que nos trouxe até aqui, revisar o como estamos exercendo nossas masculinidades hoje, no cotidiano, e formular que estrada queremos calçar daqui em diante.

Durante todo o processo de produção do nosso documentário "O silêncio dos homens", feito em parceria com Natura e Reserva, articulamos estas três instâncias, trazendo quem pudesse nos falar do passado e quem pudesse nos propor futuros possíveis.

Uma dessas pessoas foi a Raquel Franzim, coordenadora de educação do Instituto Alana, organização que promove o direito e o desenvolvimento integral da criança e ​fomenta​ novas formas de bem viver. A Raquel trouxe considerações muito ricas sobre como a educação infantil pode impactar na transformações das próximas gerações.

Juntar um ano de pesquisa em um filme de 50 minutos foi uma grande batalha de concisão (e de partir o coração). Para conseguir aprofundar em alguns temas do documentário, e aproveitar ao máximo as entrevistas que fizemos, estamos publicando estas vídeo pílulas em paralelo. (Veja os outros vídeos que já saíram)

As três instância de cuidar: de si, do outro e do espaço. 

Fone no ouvido? Aperte o play! 

Para ensinar cuidado, Raquel destaca a importância de educar pelo exemplo e de considerar as três instâncias: o cuidar de si, o cuidar dos que estão a sua volta e o cuidar do ambiente em que se vive.

"A escola deveria ser esse espaço de aprender a cuidar em três âmbitos, em três camadas." 

1. Cuidar de si

"A gente aprende a atender necessidades próprias atreladas a um tempo, a um espaço… Então eu aprendo que agora eu to com fome, que agora eu quero dormir, ou que agora eu quero descansar.

Aos meninos esse olhar para si ou fica sob a dominação da mulher: “agora você vai dormir, agora você vai comer..” Ou ele é pouco enxergado.

É como se esse menino não tivesse essa vida interior, essa vida de desejos, essa vida de necessidades que precisam ser atendidas.

Muitas vezes os meninos são os últimos a comer, a receber o prato de comida, porque a gente acha que eles aguentam mais. Eu to ensinando, pelo exemplo, esse menino se olhar pouco, ou a esperar muito, pra ter suas necessidades atendidas."

2. Cuidado entre pessoas

"Se o outro acha que eu sou forte, que eu dou conta, que eu consigo esperar, eu pouco também enxergo isso no outro. Então como é que eu aprendo a cuidar das pessoas, se eu não sou enxergado e se eu também não aprendo a enxergar o outro?

Dificilmente, então, eu cuido. Ou eu cuido do jeito que eu acho que é o suficiente."

3. Cuidar do espaço

"E o outro âmbito do aprender a cuidar é o cuidar do espaço. Numa última camada, seria cuidar do nosso planeta, que é uma casa comum.

Se ao longo da vida essa experiencia com o outro é tão circunscrita, se eu tenho poucas oportunidades de ter intimidade com o outro, como que eu desenvolvo vínculo? Com a cidade com a minha casa, com a família e com o planeta que a gente vive? 

Não à toa a gente vive uma crise dos cuidados que pode ser visto com todo este escalonamento."

 


publicado em 17 de Outubro de 2019, 16:06
Logo pdh png

Redação PdH

Mantemos nosso radar ligado para trazer a você notícias, conversas e ponderações que valham o seu tempo. Para mergulhar na toca do coelho e conhecer a visão editorial do PdH, venha por aqui.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura