É sabido por todos que o escritor de novelas Manoel Carlos, o popular “Maneco”, possui uma fórmula infalível, que sempre garante uma boa audiência quando a emissora coloca no ar um dos seus folhetins, se não vejamos:
- Núcleo rico na novela mora no Leblon;
- Núcleo rico ocupa mais de 70% do tempo da novela;
- Base da trilha sonora vem de clássicos da bossa nova;
- Cenas são intercaladas com imagens deslumbrantes do Rio;
- A personagem principal, Helena, sofre, mas se dá bem no final;
- José Mayer, por contrato, pega 3 ou mais mulheres por novela (Helena + 2);
- A casa de José Mayer possui empregadas uniformizadas impecavelmente;
- Não importa a hora que J. Mayer chegue em casa, sempre tem gelo tirado no balde.
Bom, seguindo essa linha clássica, o Maneco já emplacou vários sucessos. Na prática, ele reescreve a mesma novela várias vezes. Isso dá certo porque esse é o pedacinho do Brasil que todo mundo quer ver (eu me incluo). Afinal, como diria o filósofo e carnavalesco Joãozinho Trinta, “pobre gosta de luxo, quem gosta de pobreza é intelectual”.
Outra fórmula que vem dando certo, desta vez para filmes de longa metragem, está sendo aplicada por um outro gênio criativo, o escritor, diretor e ator Woody Allen. A fórmula se baseia em:
- Personagens americanos em viagens ao exterior;
- Cidades estrangeiras muito bonitas;
- Núcleo rico representa 100% do filme;
- Um ou mais personagem americano tem crise existencial;
- Um ou mais personagem americano se encanta pelo charme de uma pessoa local;
- As cenas são intercaladas (e filmadas) em locais turísticos com visual deslumbrante.
Juntando as duas tendências chegamos a um filme que já existe (apenas nunca foi filmado). Caso as fórmulas sejam mantidas, não tem como dar errado.
A Boraver pictures orgulhosamente apresenta:
Vicky, Cristina, Leblon
Pra que criar um filme do zero quando se pode fazer o mesmo filme em um outro local, trocando apenas algumas peças?
Sinopse: duas amigas em férias de verão no Rio de Janeiro se vêem encantadas pelo mesmo homem, um músico talentoso e sedutor, sem saber que sua ex-mulher, com quem ele teve uma relação tempestuosa, está prestes a entrar novamente na jogada.
Adaptação de roteiro: Manoel Carlos
Direção: Woody Allen
Atores:
- Vicky: Rebecca Hall
- Cristina: Scarlett Johansson
- João Antônio: José Mayer (quem mais?)
- Maria Helena: Luana Piovani
Cena marcante 01
Vicky e Cristina tomam sol na praia do Leblon (tomando mate e comendo biscoito Globo) quando são abordadas por João Antônio, que as convida para uma viagem a Angra dos Reis em sua lancha, que está esperando na Marina ao lado.
(J.A.) – Não pude deixar de reparar em vocês, gostaria de convidá-las para passar o fim de semana comigo na minha casa em Angra.
(Vicky) – E o que faríamos exatamente neste lugar, com um completo desconhecido como você?
(J.A.) – Poderíamos nos conhecer melhor, tomar boas caipirinhas, ouvir boa música, fazer sexo…
(Vicky) – E por que acha que nós faríamos sexo com você?
(J.A.) – Querida, eu sou José Mayer, meu contrato me dá o direito de pegar três mulheres por novela (filme, neste caso). Como só existem três personagens femininos relevantes nesse filme, o sexo é uma questão de tempo.
(Cristina) – Eu adoraria ir para Angra com você…
…corta para a cena de Zé Mayer dirigindo sua lancha entre as ilhotas de Angra dos Reis em dia de céu azul com Vicky e Cristina a tiracolo, ao som de “O barquinho vai, A tardinha cai“.
Cena Marcante 02
Cristina resolve comer sarapatel e passa mal, sendo obrigada a ficar de repouso e tomar soro.
Sozinha em Angra com João Antônio, Vicky não tem opção a não ser sair com ele, após várias caipirinhas e uma bela moqueca de camarão, João Antônio, sabendo da paixão de Vicky pela batida da bossa nova, a leva para um sarau e ambos se emocionam ao som de “Chega de Saudade“.
Todos sabem como acaba a cena.
Zé Mayer abre o placar!!!
Cena Marcante 03
A esta altura do filme Cristina já se tornou amante de João Antônio e se muda para sua cobertura no Leblon, onde é servida por empregadas uniformizadas e fica intrigada com o fato de que sempre tem gelo tirado no balde.
Cristina está encantada com seu novo amado, até que o telefone toca no meio da noite. Mayer sai de casa às pressas e volta trazendo Maria Helena, sua ex mulher. Piovani arma barraco pra cima de Cristina, que se sente intimidada e ameaçada pela ex-gostosona de Mayer.
Logo, porém, as duas se tornam amigas, mais que amigas, e surge um inesperado relacionamento a 3… Zé Mayer cumpre sua meta. A cena do primeiro beijo de Cristina e Maria Helena acontece ao som de “Ela é Carioca“.
Cena Marcante 04
Após Cristina pular fora do relacionamento, que termina acabando com cada um pro seu lado, Vicky é incentivada por sua anfitriã (Suzana Vieira), a investir novamente em João Antônio.
Tudo acaba em tragédia quando Maria Helena acerta 10 tiros de fuzil em Vicky (é moleque, Luana é caveira!!!).
Corta para imagens aéreas do Rio, e ao fundo se ouve “da janela vê-se o Corcovado, o Redentor que lindo“.
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