-- Meu nome é Ismael e eu sou brasileiro. Ao contrário de todo mundo que está aqui, eu sou um fã de Anderson Silva.
Esqueça Jon Jones, esqueça Chael Sonnen, esqueça Michael Bisping. Quem recebeu uma das primeiras vaias do final de semana do UFC 159, em Newark, Nova Jersey, fui eu, após a declaração aí de cima.
Poucas horas depois de ter aterrissado em Nova York a convite da TAM Viagens e da agência de turismo esportivo 4BTS, não me contive ao ouvir, durante a seção de perguntas e respostas que antecedem a pesagem do evento, fãs americanos – e um brasileiro com a camisa do Flamengo – se referirem a Chael Sonnen como ídolo e a Chris Weidman, próximo adversário de Anderson e o sabatinado daquela tarde, como o futuro campeão dos pesos médios.
Peguei o microfone e perguntei se Weidman concordava com as baixarias ditas pelo conterrâneo sobre o Brasil e a família do atual campeão ou se o arquétipo polemista era o tipo de homem que ele pretendia ser caso conquistasse o cinturão.
Recebi uma resposta evasiva, mas que resumiu a experiência que eu viveria ao acompanhar de perto um final de semana do evento de lutas que mais cresce no planeta.
“O UFC é sobre duas coisas: esporte e entretenimento”
Fanatismo, marketing e a barriga de Roy Nelson
A expectativa pela troca de golpes pode até ser o motivo que leva os espectadores até um evento como o UFC. Mas é o marketing bem feito – que inclui da distribuição de prêmios às sessões de fotos e autógrafos com lutadores da companhia (no fim de semana do evento 159, Ronda Rousey e Lyoto Machida foram alguns dos escolhidos para atender aos fãs) – que segura a maioria da audiência por lá.
Por exemplo: apesar de ser colocada em segundo plano na maior parte do tempo, a pesagem do UFC -- que em muitos pontos se assemelha a uma novela com um roteiro ruim – é fundamental para quem pretende viver integralmente o clima do evento.
Do momento em que saem detrás das cortinas até a encarada final, cada lutador assume o papel que tomou para si: o engraçado, o desencanado, o mocinho, o invencível, o malvado. Sim, eles são caricatos. E sim – por incrível que pareça – você compra a a ideia (Cody McKenzie conquistou o apoio da maior parte do nosso grupo só por que demonstrava estar muito pilhado para a luta do dia seguinte).
Com crachá VIP, eu já havia andado pelos bastidores do evento antes que os atletas subissem à balança. Vi o octógono ser montado, apertei um punhado de mãos e conversei pessoalmente com meia dúzia de lutadores – Weidman me contou que já tentou copiar o famoso chute frontal de Anderson Silva e ouvi, de Anthony Pettis, que ele adoraria repetir seu famoso chute cinematográfico no próximo mês de agosto, quando luta pelo cinturão dos penas com José Aldo, no Rio de Janeiro.
Mas regalias à parte, o que fez eu me sentir realmente no evento foi ver, a poucos metros de mim, o gordinho Roy Nelson desfilando orgulhosamente sua barriga (um contraste significativo com os músculos de seu oponente Cheick Kongo) e entender o quão idolatrado entre os americanos é Chael Sonnen.
O falastrão foi, de longe, o lutador mais ovacionado ao entrar no palco. Depois, quando passou a fazer seu discurso como desafiante, o autointitulado American Gangster teve cada um de seus bordões repetidos fervorosamente – inclusive ao meu lado. Alan, um policial da Lousiana que usava uma camisa do lutador, sabia de cor todas as frases ditas por seu do ídolo. Também acreditava – como demonstrou nos 20 minutos em que discutiu comigo sobre MMA com uma paixão que não devia em nada para o clubismo do nosso futebol – que Sonnen merecia ter ganho as duas lutas que perdeu para Anderson Silva.
A atmosfera foi mais que suficiente para que saísse ansioso pelas lutas do dia seguinte.
Socos, chutes e o poder do “ao vivo”
Qualquer fã de MMA que se preze que teve a chance de conferir a edição deste sábado, 27 de abril, sabe que o evento não foi um primor de técnicas ou emoção.
Não vou negar que eu queria mais.
Mas, apesar do festival de lutas mornas e interrompidas por dedo no olho, a experiência de assistir o UFC 159 foi algo sensacional.
Assim como acontece no futebol, você pode até ser capaz de conferir mais detalhes sobre uma luta do UFC sentado confortavelmente no sofá de sua sala. Mas, da mesma forma como acontece em relação ao futebol, esse não é o “jeito certo” de fazer a coisa toda. No combate eleito como a Luta da Noite, os carecas-barbudos Pat Healy e Jim Miller deram um show que só pôde ser apreciado por completo por quem compareceu ao Prudential Center na noite de ontem.
Quando dois caras entram em um ringue como em um campo de batalha, não existe tum, soc e pow.
Há o som abafado de um soco bem encaixado. O baque de uma joelhada contra o corpo. O impacto de uma queda que leva a luta para o chão. O barulho dos três tapas que indicam o fim da resistência a uma tentativa de finalização.
Energia, instinto e potência em estado puro. Primitivo?
Talvez. Mas definitivamente na melhor acepção possível para a palavra.
publicado em 28 de Abril de 2013, 14:14