Pense na última vez que você frequentou uma sala de aula. Pode ser no ensino médio ou na universidade. Agora tente lembrar quem eram seus amigos mais próximos naquela época. Salvo poucas exceções, provavelmente você era amigo dos que possuiam gostos semelhantes aos seus – dos que tinham o mesmo videogame, dos que iam à mesma balada, enfim, dos que tinham vidas semelhantes.
Há pouco tempo reencontrei um amigo que estudou na mesma escola que eu, mas era bem mais velho. Tentei fazer com que ele lembrasse quem eram os caras que estudaram comigo na mesma sala e eram da minha turma. Para todos os adjetivos e características que eu utilizava para identificar meus colegas, a resposta dele era a mesma: “Impossível lembrar. Vocês eram todos iguais”.

Natural, você poderia dizer. Limitante, eu diria. Pouco interagi com quem não compartilhavam trejeitos e gostos comigo. Não faço ideia de que fim levou a Melissa, menina da minha sala que eu não tinha lá muito contato. Nem se o Léo, cara estranho que queria ser ator, realmente entrou de cabeça nisso. Por quê?
Porque deixamos que façam parte do nosso mundo apenas aqueles que entrariam sem derrubar os móveis. Aqueles que proporiam saídas a lugares que já conhecemos, que não nos colocariam em uma situação desconfortável, na qual teríamos que desligar o piloto automático e mover nossas bundas devidamente acomodadas.
Nos definimos e mobiliamos de tal forma que o diferente chega a causar desconforto. Ao invés de móveis leves, estamos acostumados a pilastras. Verdades tão verdadeiras que fariam com que a casa desmoronasse caso quiséssemos mudar as coisas de lugar, mesmo que por pouco tempo.
É como diz o pedaço de tapume exposto na porta do QG: “A rotina é o hábito de se negar a pensar”.
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