Uma história do Baralho, do Truco ao Poker

Nunca pensei que por trás de algo simples como um baralho, pudesse existir tanta história e simbolismo.

Então, como a Revista Papo de Homem também é cultura, e muitos de nós apreciamos jogar truco, paciência, pôquer, buraco... enfim, aqui está a história e a evolução do baralho de cartas. Nada como jogar com conhecimento de causa.

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Olhe que beleza o visual dessas cartas antigas, com os cantos arredondados

As cartas de jogar surgiram no século 9, na China. Essas cartas chinesas antigas eram “cartas de dinheiro”, e tinham quatro naipes: moedas, filas de moedas, miríades de filas e dezenas de miríades. Eram representados por ideogramas com números de 2 a 9 nos três primeiros naipes e de 1-9 no naipe “dezenas de miríades”.

Por utilizar dinheiro nas figuras, foi sugerido que tais cartas podem ter sido papel-moeda. O design atual do jogo de Mahjong (uma espécie de dominó chinês) evoluiu dessas cartas.

Há controvérsias sobre a introdução das cartas na Europa. É provável que os precursores do baralho moderno tenham chegado através dos Mamelucos do Egito, no fim dos anos 1300. A forma do baralho já era bem semelhante ao atual, com quatro naipes (bastão de pólo, moedas, espadas e copos).

Cada naipe continha 10 cartas numeradas e três cartas da côrte: Rei, Vice-Rei e Deputado. As cartas mamelucas não mostravam figuras humanas nas cartas da côrte, mas faziam menção a oficiais militares.

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Perdeu, playboy!

No final do século 14, o uso do baralho rapidamente se espalhou pela Europa, comprovado por documentos advindos da época na Espanha, Suíça, Florença e Paris. Um livro de contabilidade de uma duquesa de Luxemburgo comprovava a compra de um baralho, com data de entrada de 14 de maio de 1379.

As cartas da época eram feitas à mão, praticamente esculpidas em alto relevo em blocos de madeira, o que as tornavam caras. Por sorte, não muito tempo depois ocorreu o advento da imprensa, por volta de 1400. Mesmo assim, as cartas esculpidas chegavam a competir com as imagens religiosas, como o uso mais comum da madeira.

Na Europa do século 15, os naipes variavam. Podiam chegar a ser cinco. Na Alemanha, eram copas, sinos, folhas e bolotas, e ainda são utilizados em alguns jogos até hoje. Na Itália e na Espanha, cartas do século 15 eram dos naipes espadas, batons, copos e moedas. O Tarô surgiu na Itália também no século 15.

Os quatro naipes de hoje

Os quatro naipes atuais - espadas, copas, ouros e paus - surgiram na França em aproximadamente 1480. O naipe de paus foi uma evolução da bolota alemã, assim como as espadas surgiram das folhas. As cartas da côrte também foram alteradas por volta desta época, para representar a sociedade européia.

Originalmente eram o Rei, o Cavaleiro e o “Knave” (Servo). A dama surgiu na Alemanha, onde as cartas eram Dama, Rei, Cavaleiro e Valete. Cartas feitas na cidade de Rouen, na França, tornaram-se então o padrão inglês, e cartas feitas em Paris viraram o padrão francês, isso por volta de 1500. No final, houve predominância do padrão parisiense.

Quem dá conta de fazer isso?
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Nos jogos antigos, o Rei era sempre a carta mais alta, mas com o tempo, uma significância maior foi colocada na carta mais baixa, a esta altura já chamada de Ás, que às vezes tornava-se a carta de mais alto valor, tornando o dois a mais baixa. Este conceito pode ter sido ajudado pela Revolução Francesa, onde o Ás assumiria o mais alto valor numa simbologia das classes inferiores atingindo maior importância que a realeza.

A marcação das cartas nos cantos veio a facilitar o manuseio, mas só se estabeleceu em definitivo no final do século 18. Nesta época, a carta da côrte com mais baixo valor era o Servo (“Knave”), com abreviatura “Kn”, o que gerava confusão com a abreviatura do Rei (“K”). Em um jogo da época chamado All-fours, o Knave era também apelidado de Jack, e com a confusão estabelecida com o uso de índices com abreviatura, mudou-se o nome do servo para “Jack” e a abreviatura para “J” (o nosso valete).

A isto seguiu-se a invenção das cartas reversíveis, na França, em 1745, por um fabricante local. Mas como o governo francês controlava o design das cartas, isso foi proibido. Mas nos outros locais da Europa e também nos EUA, a idéia acabou se espalhando. As cartas reversíveis vieram a diminuir a chance de alguém espiar o outro jogador invertendo uma carta para visualizar melhor, na tentativa de ver algo, pois agora não importava mais a posição da carta.

O coringa foi uma inovação americana. Alastrou-se para a Europa juntamente com o pôquer. Apesar da figura lembrar um bobo-da-corte, acredita-se que não exista relação, até pela origem distinta. Não são usados em muitos jogos, e frequentemente são utilizados como propaganda do logotipo do fabricante.

No século 20, com a invenção de um método para cobrir as cartas de papel com uma camada plastificada, este tipo de baralho tornou-se o dominante até os dias de hoje, com uma durabilidade acentuada. Cartas inteiramente feitas de plástico foram desenvolvidas, e duram ainda mais.

CURIOSIDADES:

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Truco na escola foi parte importante da educação de todos nós

- A crença popular que o baralho apresenta simbologia religiosa, astrológica e metafísica se embasa em alguns dados :
- 13 cartas por naipe, mesmo número de ciclos lunares em um ano
- Preto e vermelho simbolizam dia e noite
- 52 cartas no total (sem os coringas), representam o número de semanas em um ano
- 4 naipes correspondendo às 4 estações do ano
- Se todos os valores das cartas forem somados, mais um (que se atribui a um coringa solo), o resultado é 365, mesmo número de dias no ano.
- O Ás de espadas tem sempre design diferente e com o logo do fabricante. Isto começou no reinado de James I da Inglaterra, que fez uma lei obrigando a colocação de uma insígnia real na carta como prova de pagamento de uma taxa.
Até 1960 nos EUA, a marca no Às de espadas era prova de pagamento da tal taxa. Hoje em dia, o Às de espadas é uma espécie de garantia nos baralhos americanos. Se o seu baralho tiver algum defeito, basta mandar a(s) cartas defeituosas e o Às de espadas para o fabricante e ele te repõe.
- Os Valetes de Espadas, Copas e o Rei de Ouros são desenhados em perfil, ao contrário das outras cartas. São chamados de “one-eyed” (caolhos).
- O Rei de Copas é desenhado com uma espada atravessando por trás de sua cabeça e o machado do Rei de Ouros está atrás de sua cabeça, apontado para ele. Motivos pelos quais são chamados de “reis suicidas”.
- O Rei de Ouros é o único armado com um machado, todos os outros reis têm espadas. Alguns o chamam de “o cara com o machado”.
- A Dama de Espadas é a única que segura um cetro, as outras seguram flores.
- O Rei de Copas é o único rei sem bigode. Isto é atribuído a falha na impressão dos baralhos mais antigos, pois acredita-se que originalmente ele teria bigode.
- Designs mais antigos e outros diferentes ainda predominam em certas regiões européias como Alemanha, Hungria, Espanha, Itália e Romênia.

publicado em 14 de Agosto de 2007, 20:15
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Mauricio Garcia

Flamenguista ortodoxo, toca bateria e ama cerveja e mulher (nessa ordem). Nas horas vagas, é médico e o nosso grande Dr. Health.


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