Uma batalha doentia

Acordei um pouco mais cedo que o costume na última segunda-feira. O ar condicionado em temperatura mínima durante a noite trouxe uma forte gripe. Meio zumbi, demorei a me aprontar e cheguei ao escritório atrasado. No rosto uma clara expressão de gente doente.

Trabalho em local muito movimentado. Onde homens engravatados correm de um lado para o outro com papéis na mão. E onde há corredores. Sabe-se lá por que, corredores são os locais onde mais gostamos de ficar para procrastinar com uma xícara de café. É inevitável parar e trocar aquela conversa clichê de cada dia.

Mas quando tem uma gripe, a conversa fica diferente.

"Ok, agora vamos falar de mim"

—  Bom dia, Lisandro. Tudo bem? Tá com uma cara estranha, o que foi? – Me abordou, logo na copa, o colega de trabalho.

—  Opa, bom dia. Pois é, tô com uma gripe chata, baita dor de cabeça.

Foram três segundos de silêncio, um olhar estranho e uma tomada de fôlego.

—  Ah, é? Pois ontem eu estava com uma dor de cabeça gigantesca, nenhum remédio deu jeito.

Acho que desafiei. E fui desafiado.

—  Mas minha dor de cabeça ainda tá muito forte, acho que o nariz entupido piora, to até meio tonto. — Respondi resignado.

—  Eu tenho enxaqueca nível 5. — Respondeu o colega, cheio de orgulho.

Confesso que gaguejei, mas fui firme.

—  O médico me disse que nem remédio de enxaqueca resolve pra mim, pra piorar to com suspeita de estar com dengue.

—  Já tive dengue hemorrágica! — Elevou um pouco o tom da voz.

Nesse momento os que estavam conversando na bancada da copa observavam a situação e tinham algo diferente pra acompanhar o cafezinho.

“E agora?”, pensei aflito.

—  Acho que to com pneumonia… — Rebati.

—  Perdi meu pai por causa de pneumonia mês passado, acredita? — Devolveu prontamente.

—  Bah, que pena hein. Meus pêsames.

—  Obrigado.

O filho da puta era bom.


publicado em 27 de Janeiro de 2012, 12:41
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Lisandro Castro

Lisandro de Castro é um reclamador nato e questionador de coisas óbvias. Costuma ser mais sincero do que as pessoas desejam e leva uma vida bem clichê. Cresceu ouvindo piadas nada criativas sobre baixinhos e gaúchos.


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