Acordei um pouco mais cedo que o costume na última segunda-feira. O ar condicionado em temperatura mínima durante a noite trouxe uma forte gripe. Meio zumbi, demorei a me aprontar e cheguei ao escritório atrasado. No rosto uma clara expressão de gente doente.
Trabalho em local muito movimentado. Onde homens engravatados correm de um lado para o outro com papéis na mão. E onde há corredores. Sabe-se lá por que, corredores são os locais onde mais gostamos de ficar para procrastinar com uma xícara de café. É inevitável parar e trocar aquela conversa clichê de cada dia.
Mas quando tem uma gripe, a conversa fica diferente.

— Bom dia, Lisandro. Tudo bem? Tá com uma cara estranha, o que foi? – Me abordou, logo na copa, o colega de trabalho.
— Opa, bom dia. Pois é, tô com uma gripe chata, baita dor de cabeça.
Foram três segundos de silêncio, um olhar estranho e uma tomada de fôlego.
— Ah, é? Pois ontem eu estava com uma dor de cabeça gigantesca, nenhum remédio deu jeito.
Acho que desafiei. E fui desafiado.
— Mas minha dor de cabeça ainda tá muito forte, acho que o nariz entupido piora, to até meio tonto. — Respondi resignado.
— Eu tenho enxaqueca nível 5. — Respondeu o colega, cheio de orgulho.
Confesso que gaguejei, mas fui firme.
— O médico me disse que nem remédio de enxaqueca resolve pra mim, pra piorar to com suspeita de estar com dengue.
— Já tive dengue hemorrágica! — Elevou um pouco o tom da voz.
Nesse momento os que estavam conversando na bancada da copa observavam a situação e tinham algo diferente pra acompanhar o cafezinho.
“E agora?”, pensei aflito.
— Acho que to com pneumonia… — Rebati.
— Perdi meu pai por causa de pneumonia mês passado, acredita? — Devolveu prontamente.
— Bah, que pena hein. Meus pêsames.
— Obrigado.
O filho da puta era bom.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.