Um escritor viciado, confuso, triste, egoísta, preguiçoso, ruim e mal-intencionado

Faça outra coisa ou simplesmente encare os fatos

Às vezes a gente é só o que tem de pior em nós. Hoje eu me peguei com o olhar perdido pela janela. Um olhar embaçado pelas minhas lágrimas numa janela embaçada pelo calor do meu rosto. Daquela janela eu vi passar vinte carros e um caminhão. Dois pássaros e um avião. Uma senhorinha e um camaleão. Um velho amigo e um tubarão. No movimento de um desses objetos ou no olhar de uma dessas criaturas eu me imaginei do outro lado.

Aqui do lado de dentro tudo era mais ou menos bonito e organizado. A sala estava limpa, os livros estavam no seu lugar, a mesa estava posta. Do lado de fora, era só uma janela no meio de uma parede cinzenta. Um parede no meio dessa tarde cinzenta. Tarde de um dia triste.

Que ironia. Do lado de fora parecia pior do que do lado de dentro. Justamente o contrário de como eu estava me sentindo. Então resolvi parar. Aquela situação representava justamente o oposto da realidade. Vou fazer outra coisa ou simplesmente encarar os fatos. Acho melhor eu fazer outra coisa. Essa fossa já deu.

Vou confessar pra você, meu amigo. Escritores, assim como outros artistas, mesmo que não sejam exatamente artistas, mas jornalistas, têm uma mania. Tudo que acontece na vida é motivo para um texto. Se hoje o sol nasceu, vou fazer um texto. Se hoje nublou, vou fazer um texto. Se estou feliz, vou fazer um texto. Se fiquei triste, aí pronto, quem sabe faço até mais do que um texto.

Eu sinceramente não sei se quero parar ou aproveitar esse vício. Toda vez que encaro essa situação é difícil. O pensamento vem rápido como um míssil. Eu peço pra ele parar com isso, mas ele vem sem compromisso e, quando paro pra ver, já estou no quinto parágrafo.

Vou ser sincero, você provavelmente tá perdendo seu tempo, leitor. Porque só quem tem autonomia sobre onde esse texto vai parar sou eu, o autor. E no estado que eu me encontro, provavelmente não estou apto a ser um bom condutor. Vou acabar te conduzindo pra uma cilada quando você perceber que só estou te usando pra compartilhar minha dor.

Tudo bem, eu vou tentar ser um bom anfitrião, usar melhor a razão e decidir que aqui você não vai mais ver tristeza. Chegou a hora de jogar fora esse rascunho, afinal isso não passa do testemunho escrito a próprio punho de alguém que não vai dizer nada de útil.

Mudei de ideia, melhor encarar os fatos e ver o que eu preciso fazer. Deixa eu ver aqui. O que tenho pra fazer hoje? Um texto?

Tá aí.


publicado em 18 de Janeiro de 2016, 20:33
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Breno França

Editor do PapodeHomem, é formado em jornalismo pela ECA-USP onde administrou a Jornalismo Júnior, organizou campeonatos da ECAtlética e presidiu o JUCA. Siga ele no Facebook e comente Brenão.


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