No que se trata do Regime Militar no Brasil, o nome de Sérgio Fleury é um dos com a maior ficha corrida. Ex-delegado do DOPS em São Paulo, Fleury ficou notoriamente conhecido pela capacidade em empilhar processos do Ministério Público. A maioria com o mesmo argumento: tortura.
Entre as participações efetivas e mais divulgadas de Fleury em missões, estão a tentativa de captura e morte de Carlos Marighella – ícone da esquerda revolucionária – e participação da Chacina da Lapa. Contudo, um importante capítulo da história brasileira destaca-se entre os , assim considerados na época, trunfos do militar: a chefia do supremo de interrogação de São Paulo durante o interrogatório [sic] de Vladimir Herzog, ex-diretor de jornalismo da TV Cultura e símbolo de resistência da imprensa da época.
A versão militar diz que Vladimir se enforcou na cela – como mostra a histórica e tão demasiadamente republicada imagem. Argumento que nunca convenceu, entre tantos, o ex-governador de São Paulo na época, Paulo Egydio Martins. Em entrevista ao programa Dossiê Globo News, Egydio defende que Vladimir foi assassinado pelo grupo liderado por Fleury. “Maquiou-se um suicídio (de Herzog), não houve suicídio, ele foi assassinado dentro das dependências do 2º Exército na rua Tutóia, em São Paulo”. Segundo o ex-governador, a morte do jornalista tinha como pano de fundo uma briga entre facções do Exército brasileiro à época: a Linha Dura e a Linha Branda, lideradas, respectivamente, pelos generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.
Dezesseis dias antes da morte de Vladimir, na Assembléia Legistlativa de São Paulo, um então deputado da Arena pediu a palavra.
Cético, esse político prestou a oportunidade para tecer palavras de homenagens e elogios aos serviços prestados pelo delegado Sérgio Fleury e seu bando.
Fez mais. Engrossou denúncias contra comunistas e apontou a TV Cultura (já um canal do Estado) como uma emissora perigosa. E, mantendo o seu estilo agressivo e anti-comunistas, defendeu investigações mais árduas e atitudes de repressão a quem seguia uma doutrina anti-militar.
Esse discurso é tido como o maior incentivo para investigação, tortura e assassinato de Vladimir – mesmo com o jornalista tendo se dirigido ao orgão para um interrogatório sobre suas atividades “ilegais”. O assassinato de Herzog tornou-se central no movimento pela restauração da democracia no Brasil, sendo considerado, por muitos, um dos maiores símbolos da luta pela liberdade e justiça em nosso país.
Mas a justiça é só para alguns. O tal deputado caçador de comunistas seguiu sua vida pública. Foi vice-governador de São Paulo quando Paulo Maluf foi apontado governador biônico por São Paulo, em 1979. Exerceu o cargo de governador por dez meses, em virtude da desincompatibilização de Paulo Maluf. No ano de 1985 foi um dos principais coordenadores da vitoriosa campanha de Jânio Quadros à prefeitura de São Paulo. Parou aí.
Não teve mais sucesso político. Decidiu investir em outra paixão que já praticava desde 1982, na Federação Paulista: o futebol.
Deu certo.
Estamos falando de José Maria Marin: o presidente da Confederação Brasileira de Futebol.
É esse o filhote da Ditadura, assim como tantos outros, que administra o futebol brasileiro. Curiosamente, sucessor de Ricardo Teixeira, dono de um mandato recheado de coronelismo e pouquísimo democrático. Com um – maléfico – diferencial: foi o dedo duro no caso Herzog.
E é por isso, como já destacado pelo jornalista Juca Kfouri, que você jamais verá a presidente Dilma recebendo Marin.
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