Quando você mora em algum lugar há muito tempo, acaba não visitando os pontos turísticos dele. É aquela velha história do “um dia eu vou”.

Eu já morava no Japão havia 10 anos e ainda não tinha visitado Hiroshima. Era meia noite de sexta pra sábado e eu estava trabalhando. No intervalo mandei um SMS pro meu amigo, Marcelo.

Eu: Cara, vamos pra Hiroshima?
Ele: Quando?
Eu: Amanhã cedo!
Ele: Ok, mas fazer o que lá?
Eu: Comer um Big Mac.
Ele: Ok!

Saí do trabalho às 2 da manhã, tirei um cochilo, me arrumei e fui pra estação. Encontrei o Marcelo lá e pegamos o Shikansen (Nome do trem bala do Japão).

Mesmo de Shikansen foi uma longa viagem. De Hamamatsu (onde eu morava) até Hiroshima são 550km. Pegamos o Shikansen e depois de 3 horas – que pareceram 15, pois entre Kobe e Hiroshima só tem túneis, o que faz a viagem ficar bem chata – chegamos em Hiroshima. Meu primeiro pensamento depois de sair da estação foi: que merda! Só vi escritórios e montanha!

Caminho de Hiroshima, foto tirada de dentro do trem bala

Entramos de novo na estação e ficamos pensando no que fazer. O Marcelo, que tinha estudado em Osaka quando criança, disse que tinha um museu, no Memorial da Paz. Fomos até o guichê de informações e a japonesa, muito atenciosa, nos deu um guia e disse pra sairmos do outro lado da estação e pegarmos um bonde (na verdade descobrimos que era um bonde depois, pois nenhum de nós sabíamos como se falava “bonde” em japonês).

Descemos as escadas, saímos da estação e veio a surpresa: Hiroshima é enorme e muito foda!

Por causa das montanhas do lado norte da estação, tem poucas construções. Mas do lado sul foi pra onde a cidade cresceu. Pegamos o bonde e uma coisa que não deu para deixar de reparar foi a quantidade de estrangeiros.

As pessoas eram muito simpáticas e em nenhum momento alguém foi mal educado conosco. Até mesmo conversamos com uma americana que fazia intercâmbio por lá e ela disse que achava isso legal também e, inclusive, que o povo de lá sabia que ela não tinha culpa do atentado durante a Segunda Guerra.

Chegando no Heiwa Kinen Park (Parque do Memorial da Paz), logo vimos a cúpula. Foi o único prédio que restou depois do atentado e em volta dele foram construídos espaços recreativos e o museu. Sem contar claro, com a enorme área verde no meio da cidade.

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Memorial da Paz, em Hiroshima

Depois de um breve passeio pelo parque, fomos até o museu. A entrada tem valor simbólico e você pode alugar aparelhos com fones, que explicam o que cada área do museu mostra, inclusive em português.

Dentro do museu, relógio mostrando o momento exato do impacto da bomba

Depois, paramos em um restaurante pra comer e ficamos observando o movimento de centenas de pessoas na rua, como qualquer outra metrópole. E nem parecia que ali, alguns anos atrás, centenas de milhares de pessoas morreram e outros milhares ainda vivem as consequências disso.

Decidimos voltar caminhando até a estação de trem – eram só 2km de distância. No caminho, fomos parados por um angolano (que jurava ser americano) vendendo roupas estilo “Hip-Hop” e falou pra ficarmos na cidade, que de noite iria ter um show de rap japonês. Segundo ele, o Hip-Hop é bem popular por lá.

Um pouco antes de chegar na estação, atravessamos a ponte e tivemos uma última surpresa, um barco-casa no rio.

Casa-barco-bizarra. Até hoje não sei o que é isso

Eram quase 18hrs e tínhamos que voltar. Depois de mais 3 horas de Shinkansen, chegamos em Hamamatsu e de Hiroshima só ficou saudades.

E nós nem comemos o Big Mac.

Nota do editor: Mandem seus relatos para as próximas edições do Na Estrada

Queremos mais histórias viscerais, queremos ver vocês saindo da cadeira e rodando por aí. Queremos saber das trilhas, escaladas, caminhadas, comidas exóticas, animais selvagens e tudo mais que vocês ousarem desbravar em suas expedições. Queremos inspirar vocês.

Instruções para envio:

  • O e-mail é [email protected]
  • Faça um contexto rápido, contando quem estava lá, onde e quando foi a aventura
  • Escrevam textos curtos, concisos, contando o melhor, como se estivessem narrando os feitos para um amigo
  • Não esqueçam de ler as orientações para novos autores
  • Inclua as fotos mais descaralhantes da aventura; se tiver vídeo, mande também

Vamos sentir a qualidade e quantidade dos relatos para decidir a frequência da série. Relatos fracos serão negados, já avisamos pra ninguém ficar tristonho. Além do que, mais importante do que ter a história publicada na web é ter vivido tudo na pele.

Até breve!

Daniel Oshiro

Mochileiro, maloqueiro, ga-ga-ga-gago.