Momentos quentes se passam nos mundo. Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e Ásia central. Aqui no Brasil também. Ondas de conservadorismo se formando sob o medo do desconhecido. A questão, atualmente, fica por conta da visão reducionista que se tem de termos como “Islamismo” e “árabes”. Os recentes eventos de terrorismo na América do norte e na França, os conflitos armados em países como Síria e Iraque. Ora, temos um pré-candidato a presidência estadunidense que quer impedir que muçulmanos entrem no país e jura de pés juntos que construirá, se for eleito, um muro para separar sua “grande nação” do país de baixo, o México.

Por aqui, bem, o recente medo é o mesmo que se tinha na época em que se passa o filme que nesta crítica será discutido. Dos comunistas.

Em Trumbo – Lista Negra, temos a ação e consequências das baboseiras do macartismo no meio do século passado, a perseguição aos “subversivos” e “traidores” no ferver da Guerra Fria. Dalton Trumbo foi um prestigiado escritor e roteirista que, no final dos anos 40, fez parte do chamado Hollywood 10, ou “os dez de Hollywood”, profissionais da indústria do cinema que foram intimados pelo governo dos EUA – que naquela época instaurou comissões para descobrir se comunistas estavam infiltrados no país – e se recusaram a responder questões sobre seus ideais políticos. Por anos eles foram “banidos” do entretenimento e entraram para a lista negra de pessoas non gratas no entretenimento, para que os “ideais americanos” fossem preservados contra as artimanhas vermelhas dos comunistas.

Isso por si só já é uma senhora analogia a ser absorvida por quem vá assistir ao filme. Uma época conturbada e cega em que pessoas eram presas e apartadas de seus mundos por, como bem disse o Louie C.K. em entrevista, “irem a uma reunião”. Hoje, pessoas passam por situações pesadíssimas por serem de determinado lugar, por terem determinada fé, por terem características físicas que remetem ao cara que ordenou o choque de aeronaves contra edifícios e se escondeu em cavernas por dez anos. A comparação pode ser feita também entre as personagens que apoiam e se engajam nessa caça às bruxas com quem, hoje, esquece de qualquer decoro democrático para sustentar suas opiniões sociais e políticas, essa polarização chata para cacete que hoje dá o tom de qualquer discussão.

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“Nós dois temos o direito de estar errados”

– Dalton Trumbo.

Enquanto Trumbo trata de incertezas, a afirmação que podemos fazer é da atuação de Bryan Cranston. A minha ideia particular era a de tentar afastar o máximo qualquer comparação com seu personagem mais famoso, mas sua atuação convence tanto e tão rápido que me poupou esse esforço. A maneira teatral com que Dalton se portava, desde sua oratória dramática em conversas de bar até sua espalhafatosa maneira de se irritar na banheira em que costumava reler e remontar seus roteiros nos é dada com facilidade. Uma delícia de acompanhar. 

Enfim, Trumbo tem um baita elenco, um trabalho muito bem construído do diretor Jay Roach, conhecido por comédias como Austin Powers e Entrando numa Fria, e um recado muito bem dado: não seja babaca hoje como as pessoas foram lá no passado.

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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados