Troll e o legado da miséria de espírito

No futuro, quando arqueólogos e escafandristas procurarem vestígios da nossa civilização – nossos filhos já não estarão aqui, assim como os filhos deles e os frutos destes –, serão encontrados mais do que ossos e pedaços de pano puído, placas-mãe enferrujadas e resquícios de smartphones. Acharão, no meio do nosso legado de bytes brutalmente construído neste começo de século, os comentários que deixamos por aí quando vestidos das armas do troll.

No vídeo do garoto de 17 anos que descobre ter pouco tempo de vida e deseja apenas se despedir dos entes amados, lerão “cale a boca e se mate”. Naquele dos quadrigêmeos que riem de maneira deliciosa, verão os 149 dislikes. No vídeo dos irmãos negros que cantam música gospel e desafinam e gritam e riem e se divertem, reconhecerão todo o preconceito ainda em voga na frase “quem acha que o garoto parece um macaco dá joinha”.

Os tais arqueólogos e escafandristas irão sorrir. Estarão satisfeitos com a extinção da nossa civilização.


publicado em 08 de Maio de 2012, 20:21
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Rodolfo Viana

É jornalista. Torce para o Marília Atlético Clube. Gosta quando tira a carta “Conquiste 24 territórios à sua escolha, com pelo menos dois exércitos em cada”. Curte tocar Kenny G fazendo sons com a boca. Já fez brotar um pé de feijão de um pote com algodão. Tem 1,75 de miopia. Bebe para passar o tempo. [Twitter | Facebook]


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