Arrisco dizer que, depois da novela e do rádio, o cinema é uma das formas mais populares de consumir fantasia. Que a gente precisa da ficção pra olhar o mundo e se ver, já sabemos, e sempre damos nosso jeitinho de grudar os olhos numa história contada por imagens.
Há uma espécie de fascínio em ser um outro alguém e, estático na poltrona ou no sofá, é fantástico o quanto se amplifica a nossa capacidade de empatia: ficamos à flor da pele desse outro alguém que não habita o mesmo chão que nós.
Não saberia afirmar o porquê, mas ouso questionar: é mais fácil relacionar-se e colocar-se no lugar de quem, por não ser inteiro, mas ficcional, pode ser construído tal como desejamos?
Parece mesmo mais complicado transpor-se para alguém de carne e osso que carrega tantas marcas que nos incomodam, afinal. Mas é bonito quando isso acontece.
Hoje estreiam, aqui em São Paulo, três promissoras mostras de cinema: a 39ª mostra internacional de São Paulo, Vivo Open Air e a Retrospectiva Jean-Luc Cinèma Godard.
Como uma espécie de convite, selecionei alguns filmes que prometem uma boa experiência e vale assistí-los nas mostras ou no sofá. Mas chame companhia e se conecte também com quem sentou ao seu lado.
39ª mostra internacional de cinema de São Paulo
Girls Lost
O filme sueco conta a história de três amigas adolescentes que descobrem o néctar de uma flor que tem o poder de transformá-las, temporariamente, em meninos. Duas delas apenas se divertem com a diferença, mas Kim parece gostar muito da experiência.
Pode valer a reflexão sobre os nossos comportamentos enquanto homens e mulheres no mundo.
Aeróbica – uma história de amor
A história aqui é de Maria, uma mulher deficiente que se envolve romanticamente com Jeanne, abandonado por sua ex-esposa e vivendo do seguro-desemprego. Como se dá o envolvimento entre pessoas tão diferentes?
Esse também é sueco.
Chronic

O longa francês perpassa pela vida de David, um enfermeiro de pacientes terminais.
O destaque pra esse vai pelo prêmio de melhor roteiro ganho no Festival de Cannes.
Matriarcado
O filme grego reúne sessenta mulheres que constroem juntas uma comunidade com a intenção de redefinir e discutir seu lugar no mundo.
A produção parece vir em boa hora de discussão de gênero.
Sob nuvens elétricas

O longa olha pra Rússia de 2017, cem anos depois da Revolução, e encontra, mais uma vez, um país e um mundo às beiras da guerra.
Não sei se tão futurista assim, a história parece promissora e assustadoramente passível de realidade.
Vivo Open Air
O Iluminado
A história do clássico de Kubrick já é repertório cultural básico: quando uma família vai para um hotel isolado no inverno, o pai é dominado por energias demoníacas e violentas e seu filho medium começa a ver cenas horríveis.
Vale assistir de novo na companhia de alguém que se possa abraçar e aproveitar o céu estrelado, já que as sessões da mostra acontecem ao ar livre.
Divertida Mente
O longa, que estreou nos cinemas não há muito tempo, é uma animação infantil que tem muito a oferecer pra nós, marmanjos.
Dentro da mente da protagonista Riley vivem diversas emoções – a Raiva, o Medo e a líder Alegria, que tenta dominar e garantir que Riley seja uma menina feliz. O que nem sempre é fácil.
Whiplash
O longa americano indicado ao Oscar 2015 por Melhor Filme acabou levando só o prêmio de Melhor Mixagem de Som. Mas era o meu favorito.
Conta a história de Andrew, um baterista estudante de música que não abre mão do seu desejo de ser o melhor. Quando encontra o professor Fletcher, esse sonho parece mais próximo, assim como o descontrole e o desequilíbrio em sua vida.
Retrospectiva Jean-Luc Cinèma Godard
Alphaville
A Alphaville de Godard é uma cidade futurística que vive sob a tirania de uma computador. Quando Natacha von Braun desaparece por lá, um agente secreto americano é enviado pra resgatá-la e salvar o lugar do regime autoritário da máquina.
Nouvelle Vague, futurismo e Godard, no mínimo, despertam curiosidade.
Duas ou três coisas que eu sei dela

Pela ótica de Juliette, uma prostituta e dona de casa, Godard explora Paris e seu estilo de vida nos anos 60. No título, ‘ela’ é Juliette mas também a própria cidade cosmopolita.
Clássico.
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