Se a gente pegar um fim de semana de promoção, já dá pra comprar uma passagem pro Rio ou pra Brasília por alguns cem reais. Às vezes tem saldão pra Miami e aí é grande o número de gravidinhas programando o enxoval comprado lá – se bem que, com o dólar nas alturas que está, não sei se anda valendo a pena.

A questão é que se você e eu estamos conectados a uma banda larga suficiente pra carregar esse site e sentados confortavelmente em uma poltrona ou sofá enquanto lemos, as chances de que já tenhamos voado são grandes.

Infelizmente, ao contrário do que disseram há uns tempos, aeroporto ainda não é rodoviária e muita gente não sabe como é que as aeromoças ditam as instruções ou como a voz delas é bonita falando inglês, nem que, em caso de despressurização, caem aquelas máscaras estranhas e dignas de filme de terror pra gente por no rosto. O fato é que nem todo mundo já esteve dentro de um avião.

Caso perguntemos a torto e a direito por aí, muitas dessas pessoas dirão que voar é um sonho. E ainda bem que Bahadur Chand Gupta, um engenheiro aeronáutico aposentado, se preocupou com isso.

O indiano resolveu comprar uma aeronave não mais operante pra proporcionar a experiência de voo pra um sem número de pessoas, principalmente crianças, que gostariam muito de vivê-la, mas não têm o dinheiro necessário.

O avião está fixo, e todos os dias há uma fila de curiosos que pagam preços simbólicos pra embarcar, passar o cinto sobre o corpo nas poltronas, conhecer aeromoças e comer até lanchinho de bordo. Alguns sortudos ainda entram na cabine do piloto, onde Gupta explica, com muito carinho, os comandos.

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Ele cobra de acordo com o que as pessoas podem pagar e os mais pobres não pagam. A intenção nunca foi lucrar e ganhar dinheiro com o negócio, e o sustento tem vindo de uma fonte que não estava prevista: companhias aéreas querem treinar seus comissários de bordo antes de colocá-los em serviço, e pagam muito bem pra que Gupta as deixe praticar no seu avião.

Gupta diz que assim as coisas caminham, e que nunca precisou pedir dinheiro emprestado. É bonita a sua fala: “Sinto-me plenamente satisfeito com a minha vida”.

Se durante a época em que somos considerados produtivos, em idade de trabalho, as frustrações vêm em ondas e vez e outra sentimos que fazemos pouco com nosso tempo, o engenheiro aposentado vem inspirar – calma, cara, ainda dá tempo.

E as crianças seguem esperando o dia em que aeroporto vai virar rodoviária e elas vão complementar a experiência com o friozinho na barriga que só uma decolagem dá.

 

Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.