Todo mundo generaliza

“Todo político é ladrão, os policiais são todos corruptos e brasileiro é tudo malandro.”

Quantas vezes você já ouviu ou falou pelo menos uma dessas frases? Mas quantas vezes você já parou para pensar que o real valor de qualquer uma delas é, na verdade, zero?

Essa foi a primeira imagem de "político" que apareceu no Google. Senso comum ultrapassando a verdade comum

Com genial sagacidade, Nelson Rodrigues, ainda no seu tempo, já falava que “toda unanimidade é burra”. E é exatamente esse o ponto. Quando generalizamos, deixamos nossa ignorância falar mais alto do que a nossa capacidade de construir um argumento. Por isso, quando falamos que mulher só pensa em dinheiro ou que já não se faz música como antigamente estamos apenas jogando palavras ao vento.

Generalizar é um costume, é o mais fácil. Mas concordo que é difícil largar mão do pensamento raso sobre alguma coisa. Podemos até saber que tem um policial fazendo um bom trabalho na delegacia do nosso bairro, mas ainda descemos a lenha na polícia inteira quando vemos um PM aceitando um trocado para o chopp.

Problemas existem em qualquer lugar, com qualquer instituição e com qualquer pessoa. Mas quando você generaliza, você fecha os olhos para oportunidades. Você acaba não dando chance para descobrir coisas, pessoas e lugares que ainda não conhece.

Quando generalizamos, damos voz ao nosso desconhecimento. Um bom exemplo disso é quando algum gringo desinformado me fala que o Brasil é um país violento porque ouviu que um amigo do vizinho dele foi assaltado no Rio de Janeiro. Geralmente respondo que qualquer cidade no mundo pode ser perigosa para turistas, dependendo de onde você vai e o quão otário você é. Eu, por exemplo, vivi em bairros não muito bons em São Paulo a maior parte da minha vida e nunca tive problemas, mas, quando me mudei para a Inglaterra, em menos de um mês tive minha bicicleta roubada e ainda fui obrigado a correr atrás de um maluco na rua que tentou roubar minha mochila.

Generalizar é um jeito fácil de limpar nossa barra e de nos abster da responsabilidade dos fatos que estão na nossa cara. Assumindo posturas do tipo “se politico nenhum presta mesmo, por que eu vou me preocupar?” viramos as costas para a raíz dos nossos problemas e jogamos a batata para o colo de ninguém. Em vez de pensar numa solução, preferimos sair por aí divagando achismos baseados em ideias e argumentos que não temos.

Essa foi a primeira imagem dada pelo Google para "muçulmano". Parece que o mundo molda a sua própria verdade

Pessoalmente, acredito que a generalização – tanto a expressa verbalmente quanto a ideológica - é a origem de grande parte dos mal-entendidos que vemos por aí. É aquele tipo de postura que pode evoluir para a intolerância, preconceito e discriminação.

Livrar-se dos clichês inventados pelos outros é uma das maneiras excitantes de se aprender, de se conhecer o mundo e, por consequência, se tornar um homem melhor. Mas, quanto a esse assunto, aguardo a opinião diversa dos leitores PdH, porque o problema começa mesmo quanto todo mundo aqui concordar que toda a unanimidade é burra.


publicado em 20 de Setembro de 2011, 10:13
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Thiago Rocha Kiwi

É nosso correspondente em Londres. Jornalista, nascido e criado na selva paulistana, gosta das oportunidades desafiadoras. Apaixonado por informação e conhecimento, enxerga o trabalho como uma forma de evolução e a internet como revolução. No Twitter, @thiagokiwi.


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