Kurt Cobain (o falecido líder do falecido Nirvana) frequentemente desabafava sobre a tristeza (e o tédio) que os shows lhe causavam. O guitarrista reclamava do tamanho dos concertos da sua banda, da distância entre público e artista e sobre a falsidade mútua que havia nas apresentações: ele, que não se divertia mais e não queria tocar músicas consideradas obrigatórias, e eles (os fãs), que não sabiam participar do ritual de celebração do rock’n roll (conforme a linha de pensamento do ex-vocalista) e apareciam nos shows com o intuito de ouvir os hits e participar de um evento social. Jack White sabe disso e faz de tudo – literalmente – para que a diversão não acabe.
Dizer que Jack é um workaholic do rock é um clichê equivocado, porém indispensável. Indispensável porque ele realmente está em vários lugares ao mesmo tempo, ora com o White Stripes, ora com o Raconteurs, fazendo uma faixa de trilha sonora (para o último 007) com a bela Alicia Keys, ou participando de um documentário sobre a guitarra (It Might Get Loud, aqui “A Todo Volume”, com estreia no Brasil prevista para outubro) ao lado do U2 The Edge e do mestre e eterno Led Zeppelin Jimmy Page. Mas é equivocado justamente porque, onde todos veem trabalho, White vê mais uma oportunidade de se divertir.
E o novo brinquedinho do festeiro twenty 4 seven é o The Dead Weather. Estamos falando do mais novo super grupo que, além de Jack White, ainda conta a The Kills Alison Mosshart (guitarra e vocais), o Raconteurs “Little” Jack Lawrence (no baixo) e o Queens of the Stone Age Dean Fertita (na guitarra e nos teclados). As baquetas ficam nas mãos do próprio White que, além de também cantarolar, ataca de baterista neste projeto que preza pela sonoridade de garagem.
O debute da banda se chama Horehound e tem em toda a sua extensão uma película deliciosamente suja. As faixas misturam um rock tabernal (como em “Treat me Like Your Mother” e “Hang You from the Heavens”), uma densidade gótica (a própria banda se encaixou no gênero Gothic Blues) e o blues tão estimado por Jack White (como nas duas canções, “60 feet tall”, que abre o álbum, e “Will there be Enought Water”, que o encerra). Há espaço também para o groove (em “I Cut like a Buffalo”) e para um cover bem nervoso de “New Pony” (do Bob Dylan).
No geral, o som do Dead Weather não lembra em nada o White Stripes ou o QOTSA, mas leva alguma pouca coisa do Kills e alguns detalhes sutis do Raconteurs.
A diversão que esse projeto sugere é justamente o escapismo (todos os integrantes já vêm de bandas elogiadas) planejado por Jack White que, ao renegar o lugar comum de “líder de banda uma de sucesso”, espalha seu bom gosto em várias aventuras musicais e se livra do marasmo de uma carreira morna.
Os integrantes do Dead Weather não querem, assim como Kurt Cobain, se sentir encurralados pelo próprio sonho de ser um rockstar e ver o sentido único de se fazer música tornar-se um fardo – às vezes pesado demais para se querer prosseguir. Lembrando também que, antes de cometer suicídio, Kurt estava desenvolvendo um projeto paralelo com o vocalista do R.E.M, Michael Stipe, que nunca chegou a se concretizar.
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