Eu tenho uma teoria: a gente descobre a mulher realmente sexy apenas depois do sexo.

Nunca antes.

Nunca durante a conquista, momento em que elas, assim como nós, se armam para o jogo da sedução. Mulheres brincam com o cabelo e mordem o lábio de maneira displicente. Medem as palavras e até o gingado na hora de caminhar. Se sorrirem, então, é tiro e queda. Mas por mais que tudo isso aparente ser natural, são atos forçados, quiçá ensaiados durante toda a vida. São atos sem espontaneidade. A mulher que quer parecer sexy simplesmente atua.

Podemos chamar de armas, ferramentas, artifícios, depende de como você vê a tensão sexual entre um homem e uma mulher. Há vários nomes para o arcabouço gestual e verbal na hora da sedução. A verdade, contudo, é uma só: buscar ser sexy é fazer teatro. E, por isso, uma espécie de deliciosa falsidade. Não é ruim – inclusive pode ser lucrativo – e certamente é bastante divertido, mas não é puramente real.

Link YouTube | Um vídeo didático para mulheres que desejam parecer seZZZZZZZZ

Neste momento, a mulher não é a mulher, mas sim uma projeção dela criada por ela própria. Ela se reinventa, e essa nova versão tem prazo de validade. Ela não sustentará a brincadeira com os cabelos ou as mordidas no lábio pela vida toda. Tudo isso acaba quando a fome passa.

Este é o cozido. Ou ao menos seria, se Claude Lévi-Strauss fosse um pouco mais safado e se dedicasse às mulheres com devoção. Cozido, aqui neste texto, é a reutilização infinita e com algumas poucas variações dos artifícios de sedução de sempre. É usurpar um gesto aqui e uma frase ali para compor uma persona. Mulheres sempre deram mordidinhas no lábio porque isso sempre funcionou. E dar mordidinhas sempre haverá de funcionar.

(Se eu fosse mais ingênuo, diria que a mordidinha é o que rege nosso mundo. Ela é capaz de criar e destruir impérios. Não fosse a mordidinha, Cleópatra talvez não tivesse sido rainha, mas sim apenas uma mulher com um nariz estranho. Sem os dentes prensados contra os lábios, inclusive, talvez nenhum de nós estivesse aqui.)

Leia também  Os olhos diante da morte do amor | Do Amor #56

O oposto do cozido é o cru. E é no cru que está o sexy de verdade.

Depois do sexo – principalmente depois do sexo bem feito, sem pressa –, não há mais nada a provar. Isso serve tanto para homens quanto para mulheres. Você não é pressionado a se mostrar o literal “pica das galáxias”; ela, por sua vez, também se despoja de seus artifícios.

Não existe nada mais lindo (Foto de @mari_graciolli por @eduardoqueiroz)

A mulher está na cama, ainda nua, com cabelo todo emaranhado em si, in natura. É o estado mais cru do ser feminino. E se este estado cru for atraente aos olhos e ao apetite masculino, é este o momento em que uma mulher sexy de verdade se revela.

Para o homem, o momento pós-sexo é aquele em que quase nada acontece. Ele fala de como ama a mulher ou da última pataquada de Dwight em The Office. Isso é irrelevante. Ele já gozou e está temporariamente saciado de sua fome. Nos próximos minutos, ele é um inútil para a mulher e para si mesmo, pelo menos sexualmente. O homem que acabou de gozar não é nada além de uma samambaia.

A mulher não.

Há mulheres que despertam o desejo do macho mesmo depois do sexo, nos segundos seguintes ao orgasmo. Ela não sabe disso, mas naquele instante ela é a mulher mais sexy do mundo. O homem ainda está colocando sua circulação em ordem, levando sangue para onde deve, e mesmo assim já pensa:

Puta que o pariu, que mulher linda! Eu a desejo!

Eis que a fome volta. Seria justificável que a pulsão se esvaísse logo em seguida, ou até mesmo que talvez nunca mais houvesse desejo. Mas não no caso da mulher verdadeiramente sexy. O desejo é sempre recorrente. Ao homem, nada mais resta: ele não encontrará paz e está condenado. Mas feliz.

Esta, senhores, é a mulher mais sexy do mundo.

sitepdh

Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.