Somos todos animais – a arte de Wagner Willian

As cores intensas do natalense merecem ser apreciadas por olhos atentos

Nascido em Natal, 1978, e radicado em São Paulo, há dez anos atrás Wagner pediu demissão da livraria onde trabalhava, jogou tudo para o alto e apostou suas fichas na arte.

Pintor autodidata, vem ganhando na internet a voz que começa a ser ouvida nos corredores das galerias por todo o país.

O que é arte?

Depois de um longo período de artes conceituais e instalações, onde todo o tipo de expressão poderia ser enquadrada como arte, é um alento observar o retorno crescente da Arte Figurativa pelo mundo. Creio que não se trata de um segmento ser melhor do que outro, mas sim de uma evolução constante através de ciclos.

Explico: quando a Arte Clássica foi colocada em cheque, no começo do século passado, a ruptura foi importante, já que no momento grande parte do que era produzido não dialogava com o público e muito menos respondia aos anseios da época.

Desde então muitas décadas se seguiram, com direto a proclamações insólitas de que a pintura estava morta, mas eis que cá estamos novamente em um período onde a Arte, mais uma vez, vinha parando de se comunicar com o espectador.

Foi exatamente este distanciamento que propiciou o retorno efervescente da arte figurativa e da pintura, ambos renovados e novamente atentos ao Zeitegeist.

Um artista em chamas

Retornando das esquinas da divagação, vamos o que interessa: marquei uma visita ao Ateliê do Wagner, aqui em São Paulo. Seu estúdio é um pequenino grande museu, com paredes forradas de obras por todos os lados que enchem os olhos de quem adentra o lugar.

Wagner é o reflexo do nosso tempo, acelerado, me oferece “caféáguacerveja” enquanto pega um pote de terebentina para apagar sem nenhuma cerimônia um rosto quase pronto que não lhe agradava.

Me seguro para não perguntar ao artista o significado de suas obras – embora seja tentador ouvir sua opinião, creio que o mais importante já foi dito em tinta e é dali que devo encontrar minhas reflexões para escrever esta matéria.

Por onde olho vejo carne e cor. Sua pintura é poluída, mas nunca caótica, e parece reverberar um país confuso e vibrante. Seus seres antropomórficos poderiam se tratar de uma denúncia sobre a condição humana, mas me parecem muito mais uma reação do instinto do que da lógica discursiva.

Um sem número de cores passeiam por todo o canto sem nunca conflitarem, e o aparente caos é domado por um incrível controle de saturação que torna toda a composição harmônica.

Muitas obras são puro deboche, e de tão literais conseguem escapar das armadilhas da ironia, marca tão presente nas piores fases da Arte Contemporânea.  É notável como os verdadeiros artistas tornam sua obra uma extensão acurada de suas convicções e sentimentos, tal qual Van Gogh enxergava a tudo, até as menores coisas, como um milagre de Deus, ou como Caravaggio entendia com maestria todos os pecadores, transformando as paredes de igrejas em blockbusters imediatos.

Em apenas uma hora com Wagner, foi possível perceber que eu também estava diante de um verdadeiro artista, pois o que via em seus quadros era o mesmo que enxergava em seus olhos: uma risada nervosa, radiante e caótica, que denúncia o mundo sem deixar de achá-lo um lugar maravilhoso.

Seja bem vindo.

E pra quem se interessou, mas ainda não tem grana para comprar uma obra, recomendo adquirirem seu livro ilustrado de contos, O Lobisomem Sem Barba, que é tão bacana que acabou de ser premiado com um Jabuti! Você também pode acompanhá-lo na internet, onde constantemente ele posta material novo.

E seguimos hasteando o bastião da sabedoria nas pilastras da galhofa! Espero que tenha sido útil ou, ao menos, divertido!


publicado em 17 de Dezembro de 2015, 00:00
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Bruno Passos

Pintor. Ama livros, filmes, sol e bacon. Planeja virar um grande artista assim que tiver um quintal. Dá para fuçar no Instagram dele para mais informações.


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