Sobre Justin Bieber, Twitter e essa sua implicância toda

E a semana passada foi marcada pela morte do Steve Jobs. Comoção na Internet, notícias nos principais jornais do mundo, manifestações de perda e luto que deixaram claro o status de verdadeiro popstar que o criador da Apple conseguiu obter durante sua carreira, ao menos entre as gerações mais novas - afinal, se você perguntar pra sua avó o que é um MacBook, ela vai comentar que continua sem entender como funciona essa maquininha de escrever sem papel que você fica levando pra cima e pra baixo. Algo assim.

Jobs não viveu pra ver uma fábrica de seus produtos aqui no Brasil e nem pra ver a picuinha da última semana

Mas mais do que as homenagens ao Jobs, sejam elas brilhantes ou nem tanto, as reações que mais me impressionaram na Internet – e mais especificamente no Twitter – nessa última semana foram relacionadas a outro popstar, que não inventou computadores, não criou sistemas, não inovou designs e muito menos serviu de pretexto para que pessoas fizessem trocadilhos infames como “isad”: o garoto Justin Bieber.

Isso porque, com a chegada do juvenil e possivelmente impúbere astro da música pop, que veio ao Brasil para uma série de shows que desesperaram adolescentes e ofereceram pautas fáceis para jornais de todo o país eu acabei me deparando, em minha própria timeline do Twitter, outrora tranqüila e pacata, com níveis de ódio, rancor, revolta, tensão e hostilidade que eu só esperava testemunhar durante eventos como guerras civis, revoluções, conflitos étnicos ou clássicos regionais de futebol transmitidos pela TV aberta.

Pessoas pacatas, tranqüilas e afáveis juraram esfolar o garoto. Garotas corretas e de boa família prometeram atos de violência indescritível e homens crescidos e barbudos, que não teriam a menor razão para jamais ter ouvido “Baby, Baby”, se comprometiam a justiçar o garoto como se tivessem tido suas mães apalpadas pelo rapaz durante um evento de família. Mas o que tantas pessoas podem ter contra o Justin Bieber?

Pode ser a música, que é de qualidade duvidosa? Claro, é possível. Mas ao mesmo tempo existem diversos outros artistas de qualidade também deveras questionável e que não polarizam toda essa antipatia. Pode ser o visual do garoto, que nos lembra o quanto a juventude de hoje caminha para que tenhamos uma geração de adultos de franjinha que só usam calça colada? Talvez, mas isso também está longe de ser exclusividade dele e nunca vi adultos se mobilizando nas mídias sociais contra os Jonas Brothers.

Pode ser por uma possível superexposição do astro teen, que estaria em todos os lugares, sintonias e notícias? Faz sentido, mas eu mesmo admito que consegui viver durante muito tempo sem imaginar o que era um Justin Bieber e fui ouvir falar no moleque exatamente por conta dos comentários hostis nas redes sociais, com a divulgação do garoto sendo feita basicamente por quem queria que ele sumisse do mapa.

Justin Bieber com sua namoradinha no Brasil. Tá, e daí?

A grande verdade é que provavelmente a Internet tem nos deixado infantilmente implicantes. Reclamamos de séries que nem assistimos, criticamos músicos que não ouvimos, falamos mal de filmes dos quais vimos apenas um trailer, bootleg, em resolução baixa e retirado de um site russo hospedado num servido pirata.

Todas as possibilidades de expressar opinião, de tornar públicos os nossos pontos de vista, deixaram em alguns de nós a impressão de que a opinião é obrigatória, todos os temas merecem ser comentados e tudo, seja uma música que não gostamos ou uma matéria de jornal que não entendemos merece uma reclamação. E em caixa alta, que é pra não dar margem pra dúvidas.

Claro, é muito importante termos opiniões e é muito valioso expressá-las. Assim já começaram revoluções, assim já derrubaram governos, assim possivelmente até contribuíram pro retorno de Arrested Development. Mas depois de uma certa idade é bacana que a gente tenha a capacidade de separar o que é reclamação legítima, o que é desabafo e o que é protesto do que é puro e simples mimimi. Afinal, isso de falar que tudo é uma puta falta de sacanagem e reclamar muito no twitter sempre acaba parecendo coisa de fã do Restart.


publicado em 13 de Outubro de 2011, 10:21
Selfie casa antiga

João Baldi Jr.

João Baldi Jr. é jornalista, roteirista iniciante e o cara que separa as brigas da turma do deixa disso. Gosta de pão de queijo, futebol, comédia romântica. Não gosta de falsidade, gente que fica parada na porta do metrô, quando molha a barra da calça na poça d'água. Escreve no (www.justwrapped.me/) e discute diariamente os grandes temas - pagode, flamengo, geopolítica contemporânea e modernidade líquida. No Twitter, é o (@joaoluisjr)


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