Ele me encara por alguns segundos e tira a mão do bolso. Não tem nada lá. Eu deveria ter ficado aliviado, mas permaneço sem sentir nada. Ele ri.

— Tu é descrente, moleque. Gostei de você. É frio. Dos meus.

— Eu não sou dos seus. Se fosse, não desperdiçaria minha vida fingindo que tenho uma arma no bolso.

—Mas tu desperdiça com droga. Tu é mais burro que eu, irmão.

Disse isso me dando um tapinha na cara.

Conto a história do “quase assalto” pra prostituta deitada ao meu lado.

—Por que você não tem uma namorada? É por causa das drogas?

—Como assim?

—Você é bonito, inteligente… bom de cama.

—Pelo amor de deus. — Eu interrompo. — Eu aceito você fingir que goza, mas mentir assim, eu sei que é seu trabalho, mas realmente não precisa.

—Eu acho que você é depressivo. Eu acho que, no fundo, você queria que aquele cara tivesse te dado um tiro.

—Você é psicóloga além de garota de programa?

Ela ri. Esse é meu mundo, onde ladrões me dão lição de moral e putas me analisam.

—Respondendo sua pergunta, — eu digo — eu não tenho namorada por causa da minha mania irritante de afastar todo mundo que se importa comigo.

—É, você deve ser depressivo.

Ponto pra puta.

Rafael Fucciolo

Raphael Fucciolo - Futuro publicitário, aspirante a escritor. Aluno de Bukowski, Kerouac, Wilde e Irvine Welsh. Seus temas favoritos são sacanagem, violências e vícios. Escreve sobre tudo isso e um pouco mais no <a>Conflitos Escritos</a>."

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