Ele me encara por alguns segundos e tira a mão do bolso. Não tem nada lá. Eu deveria ter ficado aliviado, mas permaneço sem sentir nada. Ele ri.
— Tu é descrente, moleque. Gostei de você. É frio. Dos meus.
— Eu não sou dos seus. Se fosse, não desperdiçaria minha vida fingindo que tenho uma arma no bolso.
—Mas tu desperdiça com droga. Tu é mais burro que eu, irmão.
Disse isso me dando um tapinha na cara.
Conto a história do “quase assalto” pra prostituta deitada ao meu lado.
—Por que você não tem uma namorada? É por causa das drogas?
—Como assim?
—Você é bonito, inteligente… bom de cama.
—Pelo amor de deus. — Eu interrompo. — Eu aceito você fingir que goza, mas mentir assim, eu sei que é seu trabalho, mas realmente não precisa.
—Eu acho que você é depressivo. Eu acho que, no fundo, você queria que aquele cara tivesse te dado um tiro.
—Você é psicóloga além de garota de programa?
Ela ri. Esse é meu mundo, onde ladrões me dão lição de moral e putas me analisam.
—Respondendo sua pergunta, — eu digo — eu não tenho namorada por causa da minha mania irritante de afastar todo mundo que se importa comigo.
—É, você deve ser depressivo.

Ponto pra puta.
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