Só existe um tipo de medicina, e é o tipo que cura – parte 2

Na primeira parte do artigo "Só existe um tipo de medicina, e é o tipo que cura", o autor Carlos Braghini Jr. tratou do status quo da medicina contemporânea, em que a indústria farmacêutica dita as regras e os médicos estão atrelados a doutrinas falaciosas. Nesta segunda parte, o ponto central é o modelo de atuação médica e da indústria farmacêutica.

Recomendamos a leitura da primeira parte antes de seguir.

É necessário mudar o atual paradigma médico

Analisemos o tratamento de câncer. Os aparatos tecnológicos mais sofisticados para o diagnóstico precoce dos cânceres mais simples auxiliam na instituição do tratamento antes da doença se espalhar, mas nos cânceres mais agressivos e mortais não houve alteração significativa nos últimos 50 anos. Se analisarmos as estatísticas desde então, veremos que não houve mudança substancial na expectativa e na qualidade de vida dos doentes. O mesmo número de pessoas continua morrendo a despeito de o noticiário mostrar todos os dias os “avanços” no tratamento.

Na verdade, não há um só produto usado na quimioterapia do câncer que tenha mostrado num ensaio clínico ser capaz de curar o câncer. Não há um ensaio clínico mostrando que a ingestão de um coquetel de fármacos seja eficaz. Por isso, é um absurdo afirmar que os únicos tratamentos oncológicos validados cientificamente incluem cirurgia, quimioterapia e radioterapia.

Aos 17 anos, Angela Zhang projetou a cura do câncer por meio da utilização de nanopartículas

É como se a ciência deliberadamente brincasse com a vida das pessoas, alegando que tratamentos fora do convencional são proibidos para "nosso próprio bem". Ao contrário, ideias como a de Ryke Geerd Hamer (as leis de ferro do câncer), de Tullio Simoncini (alcalinização com bicarbonato), de Max Gerson (nutrição para o câncer) são ridicularizadas, levando seus criadores à prisão ou à cassação do direito de clinicar.

O que está em questão não é se estas ideias funcionam ou não, mas sim o fato de que elas nem são discutidas na universidade e nem nos cursos de especialização médica. Em vez de discutirem e virem a público dizer o que funciona e o que não funciona, as entidades médicas simplesmente decretam: isto não tem fundamento.

Como assim? Pessoas estão se tratando e melhorando. É o que discutimos anteriormente: o discurso científico acaba por jogar fora uma terapêutica que pode funcionar, somente por ela não parecer estar de acordo com o racionalismo médico.

E depois vêm me dizer que é para o bem da população? Sei...

Quem deveria estar na linha de frente desta revolução? Os próprios médicos. Se a universidade não ensina, cabe ao médico buscar informação. Só isso já daria a ele a liberdade do livre pensar. Em vez de se fechar em suas torres de marfim, deveria pressionar os órgãos e os Conselhos Médicos a agirem nesta direção, em vez de denunciar os colegas de profissão que não seguem a cartilha.

Outra reflexão que peço aos médicos: os Conselhos Médicos não deveriam estar na linha de frente desta discussão, em vez de cuidar da manutenção do sistema tal como está? Qual o grau de satisfação com a atuação desses órgãos representativos? E por último, quantos dos médicos continuariam a pagar seus respectivos conselhos se isso não fosse obrigatório?

Claro que não é simples romper com dogmas estabelecidos e convicções fortemente arraigadas, mas é prudente que questionem o tipo de informação que chega a eles. Essas mudanças não virão gratuitamente e sem luta ferrenha. Devem se preparar para o contra-ataque, pois afinal, a saúde, antes de tudo, é um próspero negócio.

Da mesma maneira que se montam casas geriátricas, nem tanto pela necessidade social, mas pelo dinheiro que geram, os acionistas de uma indústria farmacêutica não se reúnem para discutir se os consumidores, no caso, pacientes, estão mais saudáveis. Acreditar na ética e respeito ao ser humano que o marketing das grandes corporações propagandeia é de uma ingenuidade imbecil.

OK, ninguém acredita nelas; mas então, será que não dá para desconfiar da boa vontade da indústria farmacêutica que investe em congressos, encontros, viagens, brindes e toda sorte de corrupção de almas médicas? É no mínimo ser conivente, não?

E mesmo para alguém imune a este tipo de ação direta existem as estratégias mais sutis. Em vez de controlar a ação de cada profissional, basta infiltrar ou cooptar alguém de dentro do sistema. São inúmeros os casos de legisladores que batalham para aprovar uma lei ou resolução para, em seguida, se desligarem do órgão e assumirem um cargo na indústria beneficiada por ela.

Quantos jornalistas foram calados pela simples ameaça de retirar a verba publicitária do jornal e da revista caso determinada matéria fosse publicada? Quantos políticos são financiados pela indústria da saúde? O parlamento europeu, por exemplo, possui em seus quadros vários executivos de empresas farmacêuticas. Imaginem o estrago que pode ser feito por alguém com tamanho poder sobre a legislação e a polícia.

Intimidador, não?

Como confiar no tipo de informação recebida todos os dias pelos meios “oficiais”? É como se colocássemos o lobo para ensinar táticas de defesa às galinhas. Ele pode até ensinar alguma coisa, mas você acha que ele mostraria realmente como se defender de lobos?

Se este paradigma não for mudado, o sistema de atendimento médico à população continuará ineficaz e o caos reinante continuará crescente. Os serviços de saúde municipais, estaduais ou federais estão sobrecarregados, os médicos são mal remunerados, a maioria dos plantonistas hospitalares são recém-formados inexperientes... As listas de espera para consultas, exames, procedimentos cirúrgicos geram casos que se tornam uma vergonha estampada nos telejornais dia após dia. Hospitais sem vagas geram cenas dantescas nos prontos-socorros abarrotados de pacientes jogados pelos corredores aguardando atendimento em macas improvisadas.

Quer ver como é difícil lidar com este quadro e como a própria medicina cuida para que isto não aconteça?

Numa das epidemias de dengue, as secretarias de saúde de algumas cidades do interior de São Paulo passaram a distribuir gratuitamente compostos preventivos homeopáticos. Coincidentemente (ou não), os índices da doença eram menores do que nas cidades vizinhas. O que fizeram as entidades médicas? Disseram: "Isso não tem validade científica; cessem a distribuição." Eis que, no final de 2008, o composto foi registrado pela Anvisa (e, posteriormente, patenteado por um laboratório).

Pois é, vivemos num mundo estranho, assentado num sistema que só aceita e utiliza tratamentos ortodoxos paliativos ou que lidam somente com os sintomas, sem buscar a cura real. Que usa medicamentos com tantos efeitos colaterais que, de acordo com um trabalho executado pelo Projeto Colaborativo de Vigilância de Medicamentos Alopáticos de Boston, chega a 30% o número de pacientes atendidos nas emergências por problemas gerados por estas drogas. Um trabalho publicado em 2001, no próprio Jornal da Associação Médica Americana (JAMA) mostrou que a reação adversa aos medicamentos prescritos pelos médicos atinge mais de 100 mil norte-americanos a cada ano, transformado-a na terceira causa de morte nos EUA.

Devido aos efeitos colaterais, uma pílula pode ser mais letal que um acidente de carro

Se você ainda não se deu conta do que isto significa, vou explicar melhor: as cinco principais causas de morte nos EUA naquele ano foram, na ordem:

1. tabaco;

2. álcool;

3. imperícia médica;

4. acidentes automobilísticos; e

5. armas de fogo.

Parece incrível, mas o tratamento médico foi responsável por matar mais pessoas do que os índices de acidentes de trânsito e armas de fogo somados. O número de pessoas mortas por dia equivale à mesma quantidade de pessoas que morreriam se, a cada dia, três aviões Jumbo caíssem matando todos a bordo. Se isso não dá o que pensar, não sei mais o que daria.

Se formos analisar um departamento médico num hospital ou um laboratório de pesquisa de renome, veremos que por trás deste sucesso há um financiamento externo, quase sempre advindo de uma indústria farmacêutica ou de equipamentos médico-hospitalares. Eventualmente algo sai do controle e vêm à tona histórias de gratificações e escândalos de suborno que chegam às páginas policiais. Se você pensou que talvez esses não sejam casos isolados, mas respingos de uma prática largamente utilizada, não tenho argumentos para rebater.

Você já se deu conta de que as notícias sobre saúde são sempre as mesmas, independente do veículo de comunicação? Uma notícia no jornal da noite aparece no jornal impresso do dia seguinte, que é repetida durante a semana nos outros canais de TV. Vou lhe contar como funciona a divulgação de notícias científicas em medicina.

Um laboratório financiado por uma empresa está trabalhando numa droga ou vacina ou terapia genética. Seu prazo para terminar a pesquisa está se esgotando e ele precisa mostrar algum resultado para não perder o dinheiro. Então, divulga a bombástica informação de que esta nova droga ou tratamento tem mostrado resultados promissores na cura do (______________) (preencha com a doença de sua preferência). A notícia não é divulgada na imprensa leiga inicialmente, mas num sistema de geração de notícias médicas. Todas as notícias médicas são centralizadas em duas ou três agências de notícias. Basta eu mandar uma nota ou release e elas se encarregam de enviar o que interessa às grandes agências de notícias dos grandes jornais e estações de TV e rádio dos EUA. Depois de alguns dias, a notícia chega aos ouvidos da população. Pense na quantidade de tratamentos “promissores” que nunca saíram do papel ou nunca chegaram a ser lançados.

Mas não ache que todo chefe de laboratório é tão mau assim. Muitos agem dessa maneira para manter o dinheiro que financia seu laboratório que está, na verdade, fazendo outras pesquisas mais relevantes, mas precisa jogar para a torcida do seu patrocinador.

Agora, vamos imaginar que algumas destas drogas serão lançadas no mercado. A empresa farmacêutica já tem seus resultados preliminares, já fez as contas sobre o potencial de mercado da droga, já fez previsões sobre o lucro gerado por aquele novo medicamento. Ela precisa, agora, convocar alguns serviços médicos para testá-la, por meio de um trabalho de pesquisa. E alguns desses médicos e/ou serviços são patrocinados pela empresa. Digamos que, de seis trabalhos, dois mostram bons resultados, dois resultados ruins e dois resultados inconclusivos. A empresa descarta os trabalhos ruins e inconclusivos e manda os de resultados bons para os órgãos de aprovação. Fácil, não?

Neste quadro desolador, fica claro que os ensaios clínicos utilizados para aprovar um medicamento são deficientes e facilmente manipuláveis. A retirada do mercado de medicamentos que foram utilizados por algum tempo até que se percebesse que estava prejudicando seus usuários corrobora esta prática irresponsável. Em alguns casos, pode inclusive levar à morte de pessoas, como no caso de um conhecido antiinflamatório já retirado do mercado, cujos relatórios apontam para o fato de a empresa fabricante ter escondido sua toxicidade. Resultado: estima-se que 140 mil pessoas tenham morrido devido a seu uso somente nos EUA.

A cronificação da doença

Baseado no que foi dito até aqui, passa a não ser estranho que a maioria dos fármacos atuais, em vez de curar, visa cronificar a enfermidade; são meros paliativos (ou sintomáticos). Quem não conhece alguém que já saiu da consulta médica com a recomendação de que não deveria nunca mais abandonar o remédio?

"É para tomar pelo resto da vida?"

As drogas antigas e consagradas desaparecem paulatinamente do mercado e são substituídas por outras mais modernas, mas ao mesmo tempo mais perigosas e com mais efeitos colaterais. E com mais efeitos colaterais, entra em campo um ato "genial" da indústria farmacêutica: outro remédio para lidar com o efeito colateral do primeiro. Ou um terceiro para lidar com o efeito colateral do segundo. Não é incomum eu lidar com pacientes de 50 anos que tomam quatro ou cinco drogas diferentes para lidar com vários órgãos e sistemas. Seja você médico ou paciente, me diga com sinceridade: é possível olhar para este quadro e achar normal?

O fato preocupante é que as ações de saúde são feitas tomando-se por base as boas intenções de uma indústria que só está preocupada em manter o estado de coisas atual. É por isso que a maioria das pessoas ignora como este poder é exercido. Por exemplo, o Food and Drug Administration (FDA), órgão máximo norte-americano que define o que deve ou não ser consumido pelo povo daquele país, não é um órgão tão independente assim. O imaginário popular (e médico) o considera um órgão sério, mas é difícil acreditar que ele não está a serviço da indústria farmacêutica.

Como falei acima, para que um medicamento seja considerado aprovado, bastam dois trabalhos positivos. Quem faz estes trabalhos: a própria empresa fabricante da droga. É claro que é obrigatório seguir critérios básicos toxicológicos, animais e clínicos. Só que quem estabelece estes critérios é a International Conference on Harmonization (ICH) que, por sua vez, foi fundada pela International Federation of Pharmaceutical Manufacturers & Associations (IFPMA). Se você se atrapalha com o inglês, eu traduzo: "Federação Internacional de Associações de Fabricantes de Medicamentos". Em suma, a indústria elabora suas próprias regras e se autocontrola. Se isso não significa exercer poder absoluto no setor, não sei mais o que seria.

Controlando a investigação e a publicação dos resultados, controlando as instituições reguladoras, controlando os médicos e outros profissionais de saúde, controlando as verbas de pesquisa e a montagem dos laboratórios e departamentos universitários e hospitalares... Pense comigo: eu, profissional de saúde, deveria aceitar passivamente que minha prática seja estabelecida por um organismo com tantos tentáculos?

É por isso que, quando você pergunta a seu médico sobre um tratamento alternativo, ele responde que não há nada comprovado a respeito. "Comprovado" significa que não foi publicado, que não foi apresentado num congresso, que o propagandista do laboratório não levou um trabalho mostrando que a arnica funciona ou que o gengibre auxilia na enxaqueca... Mas qualquer mãe de santo sabe que funciona. E seus clientes, também.

As próprias associações de doentes são patrocinadas da mesma maneira. Isso garante que os pacientes recebam as mesmas informações que os médicos. Na verdade, as associações foram criadas como elementos de suporte e busca de alternativas de tratamento às várias doenças, mas isso preocupou tanto a indústria farmacêutica que acabou por aproximar-se delas para controlá-las. O mecanismo de controle é o mesmo: patrocínio de suas atividades e de seus veículos de comunicação. A engrenagem é feita para girar somente numa direção e esmagar os opostos. Quem assistiu ao filme O Óleo de Lorenzo pôde acompanhar isso que estou dizendo. No filme, um dos opositores ao novo tratamento era a própria associação de pais das vítimas das doenças.

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Com os médicos, ocorre o mesmo: quem você acha que são os patrocinadores das revistas e dos congressos? Uma boa reflexão sobre este tema foi escrita pelo Dr. Alexandre Feldman.

Pois é, com o discurso de "em nome da ciência" o que está em jogo é a manutenção de um negócio.

Um convite

Muitos médicos ficarão indignados ao ler as duas partes deste artigo e se sentirão injustiçados. Não é minha intenção ferir suscetibilidades e me desculpo antecipadamente se exagerei nas críticas. Como autor e médico empírico, muitas vezes é impossível me manter afastado de minhas convicções.

Como mostrei, não é à toa que uma profissão identificada no passado com as causas humanitárias, reconhecida e respeitada pela população que podia confiar plenamente em seus membros, se veja agora reduzida a um mero participante de um negócio onde a saúde e a dignidade das pessoas importam cada vez menos. A medicina deixou para trás seus princípios mais sagrados e, por mais que muitos queiram reclamar, a maioria da população irá concordar com minhas palavras.

Se fui contundente em algum momento é pela necessidade de tirar a profissão médica da letargia, pois identifico que são exatamente os médicos e os pacientes os principais afetados por este. Entretanto, mais do que reclamar, acusar ou apontar culpados, meu intuito é contribuir para o debate.

E você não precisa acreditar em mim. O que peço é que pense, avalie, experimente alternativas e tire suas próprias conclusões. Aqui, o mantra "amplie sua consciência" não tem nada de esotérico. É a única maneira de não tomar suas decisões em cima de informação manipulada ou adulterada. Sua vida e sua saúde – e sua profissão, se você for médico – dependem disso.


publicado em 15 de Abril de 2012, 21:01
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Carlos Braghini Jr.

Médico, foi pesquisador em Fisiologia Humana e professor universitário. O questionamento em relação aos rumos da medicina convencional o levou aos EUA, onde aprofundou seus estudos sobre a quiropraxia e a naturopatia. É membro da Texas State Naturopathic Medical Association. Participa do Grupo de Estudos sobre Medicina Complementar e da Comissão Pró-Regulamentação da Quiropraxia no Brasil. É palestrante e escritor, e atua em seu consultório no Rio Grande do Sul. Site: ecologiacelular.com.br. Twitter: @cbr


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