Seu estilo fala, mas pode estar falando algo que você não quer dizer

De que maneira podemos usar roupas e acessórios para traduzir o que queremos dizer?

O estilo vem ganhando mais espaço no cotidiano masculino: até para comprar uma camiseta branca é preciso se atentar ao corte, comprimento, formato da barra ou da gola e caimento do tecido. Cortes de cabelo demandam mais atenção, barbearias conquistam novos espaços, e diversos marmanjos passam a adquirir o “kit galã feio” ao instalarem a barba de lenhador e coque de samurai.

Mas é preciso lembrar que as escolhas da roupa, do acessório, do cabelo, ou da barba não é uma mera questão de escolher o “mais bonito”. Na verdade, o que é considerado belo varia conforme o tempo e a sociedade em que estamos inseridos.

Além disso, o valor estético também se conecta com os valores que cada um desses grupos cultivam. Como explica o autor da casa, pintor e proprietário na Conto Figueira, Bruno Passos, cada coisa que você incorpora no seu visual é um símbolo e cada grupo social atribui um significado a estes.

Quando você faz uma simples apresentação e diz seu nome, a pessoa do lado de lá saberá bem mais que isso. Olhando tudo o que te envolve, ela já consegue montar um pequeno perfil: o sorriso descontraído demonstra simpatia, o tom de voz descarta indícios de timidez, o cachecol grandão mostra um despojamento, ousadia, uma certa vaidade, a aliança brilhante conta que o casamento é recente, os sapatos meio roídos denunciam o cachorro e assim por diante. Não é exatamente uma mania de adivinhação de quem faz, é um instinto natural de preencher com as informações não verbais as lacunas daquilo que não sabemos sobre o outro.  

Mas tudo isso é cultural, o significado dos símbolos variam dependendo da sociedade, tempo, ou do grupo em que estamos. Imagina transportar um indivíduo de terno alinhadíssimo e um de regata cheio de tatuagens para uma aldeia de cultura intocada. Se na nossa sociedade o blazer representa estabilidade financeira, talvez um cargo de chefia e o de regata passe imagem de descontração, informalidade. Lá na aldeia, o que veste terno pode ser considerado um bufão em uma roupa engraçada e desconfortável, enquanto as tatuagens do outro talvez sejam consideradas indícios de liderança parecidos com o desta mesma tribo.

O tempo também muda muito os valores. Usamos a tatuagem como exemplo de descontração e isso é uma mudança contemporânea. Há cerca de 15 anos, ter uma tatuagem aparente era algo antiprofissional, que poderia te eliminar em diversas entrevistas.

Mas, por exemplo, no meu caso, trabalhando na área da comunicação, vestir camiseta e exibir tatuagem na empresa é extremamente comum e passou a ser sinal de indivíduos criativos e sociáveis, características positivas entre os comunicadores.

Ainda dentro da nossa sociedade, quando as pessoas definem um apreço por um certo estilo, elas estão definindo quais são as características que valorizam: personalidade forte, despojamento, organização, liderança. Da mesma maneira, ao escolher o que vestir, estão escolhendo como gostariam de ser enxergadas pelos outros e quais características pessoais querem exibir.

É claro que sua roupa não define quem você é, não revela sua origem, seus medos e seus anseios. No entanto, das tantas coisas que compõem seu eu e dos tantos capítulos que formaram sua trajetória, sua roupa transparece ao menos uma dessas histórias.

Não estou afirmando que é preciso adotar toda uma linha visual, buscar referências e símbolos padronizados para conseguir traduzir o que se quer dizer. Muito se diz naturalmente. Aquela pulseira que foi comprada durante uma viagem, o pingente dado pela avó, a estampa da sua série favorita, já diz alguma coisa sobre você e pode fazer com que conhecidos e desconhecidos comecem uma conversa porque se identificaram com um desses símbolos.

É preciso lembrar que marcas também trazem outros significados. Mesmo que usar uma marca não vá mudar seu pensamento, é interessante buscar saber os valores por trás delas.

Afinal, já que toda compra é um investimento em um negócio, e é sempre preferível investir naquilo que se acredita.

Vivemos numa era extremamente conectada à imagem e, ao mesmo tempo, onde conceitos estão sendo reconstruídos - seja pela luta feminista, do movimento negro ou por outras questões sociais. Se antes, valores não afetavam muito a escolha de vestuário, hoje é preciso prestar ao menos um pouco de atenção nas nossas escolhas.

Apropriação cultural é um conceito que muita gente discorda ou não entende, acreditando que sendo branco, ao trançar os cabelos, está homenageando a cultura que admira. Pode ser que esse seja o sentimento predominante dentro dessa pessoa, mas quando negros comentam e buscam afirmar cada vez mais que se sentem incomodados, talvez seja bom ouvir. Ainda que você não concorde, pode ser melhor respeitar o apelo e escolher outro cabelo, outra peça de roupa.

Outro assunto que, se ainda não tem muita relevância, deveria ter, é a escravidão que ainda acontece pela terceirização de oficinas de costura. O aplicativo Moda Livre, feito pela ONG Repórter Brasil, monitora marcas e pode ajudar na hora de fazer uma escolha responsável.

Garantir que a marca da qual você compra é responsável com seus trabalhadores é a parte mais difícil de toda essa conversa. De resto, o importante é não acreditar que existe um padrão de beleza certo e outro errado. Use o que te representa, o que te enche os olhos.

Dessa forma, ainda que suas roupas não sejam tão cobiçadas quanto as dos blogs de moda, elas serão as que melhor transparecem o que você tem de dentro pra fora.

Se ficar engraçado, no mínimo você conquista a simpatia dos que sentem o mesmo que você e o maior perigo mora em trajar um padrão que diz algo, mas que diz uma coisa que você não é e nem gostaria de ser.

Mecenas: Vivara Lifestyle for Men

Suas roupas dizem um bocado sobre você e ajudam a traduzir a mensagem que quer passar. Cada vez mais os homens têm percebido a importância de ter um look coerente com seu estilo e de usar acessórios que ajudam a compor essa mensagem.

A nova linha “Lifestyle for Men” da Vivara foi pensada e criada para homens que gostam de se vestir bem e são reconhecidos por seu estilo. A nova linha, tem conceitos ligados à força, ao intelecto, ao espírito livre e aventureiro e à espiritualidade do homem contemporâneo.

A coleção é composta por pulseiras de couro ou prata e diversos pingentes colecionáveis os quais traduzem esse conceito étnico em linhas gráficas e texturas que exibem um contraste entre o preto e prata, formando símbolos do universo masculino.

As joias da nova coleção poderão ser encontradas em todas as lojas Vivara, quiosques e no e-commerce da marca.


publicado em 18 de Janeiro de 2017, 11:24
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Gabriella Feola

Editora do Papo de Homem e autora do livro "Amulherar-se" . Atualmente também sou mestranda da ECA USP, pesquisando a comunicação da sexualidade nas redes e curso segunda graduação, em psicologia.


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