É claro que não é sempre, mas pesquisas mostram que cerca de 70% dos divórcios são iniciados pelas mulheres, tendência confirmada nos términos em geral por minha memória e por muitos amigos e amigas.
Gostaria de fazer uma pesquisa informal com vocês – nada de formulário e gráfico, apenas comentários livres. A primeira pergunta não é bem a do título: “Em seu histórico de relacionamentos, quem mais tomou a iniciativa da separação?”. E a segunda contextualizo abaixo.
Por que muitas relações acabam, sendo que ambos não querem terminar?
Dei uma entrevista para o UOL sobre separação e percebi que é um tema recorrente nos relatos da Cabana PdH. Então pensei em explorar um pouco isso, contando com a ajuda de vocês.
O meu foco aqui não são os términos benéficos, em que realmente um (ou ambos) deseja acabar, por liberdade, por saber que aquilo é melhor. O que me interessa são as relações que terminam por uma impossibilidade de realizar o que ambos desejam: continuar.
É curioso comparar o começo com o fim. Quando um casal se forma, quando aparece aquela aura em ambos (no dia em que se conhecem ou após anos de amizade), é como se duas boias se enroscassem num oceano imenso, dois papéis numa ventania. Não é improvável que eles permaneçam juntos no meio de tantos ventos e ondas, tantas influências e forças caóticas? Para visualizar isso, imagine dois sacos plásticos nessa cena de American Beauty:
Link YouTube | Se depender das forças externas, é quase impossível construir uma relação duradoura
No entanto, muitos casais conseguem fazer o impossível por algum tempo, provavelmente porque a força que eles geram internamente é maior que os estímulos externos. Eles voam ou surfam juntos de acordo com uma certa autonomia, um direcionamento interno. O problema é que dentro de nós há outro mar, outra ventania. E talvez seja esse o motivo de muitos fins…
Se a relação passa a ser conduzida por venenos e monstros (como insegurança, ciúme, medo, ansiedade, raiva), chega um ponto em que o casal não tem mais força para tomar uma direção conjunta e então eles cedem a impulsos, forças e direcionamentos alheios. Os monstros ganham.
Uma história que se repete…
Se ignorarmos os detalhes e os motivos específicos alegados, muitos términos seguem um mesmo roteiro:
1. Ela se sente mal (“sozinha” é o principal adjetivo), não fala nada, tenta algumas coisas, deixa a insatisfação crescer sem o cara saber – ainda que ela reclame, ele nunca entende a gravidade – e decide terminar.
2. Ela termina listando motivos que ela só enxerga por causa da insatisfação, motivos que não são a causa da insatisfação verdadeira, mas que confundem o cara, tiram o foco, distraem da causa principal: o fato de ela não estar se sentindo penetrada, cuidada e amada. E não só isso: esses motivos são flechas que destroem o cara, acabam com sua potência de seguir e virar o jogo, mudar o rumo da história.
3. Ao ver o cara acabado (e às vezes reativo), ela comprova: “Ele não me ama, ele aceitou o término em vez de vir com tudo pra cima e dizer que me ama”. Mesmo que o cara diga “Eu te amo” repetidas vezes, há um medo por trás, então elas sentem a fraqueza daquilo e invalidam a tentativa. 😉
4. Ele, por sua vez, acredita que ela não quer mais mesmo, pra valer, sendo que isso é mentira, claro. Ele pergunta: “Você tem certeza? Pensou bem?”. E ela: “Sim, acabou”. Ao acreditar nisso, ele baixa a cabeça e age de um modo a criar cada vez mais complicação em vez de agir como namorado ou marido, apontar o monstro e dizer “Eu te amo, admita logo que tudo isso é medo e vamos pra cama”.
5. Quanto mais ela comprova o fim, se distancia e sonha com um homem que viesse com tudo e a pegasse no colo, calando sua boca em vários níveis, mais ele fica fraco e incapaz de ser esse homem (principalmente quando esse cara existe e o marido descobre). Não é por acaso que é tão fácil conquistar mulheres nessa fase, após o fim ou mesmo durante um relacionamento enfraquecido na qual ela está insatisfeita. Basta ser esse homem. E digo o mesmo para o (ex)marido: basta ser esse homem.
A gente não tem noção de quantos relacionamentos acabam sendo que os dois querem continuar!
Durante uma separação dessas, o homem deveria pegá-la com tudo a qualquer momento. E é isso o que muitas mulheres secretamente desejam enquanto estão acabando a relação e listando os motivos do fim. Parece a coisa mais absurda, mas é verdade.
Se quem dita o término são aflições mentais (ciúme, raiva, insatisfação, carência, orgulho, medo, preguiça), cabe a nós não deixar isso acontecer, não baixar a cabeça para esses monstros que tentam definir nosso futuro. Mas é preciso ter o mínimo de estabilidade pra isso, senão a energia do momento é maior do que nossas forças. Daí a importância de um treinamento contínuo que nos prepara pra quando o bicho pega.
Pesquisa entre homens e mulheres do PdH
1. Em seu histórico de relacionamentos, quem mais tomou a iniciativa da separação?
2. Lembrando de relações passadas e acompanhando histórias de casais próximos, você diria que há muitos casos de términos que aconteceram por pura falta de habilidade em lidar com os problemas, sendo que ambos queriam continuar?
É isso. A gente continua o papo nos comentários.
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