— Você viu que o baterista do Strokes é brasileiro?

— Cara, tem um brasileiro em Game of Thrones, sabia? Um garoto de 13 anos lá. Ele faz algum garoto lá…

— Não acredito! O Rodrigo Santoro vai participar de LOST! Que demais!

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#ficaselton
#ficaselton

Lá em março de 2012, o amigo Fred Fagundes contou um pouco dos perigos das realidades silenciosas. Uma delas, a mais legal delas, é que brasileiro não gosta de UFC, mas sim de ganhar. Não estamos nem um pouco preocupados com o esporte em si, desde que estejamos ganhando. Foi assim com o Fórmula1, que perdeu 60% de audiência nos últimos 10 anos, com o tênis (depois que o Guga começou a não mais ganhar tudo de todo mundo).

Se formos mais a fundo nisso, perceberemos que, mais do que ganhar, gostamos de nos sentir pertencidos. É assim com as frases que coloquei no começo desse texto. Fabrizio Moretti foi para os Estados Unidos com os pais quando tinha 4 anos, mas é (ou foi) gostoso dizer que tem um baterista brasileiro na banda que já foi a mais importante do cenário do rock mundial. Ficamos felizes quando sabemos que milhões de pessoas de outros países estão assistindo a dois segundos de um brasileiro aparecendo em uma série com audiência gigantesca, como é a Game of Thrones e como foi, na década passada, LOST.

Fazemos parte de algo importante.

E isso não é nem uma crítica. Não acho demérito essa vontade e essa curiosidade. Provavelmente a pessoa que colocou no Ego que o Selton Mello estaria cotado para entrar em Game of Thrones como o príncipe Doran Martell, irmão do Oberyn Martell, foi proposital, sabendo ou não que sua fonte — a notícia publicada no site BreatheCast — era falsa. Pegaram o nosso ímpeto de nos sentir pertencidos (brazucas na série mais foda do momento) com a necessidade de vários cliques e muita gente caiu feito pato.

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Provavelmente o Selton Mello é mais útil fazendo filmes aqui do que atuando lá. Mas, toda a sorte do mundo para a dupla Padilha/Moura na concepção da série do Netflix sobre a vida do traficante Pablo Escobar, que tem tudo pra dar certo e fazer, de fato, boa vitrine pro Brasil.

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados