Se eu fosse aprender inglês de novo, é assim que faria

Apesar da internet e de todas as ferramentas disponíveis, a quantidade de brasileiros fluentes na língua inglesa é muito baixa: as pesquisas apontam algo entre 2% e 5%, dependendo da fonte. Considerando que pelo menos 1/3 da população tem acesso à rede mundial de computadores (e, por conseguinte, possibilidade de aprendizado), o número de fluentes é muito baixo.

Por que isso ocorre? Porque ferramentas não bastam. Aprender uma segunda língua é uma questão de mindset, hábitos e material adequado.

A formação de hábitos em si não é uma dificuldade apenas no aprendizado de línguas, mas em qualquer área da vida. Há uma vasta literatura sobre o assunto, abordando força de vontade, motivação, criação de sistemas de suporte, etc. O segredo aqui é começar com uma dose de estudo que você consiga manter com certeza e fazê-lo por uma determinada quantidade de tempo.

E é aqui que entra o mindset. Tempo.

Quanto tempo você acha que precisa para aprender uma nova língua?

Será que bastam dois anos? Três? Quatro? Isso depende de seu objetivo. Se conseguir ter uma conversa casual é o bastante para você, não será necessário estudar tanto quanto alguém que quer ser professor universitário. Além disso, o mercado está cheio de mitos sobre aprendizagem, principalmente porque isso favorece o desenvolvimento de escolas de línguas e seus infinitos cursos de formação, o que atrapalha o senso das pessoas sobre o que é ou não possível.

Claro, o material de estudo vai influenciar completamente seu desenvolvimento. Por exemplo, o dicionário de inglês Oxford, 2ª ed, tem vinte volumes e contém 171476 palavras atualmente em uso na língua inglesa. Se você acha que aprender inglês é saber aquelas palavras, isso será uma tarefa sobre-humana e você nunca vai encontrar motivação e tempo para conclui-la. Entretanto, sendo um pouco mais esperto e escolhendo o material adequado, você pode ir longe: um grupo de apenas 25 palavras correspondem a 33% de todo o material impresso em inglês; expandindo para 100 palavras, você pode cobrir 50% e daí em diante.

Você precisa ser esperto escolhendo o material, porque ele é mais importante que o método. Não importa como aprenda aquelas 100 palavras, você vai cobrir 50% dos materiais impressos. E não importa o quão perfeito seja sua aprendizagem, você nunca vai memorizar um dicionário.

Eu sou bem fissurado com a área de aprendizagem, por técnicas de memorização, modos de aumentar a eficiência etc. Já li alguns livros na área de meta-aprendizado, principalmente no que toca à aprendizado de línguas. Então, esse pequeno passo a passo a baixo junta tudo que aprendi até agora (inclusive experiência pessoal), numa rotina que espero te ajudar a aprender inglês, definitivamente.

1. Defina o que é fluência para você

O primeiro passo é definir aonde você está indo, para que você saiba quando chegar lá. Quais são suas necessidades: você precisa aprender para incrementar o currículo profissional, para consumir conteúdo, ou apenas por hobby? Dependendo de seus objetivos e de sua carga de estudos, você define quanto tempo vai levar para chegar lá.

2. Os melhores materiais trarão os melhores resultados

Como eu disse, você precisa pegar o material certo. Se você é de uma área técnica, digamos, engenharia, e quer aprender a se comunicar profissionalmente, logo após aprender o basicão, você vai precisar mergulhar no vocabulário técnico. A recomendação geral é: fique longe de materiais extensos ou caros, pois eles não foram desenvolvidos focando em efetividade.

Para começar, seria interessante comprar um daqueles livros de bolso para viagem, com frases úteis que as pessoas usam no dia a dia, de modo a te habituar com a língua. Junto a isso, alguma apostila pré-vestibular na área (elas costumam ser bem resumidas-direto-ao-ponto), para te dar uma ideal geral da gramática e estruturação da língua. E claro, ter em mãos a lista das 100 palavras mais usadas da língua.

Em paralelo, você pode usar alguns sites de aprendizado de línguas gratuitos, como o Livemocha ou o mais recente Duolingo. São bons para te dar uma sensação de progresso enquanto aprende.

3. Defina um calendário de estudo

Baseado em seu material de estudo e em sua meta, você pode definir a carga de estudo diária. Novamente, selecione uma dose mínima efetiva, algo que vai conseguir manter de todo jeito, nem que seja 30 min por dia. Claro, quanto maior a carga diária, mais rápido alcança o que deseja; mas é interessante não exagerar pois vem a atrapalhar a formação do hábito em si.

4. Perca alguma coisa se falhar

O que você vai perder se não conseguir o que quer?

Nada, certo? Você já tentou aprender inglês antes, não conseguiu e não perdeu ativamente nada; pode ter deixado de ganhar em oportunidades, mas não perdeu no sentido real da palavra. Como o ser humano parece ser movido a perdas, você precisa apostar alguma coisa para ajudar a motivar o aprendizado.

Sugestão: entregue um valor bem alto (para os seus padrões), digamos metade de um salário na mão de um amigo e diga a ele para só devolver se você conseguir manter uma conversa com ele por 10 minutos em inglês em 3 meses, por exemplo. Caso contrário, ele dá o dinheiro para o adversário do seu time de futebol ou algo do tipo.

Agora sim, você vai ter algo real a perder.

5. Mude tudo na sua vida para inglês

Faça uma imersão no idioma.

Celular, computador, áudio dos filmes e seriados (agora legendas são suas amigas), livros, tudo! Especialmente se você tem um hobby, como cozinhar, patinar ou jogar futebol, comece a consumir material da área que você curte na língua de destino. Isso vai te ajudar com a motivação de continuar estudando e facilitará sua vida.

Se possível, compartilhe sua curva de aprendizado. Crie um blog e vá contando sua experiência, com o passar do tempo, comece a escrever em inglês e busque feedback de amigos. Toda essa rede vai acelerar o processo.

Crianças praticando o inglês

Um bônus para você

No que toca à aprendizado, repetição simples parece ser um das técnicas mais fracas; faz muito sentido você buscar meios alternativos. Por exemplo, testar a si mesmo é mais eficiente do que apenas repetir o conteúdo e testar a si mesmo com intervalos de tempo é mais eficiente do que fazer todos os testes juntos.

Para te poupar a pesquisa na literatura em busca do que funciona ou não, recomendo que você busque diretamente mais informações sobre o método de repetição espaçada. Ele é comprovado cientificamente e é uma arma poderosa para obtenção de vocabulário.

Há alguns programas, como o gratuito Anki, baseados nesse princípio. É bem simples: o programa vai te mostrando flashcards (de um lado a pergunta e do outro a resposta) e você vai diz se foi fácil ou difícil de lembrar daquilo (dando uma nota). O algoritmo do programa calcula o tempo ótimo para te mostrar aquela carta de novo (exatamente quando você está prestes a esquecer), o que maximiza o aprendizado. A vantagem é que existe uma biblioteca bem vasta de flashcards para o programa, inclusive para o aprendizado de inglês.

Para os interessados em meta-aprendizado em si, recomendo:

E você, como foi sua experiência no aprendizado de inglês? Alguma dica a compartilhar?


publicado em 31 de Janeiro de 2013, 13:56
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Paulo Ribeiro

Marido, escritor e estrategista da In Loco Media. Escreve sobre filosofia e crescimento pessoal sem mimimi no portal Estrategistas e tem uma lista de recomendações de leituras para mais de 8 mil pessoas. Levanta peso do chão e está aprendendo data science do zero no Data Noob.


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