Fico contemplando como é comum ver pais apontarem culpados quando a criança se machuca: "Chão feio! Não pode machucar o fulaninho!", "Porta má!" ou coisas parecidas.

Basicamente estamos ensinando as crianças a sempre procurarem culpados na vida, e não em aceitar que na vida a gente vai se machucar, sim, ou ficar chateados, sim, e que o melhor é ter resiliência, auto-compaixão e um coração aberto, capaz de aceitar os altos-e-baixos da vida.

Se a gente sempre ensina a criança a procurar inimigos ou culpados, quando ela tiver sua primeira decepção amorosa (ou ficar desempregada, ou tiver suas expectativas frustradas de alguma forma) ela vai, com certeza, culpar a outra pessoa pelo quê ela esta sentido.

Enquanto que, se ensinarmos à criança de que isso é normal, que não há culpados, que a gente pode acolher nossa dor e ter uma estabilidade interna pra passar por isso, a decepção amorosa vai doer, sim, mas a pessoa vai se recuperar muito mais facilmente e sem criar rancor pela outra pessoa.

[Talvez isso também ajude a diminuir os crimes passionais no futuro.]

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No meu caso, sempre que o Miguel se machuca, ofereço colo, dou beijos e abraços, assopro o machucado, ajudo ele a entender o que está sentido, acolho a dor dele.

Mas o mais importante: não ofereço garantias de que aquilo não vá acontecer de novo, não aponto culpados e não faço julgamentos, apenas tento apontar as causas e consequências de cada ato.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.

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