Road Trip pelo Brasil - Parte II

Continuação da viagem pelas estradas do Sul e Sudeste do Brasil. Após sair de Porto Alegre e passar pela Freeway, pela Estrada da Morte e pegar ondas na Praia Brava, finalmente a chegada em São Paulo. Mas não foi nada tranquilo.

Rumo a Sampa e o choque de realidade

Estrada mais perigosa do mundo, na Bolívia. Fichinha perto do que enfrentei nas rodovias paulistas.
estrada-mais-perigosa

Saindo da serra e aproximando-se cada vez mais do estado de São Paulo, os sinais de que a locomotiva do Brasil estava por chegar tornavam-se cada vez mais evidentes. A tráfego de caminhões se tornou algo desgastante. Cheguei a dirigir por 40 minutos cruzando fileiras de caminhões até ultrapassar o primeiro automóvel.

Entretanto, o desenvolvimento que simboliza o estado mais rico do país não estava muito evidente nas cidades periféricas à rodovia federal que cruza o estado de São Paulo. Aquela contagiante alegria por desbravar essa maravilhosa nação diminuiu significativamente ao abastecer em postos de combustíveis nos quais me ofereciam garotas de 12 anos como acompanhantes em troca de um prato de comida e mais cinco reais.

Em alguns momentos o marcador de combustível chegava a entrar na área da reserva já que eu não tinha coragem de realizar paradas. Os postos de combustíveis eram freqüentados por viajantes com os semblantes estereotipados de contrabandistas, assaltantes e outros tipos que pareciam ter saído dos tensos episódios de Carga Pesada. Aquela, sem dúvida, era uma região em que o desenvolvimento está custando para chegar.

Escapando por um triz

Meu medo deixou de ser paranóia quando um motoqueiro surge do acostamento com uma arma na mão sinalizando para mim parar. Os bons ventos sopraram quando surgiu um enorme declive que me permitiu sair daquele lugar em alta velocidade.

Seguindo em frente por dentro do estado de São Paulo, entrei no Parque Estadual da Serra do Mar, onde percorri mais de uma centena de quilômetros sem encontrar nem um único posto de combustíveis. Quando comecei a ficar preocupado diante das últimas gotas de álcool no tanque, uma enorme placa indicou o “único posto dos próximos 120 quilômetros”.

Com combustível suficiente para atravessar a aparente infinita plantação de bananas que cercava as fechadas curvas das esburacadas estradas paulistanas, cheguei ao anoitecer no único trecho de toda a minha viagem em que julguei como absolutamente inadmissível a falta de atenção das autoridades para com a estrada.

A verdadeira Estrada da Morte

O pequeno trecho da rodovia Régis Bittencourt, encravado na região serrana entre Miracatu e Juquitiba, é assustador para qualquer motorista que trafegue a noite. Nunca havia conhecido uma rodovia sinalizada com placas que informavam “Cuidado! Trecho com alto incidente de acidentes fatais”.

Posteriormente, soube por moradores da região que guincheiros atiram óleo no asfalto daquela região no intuito de lucrarem com quebras mecânicas e ocorrência de acidentes.

A estrada alterna em trechos que ora possuem duas pistas de subida e uma de descida, ora duas de descida e uma de subida. O tráfego intenso de caminhões complica muito a segurança da principal via de ligação entre o Sul e o Sudeste brasileiro.

Na estrada que escoa a produção industrial paulista para o Sul do país, as pistas secundárias são completamente danificadas pelo excesso de peso dos veículos que transportam cargas pesadas. Nos trechos em que há a segunda pista, os automóveis podem optar por desviar dos buracos da via principal aventurando-se na ainda mais desgastada pista lateral.

As jamantas que não podem parar em declives acentuados, para não atropelarem veículos menores, invadem a pista contrária. Os motoristas que deparam-se com esses caminhões descendo a serra desgovernados na contra-mão possuem como acostamento apenas um alto desfiladeiro.

Quando não somos surpreendidos por situações como essas, muitas vezes somos nós quem temos de jogar o carro na pista contrária na tentativa de evitar buracos capazes de, tranquilamente, engolir um pneu inteiro. Nesse pequeno trecho de uma rodovia federal, o condutor conta apenas com a própria sorte.

Pela primeira vez na viagem, fiquei tenso dirigindo e, conseqüentemente, muito cansado.

"Chopps" em SP, mais estrada para o Rio

Vivo, chegando em São Paulo - capital, parei para descansar e prosseguir viagem logo em seguida. No dia seguinte, não pude deixar de passear um pouco pela excitante cidade da garoa. De todos os lugares fantásticos que visitei na cidade certamente gostaria de destacar o Bar Brahma no centro e seu excelente “chopps”.

Em direção ao estado do Rio de Janeiro dirigi por ótimas estradas estaduais paulistas. Senti um pingo de adrenalina nos “tapetes” do Rodoanel Mário Covas e da Rodovia dos Bandeirantes com seu elevado limite máximo de velocidade.

Foram tantas as paradas por cidades interessantes, que eu precisaria do espaço de vinte artigos para que pudesse relatar tudo que vi por lá. Mais uma vez, o patriótico sentimento da grandiosidade do nosso país estava presente.

Seguindo pela também bem conservada Rodovia Presidente Dutra, logo estava chegando no estado do Rio de Janeiro. Os sinais da violência urbana carioca já estava presentes em um posto de combustíveis cujo segurança ostentava um .380 na cintura e na blitz da tropa de Segurança Nacional em que fui parado.

Dutra de manhã… visibilidade quase nula graças a neblina
via-dutra

Boas-vindas calorosas

Mais um ardiloso e perigoso trajeto no interior de uma serra e lá estava a cidade maravilhosa embaixo de um grande temporal. Entrando na cidade pela Avenida Brasil tive a “sorte” de cruzar por cinco acidentes de trânsito na pista molhada, um tiroteio entre polícia e criminosos do morro da Penha, e muito engarrafamento.

Algumas horas depois e já estava com as malas no quarto de hotel no Jardim Botânico. Chamei o Táxi e fui beber um Glenfiddich Puro Malte na cadeira onde Vinícius e Tom compuseram Garota de Ipanema.

Vista do hotel
cristo

Após desfrutar de muitos bons momentos que o Rio me proporcionou, iniciei meu retorno pelos mesmos caminhos por onde já havia passado. Minha última parada da viagem foi na limpa e organizada Curitiba, onde tomei um café expresso na charmosa Ópera de Arame.

De volta pra casa, valeu a pena?

Chegando em casa e repassando em minha cabeça todos os momentos dessa experiência única não pude deixar de refletir no prazer que é transformarmos uma idéia maluca em realidade.

É ótimo dirigir, dirigir e continuar dirigindo ao som de Harley Davidson Road Songs sem possuir nem sequer um mapa para consultar. A liberdade proporcionada por conhecermos lugares diferentes pela simples razão de termos simpatizado com um nome em uma placa de orientação é um sentimento indescritível.

Estrada, estrada... e mais estrada
estrada-estrada

Não tenho como descrever o que percebemos ao encontrarmos o sorriso admirado do “manezinho da ilha”, a disciplina no trânsito do motorista paranaense, a incansável energia do paulistano, a malandragem dos cariocas que encaixam seus carros desengatados em vagas diminutas graças à um “empurrãozinho”, assim como todas as diferenças do brasileiro característico.

Minha única insatisfação é saber que cruzei, sem conhecer, muitas cidades e lugares maravilhosos esquecidos pelos guias de turismo. Eu posso garantir que esse é um enorme, fantástico e diversificado país. Quando é que você pegará a estrada para constatar o mesmo?

Agora, penso em uma possível viagem até o nordeste! Quem sabe parto de lá em direção a Manaus? Também podia costurar à volta para o Sul através de Foz do Iguaçú!

Sei lá, é melhor sair sem plano algum…


publicado em 19 de Junho de 2007, 11:20
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Rodrigo Almeida

Engenheiro, apaixonado pela vida e por qualquer coisa com um motor potente, nostálgico entusiasta de muitas daquelas boas coisas que já não mais se fazem como antigamente.


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