Desde o final do ano passado, o PapodeHomem está mergulhado em um projeto ambicioso: realizar um projeto sobre a construção das masculinidades no Brasil, incluindo uma pesquisa nacional sobre os homens, seus problemas, suas dores, seus desafios — um dos maiores estudos já feitos sobre o tema no Brasil.
Os resultados completos da pesquisa (viabilizada com o apoio de Natura e de Reserva) serão divulgados em agosto, mas, iniciando uma série de artigos que vão trazer de números do levantamento a pílulas em vídeo com trechos das dezenas de entrevistas que compõem o documentário, tomo a liberdade para adiantar dois dos dados que mais mexeram comigo.
68% dos homens declaram ter o pai como principal referência de masculinidade, mas só 1 em cada 10 (10.6%) já conversou com o pai sobre o que significa ser homem.
Analisados separadamente, os números podem não dizer tanto. Afinal, é perfeitamente compreensível que a maioria de nós tenha a figura paterna, o homem que mais conviveu conosco desde o príncipio da nossa formação, como principal parâmetro.
O que mexeu comigo quando o segundo número veio à tona é que, sem diálogo, não é exatamente os nossos pais, como um todo, que estamos mirando. É a imagem que compreendemos deles.
A imagem paterna, aprendi com o amigo psicólogo Leonardo Piamonte, é construída na presença e na ausência. O que um pai nos diz, nos fala ou demonstra é tão importante para a nossa percepção de quem ele é quanto as eventuais ausências ou o não dito.
Construímos em nosso imaginário uma estátua à imagem e semelhança do homem que enxergamos. Forte, resistente, íntegro, imune às dores da vida (que na maior parte desconhecemos, pois o silêncio impera sobre isso e muito mais) ou capaz de ultrapassar qualquer barreira que lhe é imposta. Que homem, não? Quem não quer ser assim?
Mas a pergunta que eu deixo é pra cutucar um pouco mais. Quem, na prática, consegue ser assim? Ainda mais o tempo inteiro?
Conforme amadurecemos, ser homem vai ganhando contornos mundanos. E essa estátua tende a ruir. Seja por nos darmos conta na prática, ao tentar chegar lá, que se trata de uma expectativa inviável, seja por nos darmos conta de defeitos, falhas e outras rachaduras que se aprofundam para além da superfície do pai imaginado.
Esse é um caminho potencialmente recheado de dores. Entre o pai-herói e o encontro com o homem que realmente ele é, também precisamos achar o homem que somos ou desejamos ser.
Abrindo um pouco mais da minha vida, depois de uma discussão áspera, cheguei a ficar praticamente um ano sem falar com meu pai por acreditar que existiam diferenças irreconciliáveis entre nós. Os anos de me guiar pelos exemplos dele, em silêncio, ou fazer diferente às escondidas, terminaram aos gritos.
Hoje me dou conta que aquele momento torto, da cisão, talvez tenha sido o início de um tempo de reencontro, em que os dois se colocam como quem são, ao invés de mirar em quem gostariam que o outro fosse.
Fico feliz, mas como pai que agora sou, espero que meu filho se encontre comigo e com o homem que sou no dia a dia, e não no confronto com suas expectativas.
E você, já falou com seu pai sobre o que é ser homem?
Mecenas: Natura Homem
Novo Natura Homem Dom é inspirado no homem que tem o dom de unir sua força e doçura. Acreditamos que há diferentes formas de masculinidade e apoiamos esse movimento.
O homem de hoje não precisa encarar sua realidade de forma tradicional ou radical. Não há mais motivos para ser extremista. Esse novo homem aprendeu a seguir sua compaixão e decidiu agir da sua forma no mundo, encontrando balanço para quais batalhas valem a pena encarar e como as enfrentará.
Natura Homem Dom celebra o homem que chora, o homem que ri, o homem que demonstra sentimentos, o homem que diz 'Te amo'.
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