Já deixo bem claro aqui que eu não sou contra o uso das redes sociais. De fato, por meio delas você pode se conectar com pessoas com quem não fala há anos, fazer negócios, se atualizar sobre a vida de quem gosta, ler, se informar e até mesmo entrar em contato com coisas que de outra forma não pipocariam na sua frente. Sim, as redes sociais podem ser do bem.

Porém, elas estão recheadas de pessoas. E, como tudo que é feito por elas, acaba espelhando um lado de nós mesmos que nem sempre é o nosso melhor ângulo.

Então, se nós não estamos saindo para ver o que está acontecendo no mundo, conversar, trepar, beber com os amigos, visitá-los em casa, andar de bicicleta pela cidade, tocar um instrumento numa banda, praticar um esporte ou simplesmente caminhar pelo parque, não me parece que a culpa seja de todo do fato de termos em mãos redes que facilitem o contato remoto e ofereçam entretenimento a um clique, mas sim um reflexo da nossa própria preguiça e falta de interesse pelos outros, pelo que eles fazem e como estão realmente se sentindo.

Vejo as redes sociais da mesma forma como vejo um pincel ou um violão. São ferramentas, instrumentos. Você tem a opção de usá-las ou não. Isso não o torna melhor ou pior como ser humano. E, da mesma forma, são tão nocivas quanto tocar violão o dia inteiro e se esquecer de dar atenção à filha quando ela chora.

O problema não é o violão ou o pincel. É a própria obsessão, o próprio vício e tudo mais que se esconde sob estes hábitos.

Então, de certa forma, um protesto contra as redes sociais não me parece exatamente um protesto contra as redes sociais. É mais como se fosse um protesto contra a nossa falta de empatia, nossa mania adolescente de olhar apenas para o próprio umbigo, de reclamar inutilmente e não darmos a mínima para o que os outros precisam.

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Aqui falo como quem está com o dedo apontado para a própria cara, afinal, estou fazendo parte disso, indicando o vídeo e incentivando-os sutilmente a divulgarem pelas redes sociais.

É por isso que, ainda que com um pé atrás, fico feliz quando vejo um protesto como este. E mais feliz ainda quando percebo a ironia que o permeia. É como ver o próprio mecanismo que sustenta as redes sociais se corroendo por dentro. Está dando cupim na cultura hiperconectada.

E isso é um sinal de que algo em nós já desconfia de um problema mais profundo.

Link Vimeo | Um protesto contra as redes sociais que se espalha pelas redes sociais. Bonito isso, não?

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>