Homens são criaturas notórias pela resistência a pedir ajuda. Permita-me brincar com o estereótipo e recordar a relutância em consultar o Waze ou perguntar pelo caminho no bar da esquina. Todos os textos DIY em sites diagramados em verde escuro e simulações de madeira (cof cof). Todas as desculpas anuais para fugir da entidade no jaleco, mesmo quando a coisa aperta.
Meu pai adiou uma simples laparoscopia para remover uma pedra na vesícula por uns três anos – isso depois de ter sofrido com uma fístula cerebral e só ter me contado algumas semanas depois que estava reaprendendo a ler.
Guilherme tempos atrás me contou, assim como se não fosse nada, que havia começado seu tratamento para a disfunção que lhe impedia de respirar direito. Eu perguntei o que havia acontecido. Ele respondeu que nada. Então, chocada, eu perguntei se ele havia simplesmente nascido assim e se a vida toda ele havia respirado mal. Ele respondeu que sim.
Vejam bem: este homem passou trinta anos de sua abençoada vida sem respirar direito e tudo ok, vida que segue.
Risadas à parte, é bastante positivo que estejamos conversando sobre isso e que homens contem suas experiências, troquem conselhos e conversem sobre saúde. Aqui no PdH, já temos até coluna periódica.
Pessoas do sexo masculino estão sujeitas a problemas de saúde de toda a sorte, e alguns outros em específico. Se você não é de procurar um médico por qualquer gripe, talvez perceber um nódulo nos testículos te assuste – e também ajude a encarar a necessidade de procurar ajuda.
Fato é que homens adultos morrem mais do que mulheres adultas e um dos principais motivos é a negligência com a própria saúde. Os dados de 2014, liberados este ano pelo Ministério da Saúde, mostram que dos óbitos entre pessoas de 20 a 59 anos naquele ano, 68% foram em homens. Entre as causas, os tumores ficam como terceira maior causa de mortalidade masculina.
Felizmente, o tumor nos testículos não costuma ser muito frequente e, comparado ao tão falado câncer de próstata, tem índices de mortalidade mais baixos. A importância de falar dele, no entanto, está na faixa etária mais atingida: homens jovens, entre 15 e 50 anos, a maioria dos que nos leem. Na verdade, é um dos tipos de cânceres que mais atinge homens jovens segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Para entender melhor o assunto e trazer informações relevantes, conversei também com a Dra. Cynthia Lemos, oncologista clínica do Grupo Américas. Ela contou que algumas evidências já sugerem que a incidência desse tipo de tumor vêm aumentando, mas as causas disso ainda não estão muito claras.
O que é o tumor de testículo e como identificá-lo
O nome é bastante autoexplicativo: um tumor, sentido na forma de nódulo ou massa rígida, que cresce e fica perceptível ao ver ou apalpar o saco escrotal e seus arredores.
Embora sua presença não seja sempre perceptível, o ideal é que homens realizem mensalmente o autoexame. Para fazê-lo, basta ficar de pé, em frente ao espelho e procurar por alterações visíveis na região. Depois, é preciso examinar cada testículo com as mãos e os dedos, bem como identificar o epidídimo – canal pelo qual o transporte do esperma acontece – para diferenciá-lo de nódulos. O Inca ensina como fazê-lo em detalhes aqui e também chama atenção para o fato de que o exame deve ser idealmente realizado após um banho quente, já que o calor relaxa o saco escrotal e facilita todo o processo.
Tumores nem sempre são malignos, mas perceber um requer uma visita ao médico, de preferência um urologista. Exames de ultrassonografia combinados a possíveis outros vão determinar o curso do tratamento e uma biópsia vai detectar malignidade, se for o caso – e aí estamos falando de câncer de testículo.
E se for câncer?
A Dra. Cynthia ressalta que, como para todo câncer, aqui também o diagnóstico precoce favorece bastante as chances de cura. Para o câncer de testículo, em específico, ela conta que as perspectivas são bastante favoráveis e que o paciente é curado na maioria dos casos.
Ou seja, sem desespero, cabeça no lugar e sem medo de marcar a consulta. Quanto mais cedo, melhor.
Ainda segundo ela é bem comum, também, que a doença seja confundida com inflamações ou infecções nos testículos e epidídimo – o que recebe o complicado nome de orquiepididimite. Mas, se for um tumor maligno, o jeito é cuidar. Sem escapatória.
O principal pilar no tratamento é a cirurgia, que consiste na retirada do testículo afetado – a sua substituição por uma prótese é uma opção.
Caso a operação retire apenas um dos testículos, a fertilidade não deve ser permanentemente afetada, nem a função sexual – o homem continua sendo capaz de transar normalmente.
No caso da retirada dos dois testículos ou da retirada de um só seguida de tratamentos como quimio e radioterapia, é possível optar por congelamento do esperma caso o homem queira filhos no futuro. Quanto à função sexual, no caso da dupla retirada, será necessário tratamento de reposição hormonal sob orientação médica porque os níveis de testosterona devem ficar baixos. Dra. Cynthia lembra, no entanto, que é extremamente raro que um homem precise retirar os dois testículos e também que a função sexual envolve não só fatores físicos, mas também psicológicos.
Por isso e todos os outros impactos que um susto como esse causam na vida de um homem, é bastante importante estar cercado de cuidados de saúde integrativos e também uma leal rede de apoio e carinho. Procurar ajuda fora do consultório médico, no ombro de gente que está ao seu lado, também não pode ser tabu.
Quais são os fatores de risco? Preciso me preocupar?
Apesar de ser um tipo de tumor raro e de baixa mortalidade, o autoexame está indicado para todos os homens – melhor prevenir a remediar. Mas há, de fato, grupos mais vulneráveis a doença do que outros.
A formação dos testículos acontece no interior do abdômen durante a gestação. Seu deslocamento para a bolsa escrotal acontece seguido do nascimento do bebê. Quando isso não acontece, o homem tem uma condição chamada criptorquidismo e está sob maior risco de desenvolver este tipo de câncer.
Outros fatores de risco são histórico pessoal ou familiar da doença, infertilidade e infecção por HIV. Outros sintomas que podem acompanhar a presença do nódulo são aumento de dor nos testículos, dor pélvica e, raramente, aumento das mamas por causa das alterações hormonais causadas pelo câncer.
Em outras palavras, preocupar-se significa cuidar de si e buscar ajuda quando necessário. Sim, você precisa. Todos precisamos. Cultivar o papo e deixar resistências de lado e buscar viver com mais qualidade e saúde pode ser, sim, um valor da masculinidade.
Mecenas: Americas Serviços Médicos
É com a experiência de quem soma mais de 2 milhões de atendimentos em pronto-socorro, 212 mil internações e 122 mil cirurgias por ano que fazemos um apelo sobre a sua saúde: fazer check-up periódico é a melhor chance de viver mais e melhor.
Acontece que os homens tendem a adiar a prevenção e perdem oportunidades de ouro de preservar sua qualidade de vida. Por isso, nesse Novembro Azul, nós do grupo Americas Serviços Médicos firmamos uma parceria com o Papo de Homem para levar, até vocês, os argumentos que faltam para tratar a saúde como prioridade. Nada de deixar para ler depois, certo?
Contribuiu com o conteúdo a nossa especialista Cynthia Lemos Ferreira.
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