Todo mundo tem um amigo que está sempre lá pra todo mundo. Aquela pessoa que tem uma certa sensibilidade, fala a coisa certa e sempre faz com que você saia de uma conversa se sentindo melhor, pronto pra lidar com seus problemas de frente.

Às vezes, a pessoa nem exatamente é do tipo que propõe soluções, mas ela ouve de um determinado jeito que se torna agradável simplesmente estar ao lado dela. Você se sente acolhido.

Outro tipo bem comum também é o amigo que faz todo mundo rir. Faça chuva ou sol, ele sempre tem uma piada na manga. Mesmo quando o clima pesa, é capaz de quebrar a densidade do ar com uma boa sacada na hora certa. 

Parece que está sempre tudo no lugar com eles. A sabedoria e a calma estão lá, eles seguem a vida bem melhor do que nós, pessoas preocupadas e ocupadas, incapazes de lidar com os problemas sem cair num mar de emoções conflituosas.

Talvez não seja bem assim.

Esse mês vem ganhando força a campanha Setembro Amarelo, criada pelo CVV para gerar atenção e conscientização para a realidade da depressão e suicídio.

Com isso, vários artistas e famosos passaram a expor como lidam com seu próprio mundo interno e suas instabilidades.

O Padre Fábio de Melo abriu que já teve crises de pânico. O ator Eduardo Sterblitch também revelou ter transtornos psiquiátricos e fazer tratamento. É importante notar que é um padre e um comediante.

Uma figura tida como aquela que está sempre pronta a amparar, ouvir e acolher. E a outra que aprende a vida inteira todas as técnicas que vão fazer os outros rirem. Os dois famosos, reconhecidos, prestigiados.

Parece distante, mas na verdade você sabe que tem amigos como eles, cuja fachada mostra uma certa resiliência e leveza, mas por dentro algo bem diferente pode estar acontecendo.

No artigo sobre o nosso documentário, o "Precisamos falar com os homens?", o Guilherme Valadares expõe alguns dados bem interessantes sobre isso.

Eles se suicidam quatro vezes mais do que elas no Brasil; 56,5% têm medo de abrir seus maiores anseios e dúvidas até para os melhores amigos; sofrem com a expectativa social e de boa parte das mulheres para que sejam os principais provedores do lar; são 95% da população no sistema carcerário brasileiro; estão mais expostos ao consumo excessivo de álcool e drogas; se matam todos os dias com facas, revólveres e carros — 91.4% das vítimas de homicídio são homensSofrem de depressão em silêncio e 80% lidam com alexitimia, uma condição expressa pela dificuldade em interpretar e expressar os próprios sentimentos e emoções.

Eu tendo a acreditar que esses problemas também são coletivos, não só individuais. Há um conjunto de crenças e hábitos envolvendo nosso modo de vida que nos conduz, tensos e acelerados, a esse desfecho.

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Porém, isso não nos tira a responsabilidade de agir sobre a questão com as ferramentas que possuímos agora. 

Eu já fui muitas vezes esse amigo que oferece ajuda. Também já fui o amigo que tenta resolver tudo com piada.

Mesmo posando de conselheiro piadista, já perdi a conta de quantas vezes precisei e fui acolhido por outros amigos que estiveram lá com o olhar afiado e perceberam que era a hora de estender a mão, mesmo quando eu não conseguia falar. Não sei o que seria de mim hoje sem essas pessoas.

Imagino que o mesmo possa ter acontecido com você. Por isso, olhe bem para esse seu amigo, pergunte como ele está de verdade, acolha. 

Ainda que não seja o seu caso, talvez valha considerar a possibilidade.

Tem gente que não vai pedir ajuda e você também vai ter de encontrar como fazer isso sem ser chato e invasivo. Mas é importante, no mínimo, mostrar que você está lá, olhando por ele, preparado para cuidar no que ele precisar.

Você não precisa chegar cheio de conselhos e soluções. Não é bem isso que ajuda, na maioria das vezes. É uma questão de fazer-se disponível, nem que seja para assentir com a cabeça e sentar ao lado em silêncio, compartilhando da dor.

Seu amigo, cara. Fala com ele.

Esse gesto pode fazer uma grande diferença.

Ok, mas como ajudar?

Eu recomendo todo o percurso do Alex Castro, dos Exercícios de Atenção. Lá tem maneiras práticas de posicionar-se de forma a ser mais útil para as pessoas. 

Para a questão exposta nesse artigo, indico em especial esses:

Mecenas: Natura Homem

Natura Homem acredita que existem tantas maneiras de exercer as masculinidades quanto o número de homens que existem no mundo. Não é preciso ser durão e aguentar tudo calado. Acolher os amigos com afeto também é uma forma de ser e estar no mundo.

Seguimos com os nossos ritmos, atentos aos outros com empatia e sem colocar ainda mais pressão sobre os nossos ombros.

Seja homem? Seja você. Por inteiro. Natura Homem celebra todas as maneiras de ser homem.

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>