Computadores, celulares, televisões e a Internet são ferramentas proveitosas e fascinantes, e seus avanços são de fundamental importância para a humanidade. A utilização em excesso, a dependência e a substituição de processos naturais do desenvolvimento infantil pelo torpor de monitores trazem, também, riscos à saúde que podem precisar de melhores administrações do tempo e atenção dos filhos.
Segundo o Manual de orientacão #Menos Telas #Mais Saúde da Sociedade brasileira de Pediatria, os primeiros anos de vida são muito importantes para o desenvolvimento de qualquer criança. "São diferentes estruturas e regiões cerebrais que amadurecem e não só a nutrição/oral, mas todos os circuitos sensoriais". A presença da mãe, do pai, enfim, da família, trabalha estímulos e cuidados do apego e que não podem ser substituídos por telas e tecnologias. Linguagem, sono, habilidades cognitivas e sociais são dificultados pela passividade da tela.
De acordo com o ebook “Desafios da parentalidade e o bem-estar integral dos brasileirinhos”, que reúne 3 grandes estudos da Nestlé que visam avaliar e compreender a saúde das crianças, em uma perspectiva mais integrada e ampliada, nossas crianças estão mais sedentárias:
- 39.1% delas praticam pelo menos trinta minutos de atividade física por dia (menos da metade das crianças)
- Praticamente metade, 44.9%, jogam videogame por pelo menos trinta minutos, muitas vezes mais que isso, todos os dias.
Eu conversei com a Gabriella Demarque, psicóloga formada pela PUC/SP e que trabalha com psicologia infantil, e ela me deu um panorama bem interessante:
"Na infância a criança é como um órgão sensório. Os sentidos trazem as informações do mundo externo e essas informações vão preenchendo o mundo interno da criança, portanto tudo que elas vêem, ouvem, tocam e experimentam, tem um reflexo psíquico. A principal tarefa dos pais e da sociedade, nesse período, é mostrar para a criança que o mundo é bom: um lugar onde ela pode se expressar, confiar no processo de existência e agir com confiança, amor e autenticidade.
E como fazemos isso? Precisamos saber que a criança aprende por meio da imitação e da repetição. Então, ela está aprendendo o tempo todo ao observar o ambiente e as pessoas ao seu redor. Ela repete, da sua maneira, com brincadeiras e, assim, vai elaborando as informações apreendidas".
A ideia de ter esta conversa não é a de vilanizar as telas, o celular, o computador, são todos progressos relevantes com ainda mais importância na pandemia, mas precisamos equilibrar essa exposição na rotina de crianças e jovens.
É importante manter a supervisão de um adulto, e tentar seguir algumas recomendações: não utilizar telas durante as refeições, desligá-las uma ou duas horas antes de dormir, evitar expor crianças com menos de 2 anos às telas, após os 2 anos tentar manter a média de 1 a duas horas por dia e, no caso dos pré-adolescentes e adolescentes, evitar o famoso "virar a noite”, priorizando a higiene do sono.
Mas, sem as telas à disposição, o que fazer? Como entreter as crianças? Vamos propor algumas opções de atividades que complementam e estimulam outras áreas importantes do as áreas importantes do desenvolvimento: brincadeiras, mão-na-massa, trabalhos de expressão corporal e artística que trabalhem a cognição para além das telas. Temos, aqui, cinco campos com ideias de brincadeiras que podem ser exploradas:
Brincadeiras de botar a mão na massa
Brincar com massinha, construir algo, fazer sujeira e ver materiais aglutinados virando algo palpável! Brincadeiras “mão na massa” promovem a exploração sensorial, que é uma das principais formas de aprendizagem das crianças pequenas. Algumas sugestões da Gabriella:
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Cesto dos tesouros:
Convide a criança para reunir em um cesto de objetos com texturas diferentes, encontrados na sua casa ou na natureza (seguros para brincar). Por exemplo: pedaços de tecido, folhas e pinhas, utensílios seguros da cozinha (colher de pau, funil de silicone, buchas etc). Só não vale o que já é brinquedo!
Em seguida, com imaginação, os objetos viram tesouros! Peça sugerir o que cada uma das coisas podem ser e representar em diferentes brincadeiras.
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Massinhas com corante natural/comestível:
Durante o preparo das refeições, pegar um pedaço da massa de farinha e transformar em massinha já divertiu muitas gerações (e pode continuar entretendo). Para deixar a coisa mais interessante, você pode usar tintas naturais que vêm em pó, e só precisa adicionar água, ou utilizar gotas de corante comestível com farinha e água para brincar.
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Carimbo de frutas e legumes:
Outra proposta divertida é pegar frutas e legumes, cortá-los, passar um pouco de tinta e ver como ficam carimbados em papel, linhas e formas. Carambolas, uvas, morangos rendem bons formatos. Claro, a dica é utilizar alimentos que não serão mais utilizados para cozinhar;
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Brincar na água:
Quantas são as possibilidades de brincar sentado em uma bacia? (Sempre com supervisão). O contato com a água em si já é muito divertido para as crianças e ainda podemos estimular brincadeiras que diferenciam os movimentos que formam ondas, espirais, gotas, etc.
Quanto mais texturas variadas e liberdade de movimento (com supervisão de adultos e uso de objetos seguros), melhor. O importante aqui é a criança ser o próprio brinquedo.
Para movimentar!
Brincar, correr, pular corda e se movimentar com liberdade permitem que a criança vivencie a sensação de sentir-se bem no próprio corpo, por meio da liberação de hormônios que também fortalecem o seu sistema imunológico.
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Pique-esconde e pega-pega:
São clássicos da infância e não envelhecem. Mesmo que só com duas crianças ou entre pai e filho, incentive que essas brincadeiras aconteçam vez ou outra. Se faltar espaço, a caça ao tesouro (que nada mais é que um esconde, esconde de objetos) pode ser uma alternativa interessante.
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Tocar bola ou jogar bolas pequenas um para o outro:
Atividades que priorizam o movimento do corpo treinam equilíbrio, e contribuem para o desenvolvimento da cooperação e da parceria.
Pode ser com bola de meia, de leite, de futebol, tênis, etc. Pode ser chutando de levinho ou jogando pelo ar sem deixar cair. Uma possível proposta é ver quanto tempo ou quantos passes conseguem dar sem que errem. A cada nova rodada tenta-se manter ou aumentar o recorde.
Estimulando a imaginação e criatividade
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Faz-de-conta:
Narrativas podem estimular a imaginação e podemos incentivar as crianças a fazer isso criando desenhos, contando histórias, inventando faz-de-conta com brinquedos, montando cabanas, entre outros.
O universo da criança pequena é todo lúdico: é assim que ela compreende e vive o mundo. É importante demonstrar interesse pelas brincadeiras da criança, porém sem interferir desnecessariamente (a não ser que ela esteja em risco).
Brincadeira não precisa ter uma função, objetivo ou resultado claro para o adulto. A criança, por vezes, repete a mesma brincadeira por bastante tempo, até encontrar ela mesma a “solução” ou a “finalidade” daquela brincadeira.
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Ler livros e narrar histórias:
Fazer leituras para as crianças contribuem para a aquisição da linguagem, o fortalecimento do vínculo, além de aumentar o repertório cultural da criança.
Viajando no tempo:
9. Apresente brincadeiras de outras gerações
Uma dica interessante para os pais é apresentar aos filhos uma brincadeira que gostava de fazer quando era criança!
Além de ser um momento especial com os pequenos, é uma oportunidade de o adulto também brincar. A criança costuma gostar das histórias que os pais contam associadas às brincadeiras, e é uma forma de valorizar e dar continuidade à cultura da família e da região.
Escorregar em papelão, brincar de queimada, mãe da rua, taco, brincadeiras de roda e cirandas, por exemplo.
Divertindo com Arte
Música, pintura, cantar. Como as artes ajudam no desenvolvimento infantil?
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Pintura:
Mais uma vez é importante a liberdade de movimento da criança pequena – pelo menos na primeira infância, a atividade deve ser feita sem finalidade ou resultado esperado, mas pela própria exploração sensorial. Isso contribui para a conquista posterior da habilidade de desenhar com intenção e escrever.
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Ouvir música, cantar ou tocar:
São cada vez mais reconhecidos os benefícios da musicalização para bebês e crianças pequenas – conviver com a música e o canto permite que as conexões cerebrais aconteçam com maior facilidade, diminui os níveis de estresse, e permite o desenvolvimento da coordenação rítmica, entre outros benefícios. O bebê tende a se acalmar quando escuta músicas que ouvia durante a sua gestação.
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Narrar os acontecimentos da rotina:
Incluir o bebê na rotina de cuidados através da narração das atividades, ou seja, contar para ele o que está acontecendo, ajuda na sensação de calma e organização interna do bebê – é uma forma do bebê passar a reconhecer e se antecipar para o que será feito.
Cantar uma música pode contribuir para essa associação (a música do banho, a música da massagem)
É importante pensar em momentos de descontração para todos da família – a situação atual já é suficientemente insegura e tensa para todos. Jogos, brincadeiras, cozinhar juntos, ver a criança brincar. Para a aprendizagem, também é importante observar processos, que tenham início, meio e fim (cozinhar, ver os pais fazendo as atividades da casa) para além de passarem os dias somente nas telas.
Mais exemplos e instruções para atividades:
Alguns ótimos exemplos de atividades fora das telas estão no e-book 23 brincadeiras ativas para fazer dentro de casa! São desafios, jogos e disputas lúdicas para colocar as crianças em movimento.
Escolha uma, ou várias atividades, e bom divertimento!
Mecenas: Nestlé por crianças mais saudáveis
O Programa Nestlé por Crianças Mais Saudáveis é uma iniciativa global da Nestlé, que assumiu o compromisso de ajudar 50 milhões de crianças a serem mais saudáveis até 2030 no mundo todo. Desde 1999 foram beneficiadas mais de 3 milhões de crianças no Brasil.
Com o lema “muda que elas mudam”, a partir de uma plataforma de conteúdo, o programa estimula famílias a adotarem hábitos mais saudáveis e ainda promove um prêmio nacional que ajuda a transformar a realidade de 10 escolas públicas por ano com reformas e mentorias pedagógicas.
Conheça mais no site do programa.
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