Se você não conhece a Xplastic, está perdendo uma das melhores produtoras do mercado brasileiro de altporn.

Os caras começaram com barbies paraguaias de camelô, colaram uns pelos pubianos de bombril nas bonecas, fizeram alguns orifícios pornográficos e pronto: conseguiram suas primeiras atrizes. Inscreveram-se no festival MIX Brasil de 1998 e o vídeo foi selecionado.

Conversamos com Ruy Rufião, criador do Xplastic junto com os amigos Marcelo Barbellax e Osvaldo Tatão.

Rufião, Barbella e Tatão

1. Qual sua história? O que fazia antes de ser diretor de filmes pornográficos?

Antes de fazer filmes pornográficos tínhamos uma banda de punk rock chamada Mapettis, que não deu muito certo, mas foi a forma como nos conhecemos.

Começamos a dirigir filmes pornográficos quando ainda estávamos na Faculdade, o Barbellax fazendo Jornalismo e eu Administração. Usamos a ilha da faculdade dele pra editar nosso segundo vídeo, com a desculpa de ser o trabalho de conclusão de curso dele. Dali pra frente nosso envolvimento com pornografia só vem aumentando.

Se você não liga pra fotos, saiba que o site deles tem ótimas entrevistas também

2. Como descobriu que era isso que queria fazer e como chegou onde está?

Quando nos conhecemos, além da vontade de tocar o que tínhamos em comum era uma vasta coleção de fitas VHS e revistas pornográficas. Todos nós queríamos fazer filmes pornográficos, mas não sabíamos como começar.

Quando um amigo voltou do Japão com uma camera HI8, compramos algumas bonecas “Barbie” do Paraguai (o nome era “Stacy”) e começamos assim.

3. O que você faz atualmente? No que você é bom

Atualmente temos uma produtora chamada Luz Vermelha Filmes, e nosso principal trabalho esta relacionado a produção de conteúdo para o site Xplastic.net e para nossos canais de mobilidade, como site “AltPorn” no canal Wap da VIVO, nosso canal “Xplastic” no “Claro Minha TV”, e outros.

Temos também um novo projeto chamado “Pornolândia”, que estamos colocando no ar no site do Fiz na MTV:

Link FiznaMTV | “Pornolândia” (piloto)

Somos bons em nos divertir enquanto trabalhamos.

4. Conte um pouco do seu cotidiano.

Ao contrário do que as pessoas geralmente pensam o cotidiano de quem trabalha com pornografia esta muito mais ligado a tarefas distantes de “pessoas peladas” do que parece. Passamos grande parte de nosso tempo gerenciando conteúdo para nossos canais de entrega, editando, organizando documentos, agendando ensaios, conversando com contadores, lendo contratos de negócios, do que efetivamente gravando ou fotografando.

É o cotidiano de uma empresa normal. Só que nossas festas de fim de ano são mais divertidas!

5. Uma história ou uma cena que fez todo o esforço valer a pena

Quando estávamos terminando de editar nosso DVD NerdSex (gravado em 2002, e que contava a história de um casal de namoradas que escrevia sobre sua vida sexual num blog) pedimos que algumas bandas mandassem suas músicas para serem usadas como trilha sonora no DVD, e recebemos um email do Wander Wildner, de quem éramos grandes fãs desde os Replicantes, oferecendo algumas músicas. Este foi um momento que fez tudo até ali valer a pena.

6. O que acontece nessa profissão que ninguém imagina?

Depois de fazer o primeiro vídeo pornô (a animação tosca com as bonecas Barbie Paraguaias), gravamos com uma atriz porno chamada Estela Santos, que não atua mais. Fiz contato com ela por email, conversamos num Café, e alguns dias depois fomos até a casa dela gravar. Nunca havíamos gravado com uma atriz pornô de verdade (de carne e osso) e já gostávamos do trabalho da Estela.

Não sabíamos o que iria acontecer lá, ou como seria a casa dela, imaginamos pessoas transando em toda parte, drogas, bebidas, cigarros pelo chão, gigolôs batendo em mulheres no banheiro… e quando chegamos lá foi totalmente diferente. Ela pediu para as filhas descerem para brincar no parquinho do prédio, disse que iria gravar uma entrevista para a TV. Ela morava num apartamento limpo e bonito. Depois de gravar ainda fez suco de laranja e lanche pra gente.

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7. Quais os erros de outros produtores pornô que deixam você com vergonha da profissão?

Repetir fórmulas, não correr riscos, não tentar fazer um mínimo de diferença.

8. Mulheres: melhor trabalhar ao lado delas, mantê-las longe ou nenhum dos extremos?

É bom trabalhar com mulheres dos dois lados da câmera. Temos algumas amigas que participam das gravações fazendo câmera, trilha sonora, maquiagem e dando opiniões no roteiro.

Gostamos de compartilhar o trabalho com mulheres. E de ter mulheres como parceiras de negócios.

9. O que você diria a um leitor que queira se tornar um diretor de filme pornô?

Primeiro, produzir. Não espere condições melhores para gravar alguma coisa. Se você realmente gostar disso, vai se divertir e fazer alguma coisa legal com recursos muito limitados. Não tente ganhar dinheiro do dia pra noite com filmes pornográficos. Este tempo já passou: foi nos anos 80 e 90. Nós entramos no mercado pornográfico em sua pior fase, aprendemos a viver com migalhas e continuar produzindo.

Acho que a primeira regra –produzir – vale para qualquer carreira, sobretudo as relacionadas ao audiovisual. Dê a cara pra bater, não tenha medo de críticas, erre muito, e tenha certeza que você estará sempre se divertindo e aprendendo mais do que quem falar mal de você ou fizer críticas infundadas.

Link YouTube | Vídeo teaser da Xplastic (veja outro aqui)

10. O que você demorou muito tempo pra aprender e agora pode resumir em poucas palavras?

Procure o seu caminho. Olhe como os outros fizeram para conseguir algo que você admira, para tentar identificar algum padrão de comportamento, fatos recorrentes, ou alguma informação que possa ser útil para você pensar no seu caminho. Mas não tente seguir o caminho de outras pessoas, porque sua história é o que você tem de melhor.

Quando você tenta viver a vida que outros já viveram, abre mão do que você tem de mais especial. Parece auto-ajuda esta merda toda, mas funciona.

11. Quais são os benefícios que seu trabalho gera para as pessoas?

O benefício do entretenimento é divertir as pessoas imediatamente. Não nos consideramos artistas. O que fazemos passa rápido e acaba como jornal do dia. Então o benefício imediato é proporcionar um momento de diversão para quem consome nossos vídeos ou fotos. Claro que existem consequências ruins na pornografia – pessoas viciadas, por exemplo. Para estas pessoas consumir pornografia é desastroso, acaba com a sua vida social.

Tentamos passar uma visão positiva do sexo em tudo o que fazemos. E visão positiva do sexo não é mostrar apenas “papai e mamãe no escuro”. É mostrar que é normal gostar de coisas que muitos consideram anormal, que os gostos sexuais tem nuances e que não devemos nos reprimir por sermos diferentes ou gostarmos de coisas incomuns.

12. Quais seus outros interesses, práticas e habilidades?

Nos interessamos por cultura pop em geral, musica, cinema, desenho animado, revistas, quadrinhos. O único esporte que praticamos (cada dia menos) é o velho rolê de skate.

13. Faça uma pergunta que gostaria muito que alguém que te perguntasse

–Que filme “Mainstream” você gostaria que fosse “Pornô”?

Barbarella, com a Jane Fonda.

Link YouTube | Trailer de Barbarella (1968)

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>