Como a morte do maior líder fundamentalista-religioso da atualidade provoca o fundamentalismo no resto do mundo
O fundamentalismo islâmico tem sido palco de grandes debates e discussões acaloradas sobre até onde uma obsessão religiosa pode levar alguém. Ataques suicidas pipocando em todos os cantos do planeta, bombas detonadas em locais de grande concentração de pessoas, líderes da Al-Qaeda morando em caverninhas (caverninhas?) no meio do nada. Tudo isso pra empurrar garganta abaixo uma ideologia que não é comungada por todos e tampouco pelos Estados Unidos.
Mas Osama Bin Laden nasceu assim? Desde o momento em que veio ao mundo seu fanatismo religioso estava formado? Não sei se devemos pensar assim.
Não vejo o fundamentalismo como algo puramente religioso ou como apenas uma preferência individual que se sobressai às demais, e sim uma aversão a tudo aquilo que não está relacionado com determinado gosto pessoal. Assim, todos nós temos um pouco de Bin Laden dentro de nós, já que todos somos fundamentalistas de alguma forma. Uns mais, outros menos. Não acredita? Pois bem.
Crescemos em uma sociedade em que, via de regra, somos incentivados a apoiar uma equipe de futebol e, consequentemente, a odiar alguma outra. A grande maioria das pessoas se limita a torcer pelo seu time, caçoar de seus amigos torcedores daquele outro e ponto final.
Acontece que há o tipo que simplesmente não pode conceber a possibilidade de sentar ao lado de um torcedor trajando uma camisa de outro clube. Por um conceito que se formou ao longo de toda a vida, começando pelo seio da família, posteriormente pelos amigos torcedores, jogadores e dirigentes da equipe, e principalmente pela imprensa, são instigados e induzidos a repudiar e agir em detrimento daquele que é considerado seu arquirrival.
Depois, somos todos compelidos a suportar o lamentável discurso de paz em dias de clássicos. Típico mecanismo de double bind.
No Brasil, muito embora exista o pluripartidarismo político, as pessoas tendem a simpatizar com partido dominante que, teoricamente, é de direita ou de esquerda e, consequentemente, detestar ao outro. Já está incluso no pacote político voltar-se contra aqueles que não compartilham do mesmo ideal. Prato cheio pro fundamentalismo! Alimentou a opção política de alguns e pronto, ligamos a televisão e vemos conflitos com paus e pedras entre partidários, objetos sendo arremessados nos candidatos em campanha e por aí vai.
Posso me valer de outros exemplos cotidianos considerados inofensivos por muitas pessoas, como o repúdio a não-cristãos, nordestinos, negros, pobres, gordos, baixos, feios, estrangeiros, homossexuais. O leque é imenso. Já expus a ideia e repito: todos os seres humanos da Terra, mesmo que de forma quase despercebida, são acometidos por algum fundamentalismo e aversão ao diferente.
Diariamente somos levados pela massa, tolhidos de pensarmos com nossas próprias cabeças. Os Estados Unidos fizeram o mundo comprar a ideia de que a morte do Bin Laden seria, de alguma forma, vantajosa. Contudo, passadas as primeiras horas da morte do homem, eis que a seguinte manchete estampou as capas dos principais meios de comunicação: “Estados Unidos preveem retaliação”. Assim, não posso encarar o assassinato de outra forma senão como vingança, em seu estado mais puro e cristalino.
Fundamentalismo contra fundamentalismo, grande exemplo para o mundo…
Osama bin Laden não nasceu em uma caverna, escondido de todos e com uma câmera VHS em sua mão. Inclusive, há rumores de que ele mesmo não desejava a mesma carreira aos filhos. Afirmo também, com veemência, que não estou protegendo um líder terrorista audacioso e sem precedentes. Ocorre que todos aqueles norteamericanos que foram às ruas comemorar o assassinato do homem, eu, você e Barack Obama somos fundamentalistas em algo.
Bin Laden foi antes de tudo um ser humano que, infelizmente, intensificou e maximizou sua ideologia, fomentou o conceito que lhe foi incutido e empreendeu todos os seus esforços pra fazer valer aquilo que acreditava ser o axioma da humanidade, qual seja, a guerra santa. Somos todos extremistas em potencial, basta que isso seja cultivado.
Livremo-nos de julgamentos, meus caros, e aceitemos a ideia de que quem mais precisa de mudanças e correções somos nós mesmos. Conforme palavras de Bill Gates, “se quiser mudar o mundo, comece varrendo o seu quarto”.
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