O desenho é mais do que uma forma de arte e expressão. Por meio dele podemos aguçar nossa capacidade observar, aprender a lidar com os erros, transformar espaços, nos apropriar da cidade e nos tornarmos mais presentes e focados.
Paulo Von Poser é artista plástico, arquiteto, desenhista, ceramista, ilustrador e professor. Iniciou a carreira nas artes plásticas, desenhando retratos e paisagens. Além do desenho, dedicou-se também à cerâmica e à ilustração. Ficou conhecido por seus desenhos de rosas em 1989, quando ilustrou o calendário do MAC-SP e, também, pelos desenhos retratando museus, praças e espaços públicos da cidade de São Paulo. Participou também de mostras nacionais e internacionais. Suas obras integram acervos da Pinacoteca, MASP e MCB. Está envolvido em causas sociais e urbanas, como o Parque Minhocão e o projeto Rios e Ruas.
A The School Of Life é
um daqueles lugares que a gente gostaria de ter conhecido antes. Eles
oferecem ideias, sugestões, desafios e questionamentos para vivermos uma
vida melhor.
Admiramos bastante o trabalho deles e ficamos bastante lisonjeados quando, por ocasião do curso Intensivo que eles estão oferecendo em São Paulo, entre os dias 23 a 27 de janeiro, pudemos falar com alguns dos professores da Escola.
Formulamos
perguntas específicas para cada um deles e também mais quatro
para todos responderem. Esse é o último dessa semana.
Vamos ao papo.
1. O tema de seu workshop, “Desenho para não desenhantes”, nos soa fascinante. Qual o papel do desenho na educação e formação de uma pessoa, a seu ver? Como alguém sem facilidade ou experiência com o desenho pode se relacionar com ele?
O desenho é uma linguagem universal, todo ser humano desenha naturalmente e especialmente na sua infância, em geral, esta atividade fica bloqueada a partir da alfabetização. O desenho possibilita outras maneiras de ver e de se conhecer, um olhar mais livre e despreocupado. O foco do workshop está no processo de descoberta do próprio traço, no prazer do movimento gestual. Desenhar desenvolve a atenção, a curiosidade e a confiança no seu processo criativo.
2. No livro Antifrágil, de Nassim Taleb, ele nos apresenta o conceito de turistificação:
“Turistificação castra sistemas e organismos que apreciam a incerteza ao sugar deles toda a aleatoriedade enquanto gera a ilusão de benefício. (…) Esse é o meu termo para um aspecto da vida moderna que trata humanos como máquinas de lavar, com respostas mecânicas simplificadas e um manual do usuário detalhado.
É a remoção sistemática de incerteza e acaso das coisas, tentando torná-las cada vez mais previsíveis em seus menores detalhes. Tudo em prol do conforto, conveniência e eficiência.”
Isso parece acontecer conosco cada vez mais nas cidades. Como evitar esse processo?
Interessante nesta ideia é que detesto viajar como turista, realmente prefiro o imprevisível de cada percurso, de cada conversa. Neste sentido, o desenho pode ser uma alegre surpresa no contato com a cidade. Desenhar muda o lugar e as pessoas que estão ali. Conversar com desconhecidos que nunca mais veremos pode ser uma bela dica, a cidade nos educa.
Como fazer com que a luta para combater essa desumanização não se restrinja aos locais elitizados de uma cidade e sim seja algo democrático?
Ampliando a dimensão pública dos espaços. Os movimentos contemporâneos de “tomada” e ocupação das ruas, praças e parques apresentam várias e novas maneiras de se propor a cidade. Como professor, uso a cidade como sala de aula aberta .
3. Como podemos despertar nas pessoas mais interesse em se apropriar por causas urbanas? Por que é tão comum o espaço público ainda ser tratado como terra de ninguém, ao invés de um local que é vivo e de todos?
Valorizando o pedestre e o ciclista, desenvolvendo o transporte público e coletivo para uma mobilidade que traga qualidade de vida. A cidade é o lugar dos encontros e dos conflitos, por isto mesmo é tão desejada e desejável. É o lugar para a arte e os artistas.
4. O que você demorou anos para aprender sobre seu trabalho e agora pode resumir em poucas palavras?
O erro é fundamental. Faço arte como se estivesse num cardume de peixes dançando no mar.
5. O que você demorou anos para aprender sobre a vida e gostaria que alguém tivesse te contado décadas atrás?
Ser jovem é cada vez mais chato, é ótimo envelhecer brincado sem medo.
6. Em sua visão, qual tema específico temos negligenciado e deveríamos dedicar mais de nossas conversas e atenção, como sociedade?
A Igualdade.
7. Se pudesse recomendar uma só produção cultural (livro, filme, site…) para que a comunidade do Papo de Homem conheça em 2015, qual seria?
Estou na maior expectativa e curioso com as mudanças no Masp, vale a pena conferir.
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