Aconteceu esses dias. Era uma segunda-feira, aquele dia que você odeia. Numa das mais complicadas missões da sua história, que envolveu cortes de cabelo moicano, paraquedas sônicos e gruas espaciais – que são muito mais legais do que as gruas convencionas pela simples razão de terem “espacial” no final do nome – a NASA conseguiu depositar na Cratera Gale, em Marte, um simpático veículo robô chamado Curiosity, com a missão de estudar o solo marciano em busca de sinais de vida e rastros de compostos orgânicos.
Não vamos achar homenzinhos verdes. Não. Dificilmente existe no rover um sistema de som que vai registrar algum “gágágá”. E claro que eu não sei dizer o quão mais perto isso nos deixa da stripper de três peitos que nós vimos em O Vingador do Futuro, mas, mesmo assim, dada a complexidade da missão e todas as informações relevantes sobre Marte e nosso sistema solar que ela pode trazer, muito possivelmente acompanhamos um dos momentos mais importantes da história da ciência contemporânea.
Ou pelo menos deveríamos ter acompanhado.
Digo isso porque eu, mesmo sendo um jornalista, tendo interesse por ciência e acompanhando diariamente as notícias mais importantes do dia pela internet, só fui ficar sabendo da missão, do complexo pouso do jipe-robô – e graças ao sistema de notícias relacionadas dos grandes portais, que John Carter foi um fracasso de bilheteria – quando o Jader me mandou um email perguntando se eu gostaria de escrever alguma coisa sobre a missão. É, tô falando sério.
Mas o que isso pode querer dizer? Bem, antes de qualquer coisa isso quer dizer que eu sou um jornalista relapso, claro. Vacilo, professor Juliano, desculpa.
Mas eu acho que isso também é um sinal de uma coisa que eu tenho notado muito claramente nessa época de hiper-informação em que vivemos: o fato de que, diante de todas as ofertas independentes e variadas de informação para consumo, temos cada dia mais a opção de ficar imersos em nossas bolhas pessoais de informação – aquela informação que gostamos de receber – e acabar perdendo de vista a informação que é oferecida num âmbito mais geral – aquela informação que deveríamos saber caso o robô tivesse encontrado marcianos e eles fossem começar uma invasão.
Comparemos com a chegada do homem na lua em 1969: o mundo parado, pessoas em casa, famílias inteiras reunidas na frente da televisão, a humanidade em compasso de espera diante do resultado de um grande momento histórico. Tente imaginar como ela seria se acontecesse hoje: todo mundo reclamando da transmissão da Globo, pessoas no Twitter dizendo que isso está atrasando o futebol, milhões sem saber de nada porque estavam na Xbox Live jogando Call of Duty, seus amigos hipsters dizendo que a lua é muito mainstream e legal mesmo é Plutão. Não ia ser a mesma coisa.
Isso porque nunca antes tivemos tantas opções e tantas possibilidades de nos cercar apenas pela informação que desejamos, pelas ideias de que gostamos, pelas pessoas com quem concordamos. Vivendo num mundo de interesses tão particulares que eu, que sou um fã de quadrinhos, consegui ficar sabendo que o Joss Whedon assinou para dirigir a continuação de Vingadores no mesmo instante que a informação foi divulgada, mas só fiquei sabendo que a humanidade estava tentando novamente explorar Marte por causa de um email do Jader – espero que você também me avise em casos de conflitos civis ou incêndios no meu bairro, cara, dependo de você.
Claro que não estou defendendo o monopólio da informação ou reclamando do fato de termos hoje em dia tantas fontes diversas, específicas e que podemos misturar e moldar de acordo com nossa vontade e nossas necessidades – minhas ressalvas em relação ao Romário como comentarista nunca vão me impedir de ver o quanto é bom poder ter acesso a diversas leituras dos fatos. Apenas tenho, em momentos como esse da Curiosity, a sensação de que talvez o excesso de informação e a fragmentação dela possa estar justamente nos deixando menos informados em relação ao que realmente importa.
E sério, ninguém aqui quer ser o último a saber quando mandarem as fotos do robozinho e a stripper de três seios aparecer em alguma delas.
Nota do editor: já mandaram, e você não ficou sabendo. Tem que se informar melhor, Baldi.
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