Nota da edição: Uma vez por mês você acompanha, no PdH, uma republicação do Projeto Lupa

Ele reúne depoimentos e fotos de profissionais ligados à arte de contar histórias. Apresentam escritores, roteiristas, jornalistas, contadores de histórias, dramaturgos, redatores publicitários, críticos literários, letristas musicais, entre tantos outros. São muitos personagens, com algo em comum: a paixão pelas palavras.

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Jorge Moreno Bastos, jornalista e colunista do O Globo, recebe o Projeto Lupa no seu apartamento na Gávea, no Rio de Janeiro, enquanto fala ao telefone. Do outro lado da linha está Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal. No aparador da sala, uma coleção de porta-retratos mais estrelada do que as páginas de Caras: Carolina Dieckmann, Gilberto Gil, Maria Ribeiro. Todos amigos pessoais de Moreno e para quem ele oferece fartos jantares feitos pela, já famosa entre as estrelas, Carlúcia, cozinheira e braço direito do jornalista.

O telefone toca novamente, dessa vez com um número desconhecido, e ele avisa que não irá atender: “Agora temos o centenário de Ulysses Guimarães e eu não estou tendo paz, não estou tendo sossego porque todo o mundo quer pegar um depoimento meu pela relação de amizade que eu tinha com ele”, conta.O caderninho de telefones – como se dizia em tempos de jornalismo off-line – do Moreno é de cair o queixo. E o jogo de cintura idem.

Foi considerado porta-voz informal do governo de Michel Temer, logo após o afastamento de Dilma Rousseff em função do processo de impeachment. E a ex-presidenta, por sua vez, esteve no aniversário do Moreno, em 2010, quando ele ainda morava em uma casa no Lago Norte, em Brasília.Nesta entrevista, Moreno fala dos amigos, das fontes e dos malabarismos de quem se equilibra entre esses mundos (“Nós temos fontes, não temos amigos. Os políticos é que tendem a confundir isso.”); revela truques para conseguir a informação (“Mando um Whatsapp dizendo: ‘Bom, se o senhor não atende, sinal do que prefere responder a notícia depois de publicada’”.); fala de ética (“É incompatível a profissão jornalística com o comportamento de um mentiroso”), seus erros (no caso do caseiro de Antonio Palocci, em 2006) e a paixão por revelar bastidores (“Todo mundo quer saber o que se passa dentro de um Palácio.” [referindo-se ao Alvorada]).

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Lupa: Você que é um dos nossos grandes colunistas, conta pra gente o que faz um bom colunista e uma boa coluna.

Moreno: Primeiramente eu não sou tão famoso assim. Segundo, é o seguinte: eu não gosto de ser chamado de colunista, eu gosto de ser chamado repórter, que é a coisa mais dignificante do jornalismo. Porque o repórter apura, vai atrás da informação e tal, que é a coisa principal. O papel que eu sempre quis cumprir foi esse, de repórter. Nunca aceitei função burocrática dentro do jornalismo ou função de editor ou redator. E eu, desde o início da carreira, fui fascinado pelo que há detrás do fato, que se chama de bastidor.

Quando eu comecei, na década de 70, a imprensa ainda vivia muito disso. A revista Veja tinha um trabalho – já que vivíamos um período de ditadura – de ir para alguma reunião e caprichar nos bastidores para demostrar para o leitor que eles sabiam demais, sabiam de tudo o que estava acontecendo, mas muitas coisas não podiam ser ditas.

Quando um repórter da Veja ia conversar com alguma pessoa que participou de um almoço, a primeira pergunta não era: “O que vocês decidiram?”. Isso ele já sabia. A pergunta era: “Qual o cardápio? Foi servido sobremesa, vinho, cerveja?”.Isso era possível porque os jornais tinham muito espaço, vários repórteres, era uma época áurea do jornalismo. Aí eu fui gostando disso.

Na medida em que você vai gostando dos bastidores, necessariamente vai descobrindo mais do que essas coisas fru fru, como o cardápio, vai entrando em coisas como: “Fulano disse isso e aquilo para Ciclano”. A minha coluna tem a intenção de ser uma coluna de bastidores, do que acontece de importante dentro da notícia que não foi destacado. [Moreno tem uma coluna semanal na versão impressa do O Globo e um blog alimentado diariamente]

L: E existe leitor pra isso, não é? Mesmo num mundo de informações rápidas, sucintas, em que a gente olha nos feeds de redes sociais e se sente informado só porque leu os títulos.

M: A revolução tecnológica não modificou o jornalismo em si – porque ele vai ser sempre isso de dizer o que, quando, onde e por quê [técnica básica para iniciar texto jornalistíco] -, mas modificou a narrativa jornalística. Você tem que ter objetividade porque você compete na velocidade. Mas às vezes o factual perde frente ao bastidor e vou te dar um exemplo disso.

Eu, uma vez, fui entrevistar o Jânio Quadros e a condição para fazer a entrevista seria não perguntar sobre a renúncia à Presidência. Entre o grupo de amigos que conviveu com ele, esse era um tema proibido. Inclusive teve um domingo, em uma das feijoadas deles que começava às duas da tarde e acabava as três horas da manhã, em que alguém bebendo muito comentou sobre isso e falou que era frescura. Ao que Jânio disse: “Eu renunciei porque a comida do Palácio [do Alvorada, residência oficial da Presidência] era uma merda que nem essa de sua casa aqui”.

Me contaram essa história e fiquei com isso na cabeça.Quando eu fui entrevistar Jânio Quadros, falei para ele que era de Mato Grosso, da terra dele, ele ficou comovido e em certo momento, ele falou: “Jornalista, você está liberado, pergunte o que quiser”. Aí eu perguntei: “Presidente, por que o senhor renunciou?”. Aí ele me deu praticamente a mesma resposta: “Porque se comia mal naquele Palácio, era bife, arroz e ovo todo o dia, não aguentava mais aquela comida”.

Eu ouvi, deixei passar, mas fiquei com isso na cabeça.Chegamos no período democrático e o primeiro almoço de José Sarney foi para um grupo de jornalistas antigos do Congresso Nacional. Era uma rabada ruim.

Entrou Collor e, quando ele estava sendo denunciado por corrupção, ele marcou uma conversa sigilosa com Ulysses Guimarães no Palácio para discutir a crise pela qual estava passando. Eu ia fazer a cobertura exclusiva desse encontro, mas aí aconteceram uma série de coincidências e, quando eu cheguei  lá no Palácio de Alvorada, estava um batalhão de repórteres que eu nunca vi na vida.

Eles estavam atrás de outra notícia, mas viram o Ulysses sair e perdi minha história exclusiva.  Quando o Ulysses saía, chegou um repórter e perguntou: “Como foi o almoço doutor Ulysses?”. O doutor Ulysses tem aquela coisa de ser um homem sério, mas, de vez em quando, com essas perguntas óbvias, ele tirava uma onda: “Não foi muito bom, a comida de Palácio não é muito boa, não gostei”. Quando ele falou aquilo, eu pensei assim: “Para mim a entrevista acabou aqui, já sei o que vou a fazer”.

No dia seguinte, todos os jornais dão uma página para o encontro de Collor com Ulysses Guimarães. Eu fiz essa matéria de Ulysses contando que a comida do Palácio era uma merda e contei reminiscências de Jânio e outros comensais.

Nessa época O Globo fazia uma pesquisa para saber qual era a matéria que o leitor mais havia gostado no dia. Nesse dia, nessa terça- feira em que a cobertura era toda sobre Collor e PC Farias, a matéria mais lida do Globo foi a minha. Então eu comecei a pensar o seguinte: as coisas mais importantes o leitor já viu nos telejornais de ontem. Ele se interessou pelos bastidores por uma razão muito simples, de que todo mundo tem curiosidade de saber o que se come dentro do Palácio.

Palácio é palácio do rei, do primeiro ministro da República, essa coisa cultural que temos em todos os povos, dos mais abastados até os mais plebeus.

Essa matéria foi, assim, o marco principal do meu estilo de matéria de bastidores e tive a prova pela pesquisa da aceitação.  Então acho que o leitor gosta de ver uma coisa diferente, mesmo nos tempos que vivemos, de notícias em tempo real. Daí vem o permanente sucesso de todas as colunas diárias de drops. Dei uma volta muito grande para contar a história, né?

 

L: A tecnologia muda a forma de fazer notícias, mas não muda as histórias de que gostamos?

M: Essa revolução tecnológica deu outro caminho, outro significado, outro formato à notícia. Só que eu aprendi em uma palestra de um cientista francês especialista em comunicação, Dominique Bourton, que nós, jornalistas, quando recebemos uma informação, temos que ter um tempo mínimo para absorver, entender, codificar, valorizar essa informação, dilapidar e pegar a essência e botar no ar.

Só que com o jornalismo online a gente não tem tempo de fazer isso e às vezes a gente dá a “contra-notícia”. Uma hora a gente pensa que a notícia é uma e muitas vezes é outra porque a gente não tem tempo para fazer essa decodificação.

No momento em que Bourton dizia isso me veio à lembrança uma coisa acontecida. Eu não condeno os que fizeram, até porque eu fui um deles. . E quem cometeu esse crime? O presidente da Caixa Econômica, que era subordinado ao ministro da Fazenda, Palocci. Palocci teve que demitir o presidente da Caixa. Mas nós, jornalistas, demos a versão que eles queriam que fosse dada, não tivemos tempo de fazer uma reflexão para ver que a notícia não era essa.

[Em 2006], o caseiro do ministro Antonio Palocci [Francenildo Silva] denunciou algumas coisas que rolavam em sua casa que levaram depois à demissão de Palocci. Naquele momento em que o caseiro fez a denúncia, o PT, a base do governo no Congresso, disse que o caseiro havia sido comprado pela oposição para dar um depoimento falso e ficou na cabeça de todos aquela acusação.

Três dias depois do depoimento, o assessor de imprensa de Palocci liga para alguns jornalistas, entre os quais eu me encontrava, para dizer que foi encontrada na conta do caseiro uma movimentação financeira incompatível com o salário dele.

O quê que a gente fez com a informação? Ao contrário do que recomendava esse cientista, nós não absorvemos aquela informação, não decodificamos aquela informação, nós transmitimos imediatamente: movimentação estranha na conta do caseiro.

Estourou isso no país e dez minutos depois de colocar aquilo no ar, alguém gritou: “Espera aí, como é que sabe que tem movimentação na conta dele? Violar a conta do caseiro é inconstitucional, o ser humano é inviolável”. Essa era a notícia: quebraram o sigilo da conta do caseiro. O caseiro ter dinheiro era a consequência, mas a notícia principal é que alguém do governo cometeu um crime inconstitucional de quebrar a conta do caseiro.

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Jorge Moreno. Foto: Emília Silberstein

L: Como você consegue manter um bom trânsito com as fontes do meio político mesmo noticiando denúncias e notícias que possivelmente as desagradem?

M: Esse é, para mim, o maior desafio no Jornalismo. No manual de redação do Jornal do Brasil, o Mauro Santayana diz que na relação com a fonte, o repórter é sempre uma mulher traída. Por exemplo: Eu, Jorge Bastos Moreno, mantenho um bom relacionamento profissional com o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara neste momento e minha fonte antiga. Na hora que ele tem uma pérola de informação para dar, ele vai fazer média com outros jornalistas que ainda não conquistou e vai me trair. Isso é normal.

Além disso, a fonte não gosta de apanhar, ela quer ser bem tratada e é aí é que as coisas se complicam, principalmente nos dias de hoje em que são poucos os políticos que não estão implicados em escândalos. Então nós, jornalistas, sabemos separar. Nós temos fontes, não temos amigos. Os políticos é que tendem a confundir isso e é constrangedor e desagradável.

L: O jornalista às vezes adota a estratégia de não publicar algo negativo sobre a fonte para preservar uma relação que, mais tarde, pode render uma informação ainda melhor?

Graças a Deus que a gente não faz isso! Se alguém me dá alguma informação de que o Rodrigo Maia está implicado em um escândalo – estou citando ele hipoteticamente, porque é alguém implicado na Lava Jato – eu vou dar e vou ligar para ele para saber se ele quer se defender.

Às vezes eu ligo para uma fonte e se por qualquer motivo a fonte não quer me atender, eu uso um truque, uma malandragem, eu mando um Whatsapp assim: “Bom, se o senhor não está atendendo, sinal do que o senhor prefere responder depois de publicado”. Imediatamente a pessoa me liga.

Essa chantagem, entre aspas, é um recurso que a gente adota porque muitas vezes os políticos não nos atendem. Os motivos são variados, mais o mais comum é o medo de você vir com uma denúncia.Nos tempos de hoje não acontece o que acontecia no passado dos políticos dizerem: “Por favor, não publique isso, você é meu amigo”. Só que os jornalistas nunca cederam.

Eu acho que em todas as atividades, mas essencialmente no jornalismo, é assim: o repórter já nasce repórter, já nasce dando a notícia, já nasce gostando, então a informação está acima de qualquer coisa para nós.

L: Dar a informação é sempre melhor do que manter a fonte?

M: Como eu disse, a informação é verdadeira e sagrada. Já  teve colegas meus, filhos de amigos meus que, em determinado momento, foram agentes públicos importantes e que não entenderam isso. E era uma briga que eu tive que ter com eles.

Uma das coisas que eu ensinava para meus alunos [Moreno foi professor de Jornalismo na UNIP] era: não existe declaração em off, existe informação em off.  Você recebe para apurar e, uma vez confirmada, você publica. Você não conta quem te deu aquela informação, esse é o compromisso nosso. Agora, se a fonte fala uma coisa, pede o off e ainda pede para você não publicar, aí já é demais. Aí o que você faz? Fica naquela preocupação de não desagradar a fonte e dá um jeito de desviar algum motivo e publicar aquela informação. “Lavar” informação é um recurso moderno e atualíssimo para que a gente publique tudo.

L: Qual a baliza ética de tudo isso?

Um jornalista muito conceituado que morreu, o Claudio Abramo, dizia que essa história de ética jornalística, ética do médico, ética do engenheiro, isso é história, a gente é na profissão aquilo que a gente é em casa. Ele, em tese, está certo. 

Eu, vocês, todos nós temos uma formação familiar – a essa formação eu chamo viço. O viço, para mim, é que meu pai é de família pobre, motorista de táxi e me deu educação, então, modéstia a parte, eu tenho viço. E no viço, a gente aprende que você não pode ouvir conversa detrás da porta, não pode ouvir conversa dos outros no telefone.

Mas no jornalismo, se tem uma reunião ministerial e se eu conseguisse ficar detrás da porta para ouvir o que se tratou ali, isso é válido. Aliás, isso dá status, isso dá prêmio. Porque a gente infringe esse dogma que a gente aprendeu em casa em nome do chamado interesse público.

Então eu posso, num caso extremo, se tivesse Eduardo Cunha falando – tem gente que faz isso, eu não faço – pegar uma extensão e ouvir. Vale tudo para o interesse público. Você não vai ouvir um homem de bem, mas e uma conversa de bandido?

A ética do jornalismo é um pouco diferente daquilo que você aprende em casa, mas a essência é a mesma, é de que você não pode mentir. Então é incompatível a profissão jornalística com o comportamento de um mentiroso. Não estou dizendo que não existe esse tipo de pessoa no jornalismo, mas a própria profissão expurga, a mentira é logo descoberta. É inconcebível tal qual um ginecologista tarado.

L: Moreno, nessa sua agenda aí tem muitos presidentes, ministros…

M: Não sou só eu, é qualquer repórter. Mas a questão toda é que o jornalista não pode ser deslumbrado. Hoje – com os políticos lá embaixo – seria um conceito péssimo ter esse deslumbre. Na verdade ocorre mais o contrário porque o jornalista convive bem com os políticos, mas ele internamente torce o nariz, pensando que é um bando de ladrões.

O deslumbramento é inerente ao ser humano, mas naquilo que você admira. Cito um exemplo de algumas amizades minhas no meio do entretenimento que foram conquistadas pessoalmente e não no exercício da profissão. Há determinadas celebridades com as quais eu convivo e pelas quais eu sou deslumbrado.

Eu não posso negar que muito me honra a presença da Fernanda Montenegro nos eventos em minha casa. O mesmo com Gilberto Gil e outras pessoas que poderia citar… são ídolos.

Já na minha profissão não tenho ídolos.

L: Mas tem amigos?

M: Tinha um senador que hoje está afastado da vida pública, o Pedro Simon, que gostava de brincar. Uma vez ele inventou que fomos eu e Cristiana Lôbo jantar com ele pensando que ele ia ser ministro de Itamar Franco. Quando ele falou que não seria, nós o abandonamos e deixamos sozinho na mesa do restaurante (risos).

Mas era sacanagem que ele fazia porque é muito brincalhão. Ele vivia dizendo: “Você só me procura quando estou em algum cargo”. Eu respondia: “Senador, é verdade. Se eu pudesse, no meu horário de trabalho procurava só o senhor, mas aí eu estaria sendo desonesto com o jornal em que trabalho que me manda procurar as pessoas importantes que têm notícias para dar”. 

A verdade é que o presidente da Câmara, seja ele quem for, ou presidente da República, do Senado, do Supremo, só procura determinados jornalistas e só os atende pela importância que eles acham que o jornalista tem em seu veículo.

Nós também só os procuramos porque circunstancialmente eles estão exercendo esses cargos. A relação é de interesse profissional das duas partes. Só que acontece que, de tanto conviver profissionalmente com uma fonte, você às vezes acaba criando um vínculo de amizade. Aí complica. Acontece comigo também, somos todos seres humanos.

L: Como foi sua amizade com Ulysses Guimarães?

M: No meu tempo, eu circulava muito pelo Congresso e tal, e tive o privilégio de conviver com políticos que na época eram muitos respeitados, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.

Fui assessor do Dr. Ulysses por três meses, mas eu trabalhei a vida toda cobrindo ele e muito me honra falar dele. Eu vim de Mato Grosso, morava sozinho e eles, apesar de serem pessoas muito requisitadas, tinham momentos de solidão, então me chamavam para jantar e eu tinha disponibilidade, era solteiro, a vida toda fui solteiro, e eu ia.

Ulysses e Tancredo Neves não me prejudicaram nessa equação amizade e profissionalismo. Pelo contrário. Porque me tinham como amigo profissional e isso me dava, de certa forma, uma credencial porque as pessoas respeitam os políticos sérios.

Com esses dois tive uma relação de confiança, mas em tese, o que prevalece é que o jornalista não deve ser amigo de ninguém. É isso o que aconteceu comigo em relação a esses dois… Circunstâncias.

L: Pelo visto, a vida de jornalista te rendeu relacionamentos memoráveis. 

M: Aos 19 anos, vim para Rio estudar jornalismo, era um outro período da vida nacional. Hoje eu posso dizer que eu tenho uma relação profissional boa com quase todo mundo, menos com as pessoas mais ligadas à Lava Jato, que eu denuncio.

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha tem 23 processos contra mim.  Assim como muito me honra o fato de ser amigo de Ulysses e Tancredo, muito me honra ter 23 processos desse inimigo público número um.

Eu tenho que lutar pelo interesse público, então para mim esses processos são medalhas de reconhecimento ao meu trabalho de interesse público. 

Quando eu falo que os jornalistas não têm amigos, têm fontes, eu estou cometendo aos olhos de muitas pessoas uma hipocrisia porque a grande crítica que meus inimigos fazem a mim é: “Moreno é amigo das fontes”. Não é verdade. Mas tem uma amizade que eu faço questão de destacar – eu sempre gostei de mulheres bonitas e inteligentes – é Manuela D’Ávila (deputada do RS), grande amiga minha.

 
Projeto Lupa

O Projeto Lupa publica relatos sobre pessoas ligadas à arte de contar histórias: escritores, roteiristas, jornalistas, músicos, contadores de história oral, entre outros. Tentamos sempre relacionar as dimensões prática e subjetiva da criação: Quais os caminhos para quem ama as palavras? Dá pra viver disso? Como é o processo criativo? Nossos textos buscam criar experiências de leitura prazerosas mantendo um olhar afetivo e singular sobre cada entrevistado.