Já se falou muito sobre o confronto de policiais militares com alunos da USP, menos o seguinte: fumar maconha é um direito humano básico.
Eis o artigo quarto da declaração de direitos do homem e do cidadão:
“A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei”.
Muitas cabeças de reis rolaram na lâmina quente das guilhotinas de Paris para que esses princípios se consagrassem universalmente como direitos do homem e não liberalidades do Estado. Em outras palavras, todo ser humano tem alguns direitos, independentemente de o Estado os consagrar ou não. Todos têm direito à vida, à liberdade e à igualdade perante a lei.
Recentemente, estudantes da USP entraram em confronto com policiais militares. O motivo da peleja: três estudantes pegos em flagrante fumando um baseado. Os policiais tentaram prendê-los, outros estudantes se rebelaram e, em pouco tempo, os horrores da violência estudantil contra a pobre polícia já estavam no Jornal Nacional, horrorizando a boa sociedade paulistana e fazendo o Brasil sentenciar:
Bando de maconheiros vagabundos! Porrete neles!
Mas, existe um problema meus caros amigos. Fumar maconha é um direito humano básico. É uma liberdade básica. É a liberdade de fazer aquilo que quiser com o seu próprio corpo. Assim, por exemplo, se o governo proibir, amanhã, o consumo de chocolate, a sua obrigação enquanto ser humano é olhar na cara do Estado, ou do carola que o representa, e dizer, saboreando cada palavra e todo o chocolate:
Estado nenhum vai me dizer o que eu posso ou não fazer do meu corpo.
Alguns dirão que este princípio consagraria a desordem e a anarquia. Afinal, o Estado existiria para limitar as nossas liberdades dentro de limites que nos possibilitassem a vida em sociedade. Entretanto, o Estado e as leis só podem regular os direitos de todos, e não reprimir as liberdades individuais.
Se fumar um delicioso baseado, posso prejudicar minha saúde. Mas seria só minha saúde. Entretanto, se fumar e dirigir, posso colocar em risco toda a sociedade. Portanto, fumar deveria ser permitido; fumar e dirigir, proibido. É só aí que a lei teria legitimidade de fato.
Outros dirão que fumar maconha prejudica a sociedade pois abastece um mercado paralelo cada vez mais armado e violento.
Ora, quem fuma exerce um direito básico; quem proíbe é que cria um mercado paralelo. Eu compraria um baseado em qualquer loja de conveniência, mas sou impedido por você que defende a proibição. Em Sampa, só posso comprar do PCC, eles têm exclusividade. Então, meu caro, cada corpo produzido pelo tráfico entra na sua conta e não na minha.
Ainda dirão que a erva de Raul prejudica a saúde e que toda a sociedade paga para custear os gastos do SUS com estes doentes. Isso também não é verdade.
Afinal, cada grama de marie seria tributada e, portanto, a sociedade ganharia e não gastaria recursos. Mesmo assim, os carolas deveriam ler esse estudo, onde cientistas ingleses classificaram as vinte piores drogas: o álcool seria a 5ª pior droga; o cigarro, a 9ª; e a maconha ficaria somente com a 11ª colocação.
Os alunos da USP, portanto, estavam exercendo seu direito quando foram brutalmente cerceados em sua liberdade. A revolta é legítima.
Você mulher no Irã, quer se separar e não pode? Dê para seu cunhado e faça um vídeo. É seu direito.
Você, cidadão cubano, quer ir a outro país e não pode? Monte um barco e vá. Governo nenhum pode regular a sua liberdade.
Você, cidadão brasileiro, se estiver fumando maconha, não aceite sem resistir a prisão. Afinal, fumar maconha é ilegal, mas é seu direito. Lute por ele!
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