Na primeira de uma série de entrevistas com diversos profissionais aqui no PdH, conversamos com Kiko Mattoso, redator em uma das maiores agências do país e um dos caras por trás da genial ideia e roteiro do comercial “Massagista de modelos (pior profissão do mundo)”, lembra?

1. Qual sua história? Quais suas origens? O que fazia antes de ser redator?

Nasci em São Paulo, cresci em Campinas. Voltei à capital aos 18 anos para fazer faculdade de Comunicação Social e, antes de trabalhar como redator, eu estagiei no estúdio de som da faculdade. Mas em geral passava as tardes na faculdade mesmo, tomando cerveja e jogando futebol, sinuca e ping pong.

2. Como descobriu que era isso que queria fazer e como chegou onde está?

Eu sempre gostei de comerciais. Quando o intervalo da novela começava, eu pedia a minha família para ficar quieta para que eu pudesse prestar atenção. Tudo foi rolando as poucos, consegui um estágio numa micro agência do pai de uma amiga, lá fiz um portfólio e fui para uma agência maior, e assim fui indo até chegar aqui.

Link YouTube | Realmente a pior profissão do mundo…

3. O que você faz atualmente? Qual sua especialidade? No que você é realmente bom?

Hoje sou redator publicitário. Não sei se tenho uma especialidade, mas dentro de todas as coisas que dá para você criar dentro de uma agência – como anúncio de revista, de jornal, materiais de ponto de venda, outdoor – o que mais gosto de criar são comerciais, que geralmente são de 30 segundos. Adoro o desafio de passar uma mensagem da melhor maneira possível, rápida, criativa, original e que realmente faça a diferença para o produto e para a marca.

4. Conte um pouco do seu cotidiano.

Eu acordo umas 8 da manhã, vou de carro trabalhar. Chego na agência onde trabalho, crio o que tiver que criar, seja uma campanha, um filme, o que for. Na hora do almoço vou na academia correr. Volto para o trabalho às 14h e vou até geralmente umas 20h30. Chego em casa, leio ou fico no computador, vejo TV e capoto.

5. Uma história ou uma cena que fez todo o esforço valer a pena.

Para um trabalho sair bom é preciso fazer muito, lapidar, olhar, parar, olhar de novo, lapidar. Só assim você chega num trabalho que realmente vale a pena. Fizemos aqui um roteiro sobre um massagista de modelos que odiava a profissão [vídeo acima], foram muitas opções até chegar no roteiro final. Mas valeu cada letrinha.

6. O que acontece nessa profissão que ninguém imagina? Aproveite pra quebrar mitos, idealizações ou preconceitos.

Um dos mitos que eu conheço desde que entrei na profissão é que publicitário de criação cheira. Nós cheiramos mesmo, temos o sentido do olfato e o usamos para identificar desde uma flor até um cachorro molhado. Cocaína eu nunca vi, dentro de agência nenhuma que trabalhei. Agora o que as pessoas fazem em casa, aí não sei. Outra coisa que é mito é o glamour. Não existe o glamour todo que as pessoas pensam, existe muito trabalho, isso sim.

Trabalho voluntário: texto para divulgação da revista Bodisatva

7. Quais os erros de outros redatores que deixam você com vergonha da profissão?

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Existem pessoas de boa e má fé como em qualquer profissão. Nenhum erro de qualquer redator seria capaz de me envergonhar da profissão. O problema na minha opinião é mais amplo: é de algumas pessoas que controlam o mercado, que muitas vezes não fazem uso da ética em seus negócios.

8. Mulher: melhor trabalhar ao lado, melhor mantê-la longe ou nenhum dos extremos? Como concilia trabalho e relacionamento?

Eu não gostaria de trabalhar ao lado de minha esposa, se eu tivesse uma. A resposta é óbvia, eu acho, cada um com seu espaço, com sua profissão. Trabalhar junto, depois dormir junto, acordar junto… uma hora eu iria acabar dando nela (risos).

9. Quais são os passos específicos e concretos que um leitor que queira se tornar um redator pode tomar agora? Na sua trajetória, quais foram os grandes trampolins, segredos e ajudas essenciais que lhe ajudaram a chegar ao próximo nível?

Primeira coisa é olhar os Anúarios do Clube de Criação de São Paulo para saber que tipo de anúncio as agências consideram criativo. Você pode encontrá-los na biblioteca da faculdade, numa boa livraria ou no próprio Clube de Criação.

Você deve também estar atento ao que o mundo anda fazendo, não só o Brasil. Os ingleses, argentinos, americanos são realmente muito bons e vale a pena acompanhar o que eles andam fazendo. Comece vendo o Oneshow e D&AD, por exemplo.

Segundo passo é fazer um portfólio com umas 15 ou 20 peças e ir mostrar nas agências. Basta ligar e pedir para falando com alguém da área. Não é fácil, aliás, é bem foda. Você vai mostrar umas 30 vezes, mas uma hora, se for melhorando seu trabalho, vai conseguir um estágio.

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10. O que você demorou muito tempo pra aprender e agora pode resumir em poucas palavras?

Eu não preciso ser perfeito. Vi que posso ter defeitos – aliás, uma porrada deles – e gostar de mim assim mesmo.

11. Quais seus outros interesses, práticas e habilidades? Filosofias, esportes, artes, espiritualidade…

Tenho vários interesses, como escalar, correr, fazer windsurf, escrever, tocar guitarra e também, “na parte mais espiritual”, gosto de meditar. Mas não levo muito a sério, tenho meditado duas vezes por semana e olhe lá.

Uma coisa que eu penso é que a gente tem de fazer do Brasil um país de gente mais competente e ética. A mentalidade de levar vantagem em tudo, jogar lixo no chão, furar fila, passar por cima dos outros, isso tem que acabar, temos que dar um bom exemplo para quem ainda não aprendeu a ter um comportamento mais coletivo. Eu me incluo nisso, ainda tenho muito o que aprender.

12. Faça uma pergunta que gostaria muito que alguém que te perguntasse. E responda.

–Que país gostaria de visitar na sua próxima viagem?

–Nepal.

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>