Muito antes de pôr os pés em uma faculdade de comunicação, a noção sobre o que era ou não jornalismo já fazia parte da minha vida – assim como acontece com a maior parte da população. Paulatinamente repetido ao meu redor desde criança, o tripé neutralidade, transparência e verdade garantia uma aura de superioridade intelectual e serviço público a tudo o que lia no jornal, na revista de páginas amarelas que meus pais assinavam ou assistia na televisão.

Alguns anos de desilusões, revoltas juvenis, a descoberta do jornalismo como negócio, estudos e discursos inflamados contra esse ou aquele veículo foram necessários para entender que o problema era bem mais profundo do que expressões em voga hoje, como PIG ou esquerda caviar, são capazes de resumir.

Um dos maiores problemas do Jornalismo é o paradigma da objetividade, a mentira estrutural e recorrente que ele, na maioria das formas em que é praticado, conta sobre si mesmo. “Sou imparcial, sou objetivo”.

A divisão entre notícias e opiniões, que data do século XVIII, tentou suprimir a proximidade entre repórter e fato, a interação entre jornalista e acontecimento e o arcabouço de experiências que acompanham uma pessoa pela vida antes que ela digite os primeiros caracteres de qualquer texto. Como não existe conhecimento absolutamente objetivo, muitas empresas e colegas de profissão falham de forma retumbante e ampliam a mentira todos os dias, ao tentar alcançar o inalcançável.

Pegando emprestadas as palavras de Werner Heisenberg, o físico ganhador do Nobel que deu origem ao codinome do personagem de Breaking Bad: “Nas ciências naturais, o objeto de investigação não é a natureza em si mesma, mas a natureza submetida à interrogação dos homens”. O objeto de investigação do jornalismo não é o fato, mas sim o fato submetido à interrogação dos homens.

jornalismo

***

Visto que não acredito na imparcialidade jornalística da maneira como ela é vendida, creio que, para informar melhor, é papel dos produtores de conteúdo abrir o jogo sobre a origem de seus posicionamentos e as crenças que mantém. Se o que costumamos chamar de velha mídia reluta em abrir posicionamentos (exceção feita ao Estado de São Paulo e à Carta Capital), acho que um espaço plural como aquele que o PdH se propõe a ser deveria aproveitar a oportunidade que as eleições apresentam para fazer diferente e se colocar com clareza.

Aqui dentro da casa nossa opinião não é um uníssono. Não há, lamento dizer, um grande chefe que nos obriga a escrever de acordo com aquilo em que ele acredita. Justamente por isso, creio que uma multiplicidade de vozes e argumentos pode ajudar outras pessoas a se posicionarem no vendaval de ódio pelo candidato oposto que tem tomado as ruas e as redes sociais. Chamamos algumas das pessoas que fomentam e participam da nossa rede para expor, com os olhos limpos e o coração cheio, o que pensam fazer em frente à urna no dia 26. Mais vale a discussão e a conversa do que a postura de torcida organizada por PT, PSDB ou pelas noções cada vez menos concretas do que seriam esquerda e direita.

A pergunta foi: em quem vocês pretendem votar e por que acreditam que esse caminho é o melhor de acordo com a visão que você tem?

***

Guilherme Nascimento Valadares | Aécio

Acima de tudo, me sinto despreparado para escolher quem deve ser o representante político máximo de nosso país pelos próximos quatro anos.

Esse foi o primeiro ano em que comecei a realmente prestar mais atenção nas eleições, lendo diferentes revistas e jornais, conversando com as pessoas sobre e sendo tão honesto quanto possível sobre minhas limitações quase infantis. Fiz até um teste ideológico na Folha, segundo o qual eu seria de centro-esquerda, mesmo eu não tendo ideia de como explicar o que significa isso.

Pelo que consegui acompanhar dos três principais candidatos (Dilma, Aécio, Marina), parecia estranhamente haver mais similaridades do que diferenças entre muitas de suas posições e como iriam efetivamente governar – atestado pelos slogans que parecem ter vindo de um gerador aleatório de slogans presidenciais: “Governo novo, ideias novas”, “#MudaBrasil”, “Nova Política”.

Na maioria das vezes em que conversei com pessoas fervorosamente favoráveis a um candidato, não conseguia escutar no discurso um entendimento profundo de como era a estrutura por trás de quem defendiam. Digo, se tal candidato for eleito, quem vai fazer o que em seu governo, quais as visões específicas de seu time e seus aliados mais próximos?

As conversas logo se tornam pessoalizadas e agressivas.

Se foca no candidato em si, criticando X ou Y que ele já disse ou fez. Mas algo que parece bem claro pra mim é como todos já se comprometeram pesadamente e que, na prática, o governo deles vai depender bem mais da estrutura, dos braços direitos, da alta cúpula selecionada e das coligações por trás.

Eu já votei no Lula e fico honestamente feliz de ver o que o PT fez pelos mais pobres e desprotegidos. Acho que foi uma conquista sem tamanho ele ter chegado ao poder máximo e se mantido lá por 12 anos. Mas me incomoda muito, diante da enxurrada de escandâlos de corrupção envolvendo a mais alta cúpula do partido (justamente aqueles que estavam administrando a casa), aceitar a ideia de que esse mesmo partido vá se manter no poder mais quatro anos.

Então, ainda que seja um critério limitado e bem mais anti-algo do que necessariamente em favor de alguém, hoje, levando em conta uma necessária alternância de poder para nossa contínua evolução democrática, eu votaria no Aécio.

Acredito que o próprio PT se beneficiaria disso, de tempo para rever o que fez de certo e errado ao longo dessa última década e renovar seus quadros.

Porém, em reconhecimento da gigantesca deficiência política em mim e, em maior ou menor parte, em quase todos com quem conversei, há algo no qual tenho plena convicção.

Necessitamos de alfabetização política em massa – inclusive, talvez em especial, para as pessoas que orgulhosamente não se consideram massa de manobra. Alfabetização política, a meu ver, não significa apenas transmitir conhecimento como já estamos fazendo nos artigos da série “Para entender política“, que eu tenho editado pessoalmente.

Significa sermos mais acolhedores e tolerantes e humanos uns com os outros, independente da motivação de cada um. Precisamos nos escutar mais, reconhecer que toda posição é legítima e que uma pessoa que não tem sequer a chance de ser escutada por seus opositores e falar vai ter bastante dificuldade em considerar mudar de posição.

Política precisa sair do território da fé cega e do discurso de ódio, de afirmação de identidade e negação do outro, para entrar no campo do real diálogo e da busca pelo bem comum, no qual mudar de ideia e examinar proposições em profundidade sejam ações tão comuns quanto tomar um café pela manhã.

Que os próximos anos favoreçam, mais do que um ou outro partido, esse grande e perene movimento de alfabetização política para cada um de nós. Estejam certos de que o PdH vai continuar fazendo sua parte.

 

Luciano Ribeiro | Dilma

Dilma-4

Eu, particularmente, não tenho compromisso com nenhum candidato ou partido. Porém, sinto que algumas bandeiras me pegam, ainda que eu não seja exatamente um exemplar defensor delas.

Pensando rapidamente, julgo importantíssimo melhorar e criar consciência sobre nosso consumo para evitar que pessoas sejam escravizadas. Acho que precisamos rever a forma como tratamos nossos recursos naturais e energéticos. Há uma fila enorme de direitos que vários grupos precisam ter legitimados (casamento de pessoas do mesmo sexo é só um dentre tantos outros). A cultura e a arte também precisam de muito mais espaço e voz.

Mas não dá pra negar que nosso mercado cultural melhorou muito em pouco mais de dez anos e foi fomentado por novas leis que, ainda que falhas em diversos aspectos, permitiram que muita coisa boa chegasse às pessoas.

Além disso, vejo vários avanços que foram feitos nos últimos anos e eu mesmo fui beneficiado por alguns deles. Eu talvez nunca tivesse feito faculdade, por exemplo, se não fosse o Prouni. Fiquei impressionadíssimo com o relatório da ONU dizendo que o Brasil saiu do mapa da fome, graças a programas como o Bolsa Família e consigo ver benefícios incríveis no fato de milhões de pessoas terem saído da pobreza. Nunca antes havia sido feito um mapa do trabalho escravo ou, sequer, havia se pensado nessas pessoas. Isso é digno de aplausos, aos meus olhos.

Sei que muitas das minhas preocupações não serão atendidas como prioridade pelo governo da Dilma e também estou ciente das milhares de camadas de problemas e contradições do PT, mas ao contemplar o histórico do Aécio e do PSDB, fico bem preocupado com eventuais retrocessos, pelo simples fato de que os olhos dele vão estar voltados para uma aceleração ainda maior de tudo o que vejo como problemático nas políticas atuais.

Entre votar a favor da estagnação ou retrocesso de tudo o que acredito ser importante e avançar lentamente, prefiro votar na Dilma. Pra mim, ela representa a continuidade e o avanço, ainda que lento, de políticas que considero muito importantes e, nem de longe, visualizo o Aécio seguindo.

 

Eduardo Pinheiro | Nulo

Eu vou votar nulo, como tenho votado (ou justificado) desde as eleições de 98, porque não acredito em representação política, e também em protesto a ser obrigado a votar. Não acho que seja um gesto vazio, me sentirei muito melhor por não ter dado meu vouch a quem quer que seja o fantoche sendo surrado pela mídia durante o próximo período.

Ainda assim, sou de esquerda, e se você acha relevante o ato de votar e eleger representantes, por favor vote no candidato mais a esquerda. Acredito que esta seja a Dilma, embora ela esteja muito mais a direita do que se poderia esperar. O outro candidato é impensável, mas o PT segue levantando a bandeira do crescimento econômico e de encher as ruas de carros. É ótimo tirar as pessoas da pobreza, mas para virar classe média que faz turismo e dirige, daí é falta de perspectiva. Essa coisa do Bolsa Família, e a tentativa de melhorar a educação, são boas coisas. Mas o que sei eu? Eu não presto atenção à contingência política midiática/representativa. Política se faz evitando consumir (de forma geral, e boicotando certas marcas) e cozinhando em casa.

Quanto a corrupção, acho que o governo atual deixa os bancos ganharem dinheiro demais.

Eu não sei se o PDH é mais à esquerda. Imagino que sim, porque gente que escreve e lê geralmente está mais a esquerda. E a direita não existe há 30 anos, no mundo todo, como razoável, relevante ou interessante (infelizmente, porque uma boa oposição parece essencial para qualquer formato político pasteurizado do tipo que se tem por aí). De toda forma, eu sou escancaradamente por regulação da economia, impostos progressivos, democracia direta, crescimento sustentável e contra a pessoalidade corporativa.

Ainda assim, não acho que se precise deixar claro as posições políticas, mesmo que se esteja tentando convencer alguém delas, e não acho falta de honestidade apresentar ideias sem rótulos.

 

Alberto Brandão | Aécio

aecio 1

O Brasil se tornou um país ridiculamente ineficiente. Existem problemas gravíssimos a serem resolvidos, mas que foram esquecidos pelo governo vigente. Os serviços básicos estão sucateados e, independente da esfera que observarmos, encontraremos os sistemas falidos. Não me entendam mal, acho muito importante o poder de compra da classe baixa ter aumentado, mas de nada adianta, se não puder ser exercido com plenitude. Não adianta comprar um carro novo se só pode usar no final de semana, já que não existe onde parar no trabalho, o estacionamento privado está caro, a gasolina e álcool em níveis absurdos e, pela falta de segurança, sempre fica aquele medo de ter o veículo roubado – por que seguro ainda não dá para pagar. Nisso entra o conflito: O transporte público é ineficaz, então precisamos de carro, mas se o transporte funcionasse, precisaríamos mesmo possuir um automóvel? É um ciclo que acaba funcionando com quase tudo por aqui. Nosso novo poder aquisitivo nos permite ter plano de saúde, mas só precisamos porque a saúde pública não funciona.

Assim vamos seguindo, segurança privada, educação particular e até a compra de produtos, onde pagamos cada vez mais caro quando comparados ao resto do mundo. Em resumo, nosso poder aquisitivo subiu e isso é bom, mas nos causa a falsa sensação de progresso, porque esse dinheiro só serve para suprir necessidades nas quais já pagamos com nossos impostos, dinheiro este que se perdeu em algum lugar no meio do caminho.

É também importante explicar que não sou contra os programas sociais, e que considero a grande maioria, como o exaustivamente citado Bolsa Família, bem positivos. Entretanto, programas como estes são tão bons e com um retorno tão positivo para o PIB do Brasil, que é loucura acreditar que um governo sucessor irá retirá-los sua pauta.

Se deixarmos um pouco de lado a questão social e observarmos o funcionamento do país, veremos que existe uma deficiência grande. O que acredito, quando decido votar no Aécio Neves, é que o PT fora da presidência poderá focar em seu corpo presente no Congresso Nacional, continuar defendendo pautas sociais trabalhistas, e ainda, fazendo o papel que melhor faz, sendo oposição. Um governo precisa focar na estrutura econômica do país, garantir que os serviços básicos funcionem para todos e, ainda, impulsionar o crescimento. O papel de propor outras questões depende muito mais da política dos deputados e senadores que do Presidente da República. Não espero que Aécio seja o salvador da pátria, entendo que todo o meio político é contaminado, mas vejo que mudando um pouco a configuração podemos encaixar cada peça onde ela tem chance de funcionar melhor.

 

Bruno Passos | Vai justificar. Se votasse, Dilma

Dilma em seminário do PSB em Brasília, nesta segunda

Diante das opções disponíveis no primeiro turno, optei por Marina Silva.

A candidata Marina foi a terceira via mais tangível para a assumir a presidência desde que eu virei eleitor. Discordo da maneira de governar do PT e do PSDB e gostaria de dar oportunidade ao surgimento de uma nova estrutura política menos polarizada e viciada. Estava longe de ser uma certeza, mas não tenho dúvidas que se tratava de uma esperança.

Voto atual: irei justificar, mas se votasse seria na Dilma. Meu principais motivos são:

– Tenho dúvidas se faria ou não a melhor escolha. Por este questionamento e por uma extrema descrença nos dois partidos, não me sinto compelido a viajar novamente 450 km para votar como fiz no primeiro turno.

Aliás, o que me levou a fazer isso anteriormente foi a crença de poder influenciar no resultado do Legislativo, este sim minha maior preocupação – creio que é o Poder que mais pode transformar nosso país.

– Estudei, analisei e conferi informações durante um bom tempo nas últimas semanas e enxerguei no quesito corrupção, – principal critério a ser julgado – uma semelhança muito grande entre os dois partidos. Tanto em proporção quanto em alcance, o que parece variar é somente o modo de operar e o local de agir.

Meu segundo critério foi tentar entender as principais bandeiras. Cheguei nessas:

PT – desigualdade social e ensino superior;

PSDB – economia e ensino fundamental;

Fiquei contente em perceber que a Educação é parte prioritária dos dois partidos. Acredito que a chave de todos nossos problemas resida aí. Não soube julgar qual dos “ensinos” seria o mais apropriado para receber investimento massivo no momento, então parti para o comparativo da segunda bandeira de cada um deles. Entre Desigualdade Social e Economia, nos moldes propostos, fico com a desigualdade social, embora esta opção me desfavoreça como empresário do setor de vestuário (desde a criação de minha empresa, há cinco anos, percebo o setor como totalmente abandonado pelo governo).

Conversei com as pessoas mais inteligentes e bem informadas que conheço e encontrei-as em ambos os lados (Aécio e Dilma). Aliás, quanto mais inteligentes, mais abertas a ouvir minhas indagações elas estavam. Notei que minha raiva não era partidária, mas sim direcionada às pessoas que eram, simplesmente, burras. Burras por achar que quem vota diferente é desinformado, enganado ou má pessoa. Burras por que preferem ressoar como seus candidatos e, ao invés de expor propostas em seus murais, só buscam pelo que há de pior no lado oposto. Burras por acharem que se trata de quem vai fazer melhor a mesma coisa, enquanto na verdade se tratam de duas visões distintas de futuro para o Estado.

Leia também  O que aprendi sobre inovação construindo uma casa container

Gostaria de dizer que minha avaliação foi totalmente imparcial, pois é assim que acredito que devam ser todas as decisões relativas ao Estado, mas ela foi prejudicada por dois fatores alheios à campanha presidencial que talvez tenham sido os maiores influenciadores da minha opinião final:

1- Não se pode combater o que não se vê. Me preocupou a maneira com que o Aécio foi, aparentemente, blindado pela imprensa, principalmente, durante seu governo em Minas.

2- Hábitos, vícios e opções pessoais não me dizem respeito quando é hora de escolher um candidato, mas eu nunca conheci um homem que tratasse mal sua mulher e fosse lá um grande exemplo de ser humano.

Obs: Não ficarei feliz com a vitória de quem quer que seja, nunca me senti tão mal representado. Talvez eu apenas ande estudando demais – bora voltar pro trabalho.

 

Lucas Pedrucci | Nulo

Votar 45 não é uma possibilidade.

O compromisso claro com o grande capital e o olhar preconceituoso e cínico aos pobres e minorias junta-se agora à histeria coletiva de uma panfletagem cega e violenta que soterrou o debate, com apoio forte dos grandes veículos. Os argumentos do “fim da corrupção” e da “mudança” beiram o patético quando olhamos para a história do partido e de seu representante, ainda mais quando vêm recheados de conceitos deturpados sobre o que se entende por “esquerda”.

Votar 13 tampouco é uma possibilidade.

Se a intenção dos programas sociais é boa – e mesmo havendo, aceitemos, benefícios comprovados -, seu planejamento e execução transbordam incompetência intolerável. A ausência de bom senso fica clara ao continuar apostando em modelos “emergenciais” sem a menor sinalização de reformar a estrutura que causa a desigualdade e a exclusão, vendendo paliativos superficiais como um modelo de Estado exemplar. Votar 13, por exemplo, significa sujar as mãos com sangue de incontáveis pacientes abandonados e desassistidos por um sistema cruel e agora enganados por um projeto estapafúrdio.

Por isso eu – que tirei meu título de eleitor aos 16 anos, ávido por participar do processo “democrático” representativo – hoje voto nulo com grande pesar. E vejo cada vez menos sentido em engajar-se na inútil luta com os galhos.

 

Everton Maciel | Aécio

aecio 4

Estava fazendo, agorinha, um dessas enquetes da internet. Diz ela, a enquete danadinha, que me encaixo muito mais no perfil político de um eleitor da Dilma que do Aécio. Faz todo sentido. O raciocínio de quem bolou a enquete transferiu para a autodenominada esquerda várias pautas do liberalismo: liberação da maconha, aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e outras coisas.

Quem fez a enquete não está completamente errado. Maior que o revisionismo histórico feito pela Rede Globo e Folha de São Paulo, no período de anistia, é o revisionismo progressista, muito mais amplo e despreocupado com sua origem totalitária, machista e homofóbica. Mesmo com tudo isso, prefiro advogar em favor de quem comete esse tipo de confusão. É muito melhor imaginar que o atual partido do governo – ou o governo do partido, eles já não sabem mais – é preocupado com essas causas do liberalismo com as quais eu também me preocupo, e as apóia. A única pergunta que resta é a seguinte: não deu tempo de fazer nada disso, ainda? Exigir o PT no poder já foi uma questão democrática. Exigir que o PT desocupe a moita é uma questão prática, em um país que um dia queria ser chamado de democrático.

Sugerir a alternância de poder realmente não me parece um ponto definitivo para enxotar o atual partidão nas urnas, neste domingo. A alternância talvez se transforme em argumento quando nós nos transformarmos em uma Bolívia. Antes disso, por mim, tanto faz. Podem transformar o Lula em monarca soberano. Pouco me importa. O atual partido deve deixar o poder porque ficou devendo muito das suas promessas. Não democratizou o acesso ao ensino superior, como prometeu, fazendo reforma de base (se alguém quiser chamar distribuição aleatória de diplomas, com custo social e econômico exorbitante, de democratização, faça-o por sua conta e risco). Não melhorou o acesso à saúde. Tornou a segurança pública uma sandice, ajudando com o sucateamento dos estados. O partidão combateu a fome. Ponto. Mérito para ele. Obrigado, e até a próxima chance.

Cabe agora, nesse momento da história da nossa democracia, imaginar que o país pode ir em frente cada vez menos dependente de um estado centralizador. É importante também sepultar a ideia de constituinte exclusiva e se reivindicar publicamente uma representação parlamentar efetiva. Nada disso foi feito e todas as chances foram dadas. Passar o bastão, precisamente agora, não é a mera alternância pela alternância, é a esperança de que possa haver um pacto federativo real, uma reforma política séria e um futuro com menos governo e mais povo. Honestamente, parece a única forma de fazer as pessoas compreenderem que a sociedade civil pode funcionar independente de quem está com a caneta na mão.

No fundo, o otimismo é um defeito de caráter incorrigível.

 

Alex Castro | Dilma

dilma-1

Voto em Dilma porque a função do Estado é proteger os mais fracos.

A principal função do estado é cuidar daquelas pessoas que não podem cuidar de si mesmas.

* * *

Sou uma pessoa privilegiada em todos os quesitos. Branco, hétero, classe média, viajado, urbano, pósgraduado.

O Estado já me deu de bandeja todas as vantagens possíveis e imaginárias: não quero mais nenhuma.

O Estado não precisa fazer nada por mim. Não quero que o estado faça nada por mim. O Estado já fez de tudo por mim. O Estado já fez demais por mim.

Esse estado foi criado, e vem sendo mantido e aperfeiçoado há centenas de anos, por homens brancos para o benefício de seus filhos e netos, também homens, também brancos.

Não estamos no momento histórico de voltar a eleger homens brancos ricos héteros herdeiros capitalistas para o cargo máximo do brasil.

* * *

Eu voto no projeto de país que prometa fazer o mínimo por mim.

Que prometa sobretaxar meu iPad e reinvestir em saúde.

Que prometa sobretaxar minha herança e reinvestir em educação.

Que prometa pagar às mulheres os mesmos salários que aos homens, que reconheça os direitos gays tanto quanto os héteros, cuja polícia trate os negros iguais aos brancos.

Por toda a minha vida, o estado me preparou para não precisar dele. Sei as manhas, tenho as tretas.

Se o Estado se virar contra mim, tenho como me defender.

Quero um Estado que defenda as pessoas que não têm como se defender dele.

Quero um Estado que defenda as pessoas que, por falha desse mesmo estado, têm uma educação pior que a minha, uma saúde pior que a minha, perspectivas piores que as minhas.

Quero um estado que quebre a cabeça para facilitar a vida de quem tem pouco, nem que ao custo de dificultar a vida de quem tem muito.

* * *

No primeiro turno, votei PSOL.

Dilma e o PT não são perfeitos. seu modelo ainda se baseia em um ciclo insustentável de mais capitalismo, mais crescimento, mais energia elétrica. Não existe saída possível sem questionarmos o consumo.

Mas agora, hoje, as opções são essas:

Um homem que, aos 17, trabalhava para um dos ditadores militares, contra uma mulher que, aos 17, arriscou a vida para lutar contra essa mesma ditadura, foi presa, torturada e quase morreu.

E, hoje, tantos anos depois, o primeiro continua defendendo o receituário neoliberal-conservador e a segunda está dando prosseguimento ao primeiro governo que já tivemos a priorizar os mais pobres.

Com todos os seus enormes problemas e contradições, quem fez a opção por defender os mais fracos foram os governos do PT.

Por isso, no domingo, voto em Dilma.

 

Diego Dubard | Nulo

A democracia representativa brasileira não é democracia e não é representativa. É por isso que sempre voto nulo.

No Brasil não há democracia por que na democracia o povo exerce o poder, ou a sua vontade política, livremente. Não há liberdade real na tomada de decisão quando não há formação política, desenvolvimento crítico da opinião e participação nos debates políticos. Não há, também, liberdade na escolha da representação política, uma vez que não temos a possibilidade de candidaturas avulsas, livre de agremiações políticas. O financiamento de campanha é desigual, mantendo e perpetuando grupos políticos e econômicos no poder.

A democracia brasileira não é representativa uma vez que o legislativo, especialmente o Congresso Nacional, não discute o que é caro a população. Não há debate sobre a reforma política, sobre a reforma tributária nem se discute um projeto de nação, com metas para os próximos 30 ou 50 anos. Nosso Congresso demorou 3 anos para votar o Plano Nacional de Educação. Discute-se o que pode ajudar nas próximas eleições. Não há oposição de propostas, mas oposição de partidos. Azul e Vermelho. O que a democracia representativa brasileira vende, especialmente no sistema presidencialista, é uma sensação de democracia – que para mim não é suficiente.

Descontado os fatos de não votar, de discordar do sistema político vigente, de achar os dois candidatos do segundo turno (bem como os demais do primeiro turno) muito ruins e de não enxergar qualquer credibilidade de que os predienciáveis implementarão suas propostas, tenho uma ojeriza maior ao PSDB. Portanto, preferia que a Dilma fosse reeleita.

Torço, sinceramente, para aquele que for eleito faça um grande governo. Independente do resultado estarei fazendo oposição diária e acreditando que o povo merece ter o direito de escolher seus rumos por sua vontade política, não por representantes.

 

Rodrigo Cambiaghi | Aécio

aecio 3

Um exercício mental que fiz no primeiro turno:

“Se a Luciana Genro ou o Eduardo Jorge ganhassem as eleições. Será que eles conseguiriam implementar o plano de governo deles?”

E a resposta encontrei nesse texto aqui:

O interesse público só é representado na medida e ocasião em que ele não afeta o interesse das corporações: mais do que isso, não são pessoas poderosas que estão no comando verdadeiro dessas empresas, são algoritmos contratuais.
Eduardo Pinheiro – O governo como boneco de judas WTF #22

Votei no Haddad para prefeito de São Paulo em 2012 e votaria nele de novo em 2016, caso seja candidato. Meus votos para deputado estadual e federal esse ano foram para o PSOL. Acho mais provável que um vereador, deputado ou prefeito implemente mudanças sociais significativas do que um governador ou presidente.

Não votarei no Aécio Neves por que acredito que ele fará as tais grandes mudanças que promete ou por que eu odeio o PT. Mas por que creio que o plano de desenvolvimento econômico do governo dele é superior ao do PT.

Li o plano de governo da Dilma e me deparei com um documento que diz um bocado de feitos e números da gestão atual + gestão Lula, mas pouco aborda os planos para a próxima gestão da presidente de maneira concreta.

O plano de desenvolvimento econômico do PSDB, me pareceu bem conciso, direto e mais atraente que do nosso governo atual. Pontos que me chamaram atenção:

  • Desburocratização dos processos de importação e exportação;
  • Reforma tributária e tarifária;
  • Apoio à incubadoras e start-ups;
  • Incentivo à empresas com caráter de inovação.

Também achei legal ver o apoio de empreendedores brasileiros ao Aécio.

Dar mais poder e incentivar abertura de micro, pequenas e médias empresas, significa menos capital e poder na mão das multinacionais bilionárias que controlam a agenda política. Por isso, considero o plano de desenvolvimento econômico do Aécio um passo importantíssimo para redistribuir o capital e, por consequência, pulverizar o poder.

É como se a gente estivesse usando uma brecha do sistema para tentar modificá-lo.

 

Ismael dos Anjos | Dilma

dilma 2

Nasci em Minas Gerais e acho que o maior presente que recebi dos meus pais, até hoje, foi a possibilidade de conhecer o País. Quando ainda era criança, saíamos de Belo Horizonte rumo à Natal de carro, parando em alguns lugares e visitando parentes distribuídos ao longo dos dois mil quilômetros de distância que nos separavam da praia. Debruçado à beira da janela descobri, antes de sair do meu estado, que Minas são muitas. Imagine o Brasil.

Cresci na confortável posição de filho único da primeira geração de pessoas com ensino superior em minha família. Poderia me ancorar na meritocracia e dizer que se meus pais e avós suaram e sangraram para chegar a um novo patamar social, qualquer um pode conseguir. Mas aprendi o que eram pobreza, fome e desigualdade social em primeira mão e não pelos livros de história, e sei que não há mérito ou oportunidade que se crie sem uma base mínima de igualdade – comida na mesa, educação e saúde ao alcance da mão.

Com essa crença me norteando, valorizo demais notícias como a de que o Brasil saiu, pela primeira vez, do mapa da fome criado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação ou, ainda, a de que as crianças de até 5 anos atendidas pelo Bolsa Família cresceram quase um centímetro entre 2008 e 2012 por conta do combate à desnutrição. Imagino que a essa altura ninguém seria irresponsável de extinguir iniciativas como essa, mas sei também que quem fez o país chegar até esse momento merece mais meu voto do que quem preferiu, durante boa parte da última década, classificar uma questão de saúde pública como mero assistencialismo. Sei que eles estão absolutamente entrelaçados, mas número por número os já concretizados da não-fome me interessam mais do que os que acompanham as promessas de ambos os lados para a Economia.

Eu falo trem, mas não acredito que ter uma classe-locomotiva privilegiada acelerando o país para um possível desenvolvimento é solução para qualquer um dos valores que carrego. Sou contra a mercantilização da educação por meio dos vouchers e a favor das cotas para egressos de escolas públicas, da expansão do sistema federal de ensino, do ENEM, do ProUni, do PRONATEC e de iniciativas como o Ciência sem Fronteiras. Sou a favor de políticas de expansão da saúde pública por meio do fortalecimento do SUS – com médicos cubanos ou não.

Para além disso, acredito que as outras bandeiras que também defendo estarão mais próximas de serem atingidas durante um novo governo do PT. O aborto precisa ser descriminalizado e é uma questão de saúde pública. Acredito que a Constituinte Exclusiva para reforma política é um risco que vale à pena ser corrido. Sou a favor da criminalização da homofobia e acredito que o Estado precisa reconhecer quão múltiplas podem ser as famílias que, constitucionalmente, ele deve assegurar. A violência histórica contra as mulheres e a população negra precisa ser encarada como problema social que carece de reparação perene.

P.S.: Como jornalista e mineiro, não posso me eximir de ao menos um pequeno comentário direto sobre o candidato que escolhi não apoiar: existem, sim, casos comprovados e notórios de intimidação e perseguição de profissionais da imprensa por parte de Aécio, sua irmã Andréa e membros de sua equipe. É uma pena que notícias como a agressão do hoje candidato à presidência contra sua então namorada precisem ser publicadas por jornalistas de outras terras, mas ainda pior do que um político se sentir no direito de pedir a cabeça de um profissional é uma empresa jornalística aceitar, de forma subserviente, servi-la em uma bandeja.

***

Para seguir essa conversa e um diálogo real e produtivo, recomendamos as leituras dos seguintes textos:

 

 

Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."