Nota do editor: Os números entre parenteses indicam as referências bibliográficas situadas ao final do texto.

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Se você vai ser pai nos próximos meses, se prepara, porque vai precisar adquirir uma enorme quantidade de conhecimento sobre vacinação, epidemias e cuidados. Se você já é pai, provavelmente já conquistou um mundo de conhecimento, e está bem consciente que os aprendizados nunca param.

Mas vamos com calma, um passo de cada vez, e o passo de hoje é entender a importância da vacinação contra a coqueluche ainda na gestação.

Foto por Project Equality

Precisamos falar sobre vacinas!

Hoje em dia precisamos muito falar sobre a importância das vacinas, principalmente porque, aqui no Brasil, foram registrados aumentos de casos de algumas doenças, como sarampo (1) — que em 2016 foi considerado eliminado do Brasil — e a febre amarela — que registrou aumento de casos nos últimos anos (14).

Isso aconteceu por uma série de motivos, dentre eles, porque a quantidade de pessoas vacinadas, incluindo crianças, tem diminuído (2 ).

Proporção de municípios com coberturas vacinais adequadas por tipo de vacinas (Homogeneidade de coberturas vacinais), Brasil, 2011 a 2016.

Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI), “A queda da imunização no Brasil”, in Consensus. 2017. Disponível aqui. Acesso em: 03 jul 2019

Sobre isso, é preciso esclarecer que vacinar não é uma simples escolha individual. Quando alguém deixa de tomar vacina, ou de vacinar seus filhos, esta pessoa não está fazendo uma escolha que diz respeito apenas à saúde da sua própria família, ela está tomando uma decisão que afeta todos ao seu redor, afinal, a vacinação serve para criar uma barreira coletiva contra muitas doenças(2). 

 “Vacinar uma criança significa não apenas protegê-la, mas sustentar uma condição de saúde coletiva alcançada com muito trabalho e esforço”(2), como bem diz o Conselho Nacional de Secretários de Saúde.

Pai que cuida, cuida das vacinas!

Das conversas sobre paternidade que queremos levar aos homens, a vacinação é uma delas. Como homens, devemos aprender a ter responsabilidade e compartilhar os cuidados com os filhos do começo ao fim. E, se a paternidade começa antes mesmo do nascimento, os cuidados com a vacinação também.

Durante a gestação, as mães devem tomar a vacina contra a coqueluche porque, além de proteger a mãe, os anticorpos que ela produz serão passados para a criança através da placenta, o que pode ajudar na proteção dos bebês menores de 6 meses (5,8). 

E o que o pai tem a ver com isso?

Foto por Kei Scampa

Durante a gestação, as mulheres grávidas tendem a ficar especialmente sensíveis na hora de tomar decisões que dizem respeito à sua saúde e à saúde dos bebês. Como diz a  médica pediatra e gerente de vacinas da GSK, Dra. Bárbara Furtado, há um receio da parte de mães de que vacinas possam causar malformações, ou distúrbios na criança. 

Nesse momento, é importante que o pai esteja compartilhando com a companheira os cuidados com a gestação, que ele possa buscar informações confiáveis, conversar com sua parceira e dividir com ela a tomada de decisões. 

“O que a gente mais vê em relação à vacina, é o medo da mãe de tomar a vacina. É importante o pai procurar, pesquisar nos sites das sociedades médicas (como por exemplo o Vacinas para Grávidas), procurar orientações para passar segurança. E estar junto a ela na hora de tomar decisão, na hora de tomar a vacina e nas resoluções.”
– Dra. Bárbara Furtado

O que é a coqueluche? 

A coqueluche é uma doença causada pela bactéria Bordetella pertussis, que afeta o sistema respiratório(3). Bem, mas afinal, por que você teria de se preocupar com a coqueluche, em específico? 

A Dra. Bárbara nos explica que a bactéria se instala na nasofaringe — ou seja, na nossa árvore respiratória — e causa ali um processo inflamatório que vai gerar tosses, chiados e dificuldades para respirar.

Em adultos, a coqueluche pode ter sintomas mais leves, como os de um resfriado: tosse, inflamação nas vias respiratórias, etc. Nesses casos, a doença passa despercebida, mas o contágio continua. Geralmente, as pessoas não identificam a coqueluche até que apareçam os sintomas mais severos (4,9).

Quando a pessoa apresenta os sintomas mais graves, a coqueluche provoca ataques de tosses tão intensos que chegam a quebrar costelas, causar desmaios, incontinência urinária, dificuldade de alimentação, perda de peso, entre outros(4). 

E por que você, como pai, tem que se preocupar com isso? Porque em crianças pequenas os efeitos da coqueluche são mais violentos. Dos bebês que contraem coqueluche com menos de 2 meses, 90% tem de ser internado por conta de complicações(5). 

Os ataques de tosse, que duram até 30 segundos, podem deixar a criança sem ar, afinal, os bebês ainda estão com seus sistemas respiratórios em formação e não tem habilidade para segurar a respiração. A criança também pode ter dificuldade em se alimentar, já que a intensidade das tosses provoca vômitos e desconforto, explica a Dra. Bárbara.

Como se pega coqueluche?

A coqueluche, assim como outras doenças respiratórias, se espalha pelo ar, por gotículas que partem de tosses, espirros, ou da fala de pessoas infectadas(3). Ela é altamente contagiosa, tanto quanto o sarampo. Os bebês de até seis meses são os mais suscetíveis a doença porque ainda não completaram o esquema de vacinação DTP (Difteria, Tétano e Coqueluche)(3,6).

Foto por Kelly Sikkema

A Dra. Bárbara conta que, como pediatra, a parte mais difícil é explicar para a família que, muito provavelmente, a contaminação da criança partiu de um deles. Considerando bebês em fase de amamentação, estima-se que as mães são as responsáveis pela transmissão da coqueluche em, aproximadamente, 39% dos casos(7). 

Prevenindo a coqueluche

Bem, existem diversas medidas que se podem tomar para prevenir a coqueluche. Vamos a algumas delas:

1. Vacinando durante a gestação: 

Como os primeiros meses de idade são um período crítico para a criança contrair coqueluche(3,6), a pediatra explica que a melhor prevenção, nestes casos, é garantir a vacina da mãe durante a gestação — e você, pai, tem um papel importante nisso. 

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Segundo o Calendário de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), é recomendado que as gestantes, a partir da 20ª semana, tomem uma dose da vacina dTpa (contra difiteria, tétano e coqueluche). A gestante pode se vacinar tanto na rede pública quanto na rede particular. (6,10)

Como a Dra. Bárbara nos explicou, quando a mãe toma a vacina, ela começa a produzir anticorpos que serão passados para o bebê. Com os anticorpos “emprestados” da mãe, a criança fica protegida nos primeiros meses, enquanto ainda não completou sua vacinação.  

Ah, e preste atenção: é preciso tomar uma dose da vacina por gestação, afinal, só quando a mãe toma uma nova dose, que ela passa a ter o pico de produção de anticorpos para passar ao bebê. (6,8)

A vacina da coqueluche não afeta a formação da criança — esclarece a Dra. Bárbara — além disso, ela é uma vacina inativada, ou seja, nela não há nenhum organismo vivo, apenas pedaços destes, que servem para produção de anticorpos. Assim, pais e mães não precisam se preocupar com efeitos colaterais. O que pode acontecer são reações no local da vacina: inchaço, dor ou queimação na região da picada.(11,12)

2. Vacinação do Pai e da Família.

A coqueluche é muito fácil de ser transmitida e costuma vir de alguém da família, como a pediatra nos contou, mesmo que esta pessoa não saiba que esteja com a bactéria(9). Adultos que tomaram a vacina quando criança não estão imunizados porque a vacina tem duração de 10 anos.(13)

Por isso, se você é pai, você também pode tomar a vacina para reforçar a barreira de proteção do seu bebê, como aconselha a pediatra. Para os pais — e outros familiares — o problema é que a vacina não é disponibilizada pelo sistema público, apenas pela rede particular.(7,13)

3. Vacinação do bebê: 

Se a mãe tomou a vacina, explica a Dra. Bárbara, o bebê nasce com um proteção que pode durar de dois a cinco meses — é o tempo necessário para que a criança tome suas vacinas e possa fabricar seus próprios anticorpos.

A criança tem de tomar três doses (aos 2, 4 e 6 meses — e, depois, ainda é preciso dar duas doses de reforço: uma entre 15 e 18 meses e aos 4 anos. Estas doses são previstas e disponíveis no sistema público de saúde. (6,13)

Vacinação é cuidado, e cuidado é amor.

Como bem diz nosso parceiro Tiago Koch, fundador do Homem Paterno, se os homens se preparam para todas as coisas importantes da vida, também é preciso se preparar para a chegada do bebê.

A criação do vínculo com o bebê começa antes do nascimento e o cuidado é uma das formas essenciais de desenvolver este laço. Independente se há ou não relação amorosa entre o pai e mãe, ter responsabilidade sobre os cuidados durante a gestação deveria ser uma tarefa compartilhada entre ambos. 

Quando o pai está presente nas consultas pré-natais, se informando, acompanhando o que está acontecendo com a mãe e dividindo as decisões sobre a vacinação, ele está dividindo com a companheira parte da carga mental sobre a gestação, mas ele também está aprendendo sobre a complexidade de ser pai e, portanto, se preparando para os futuros desafios que a paternidade trará após o nascimento. 

Referências: 

1- BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Saúde atualiza casos de sarampo no Brasil. 2018. Disponível em <http://saude.gov.br/noticias/agencia-saude/44008-ministerio-da-saude-atualiza-casos-de-sarampo-no-brasil-08-2018>. Acesso em: 11 out 2019

2 – BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A queda da imunização no Brasil. 2017. Dispinível em < https://www.conass.org.br/consensus/queda-da-imunizacao-brasil/ > Acesso em: 11 out 2019.

3 – BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim epidemiológico, 2015. Disponível em:<http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2015/dezembro/08/2015-012—Coqueluche-08.12.15.pdf>. Acesso em: 11 out 2019

4 – DE SERRES, G. et al. Morbidity of pertussis in adolescents and adults. The Journal of Infectious Diseases, 182(1): 174-9, 2000.

5 – HONG, J. et al. Update on pertussis and pertussis immunization. Korean Journal of Pediatrics, 53(5): 629-633, 2010.

6 – BRASIL. Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação, 2019. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/jpg/2019/marco/22/Calendario-de-Vacinacao-2019-Atualizado-Site-22-03-19.jpg>. Acesso em: 03 jul 2019

7 – WILEY, K.E. et al.Sources of pertussis infection in young infants: A review of key evidence informing targeting of the cocooning strategy. Vaccine, 31: 618-625, 2013.

8 – GKENTZI, D. et al. Maternal vaccination against pertussis: a systematic review of the recent literature. Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed, 102:F456-F463, 2017

9 – CENTERS FOR DISEASE AND CONTROL. Pertussis (Whooping Cough) Questions and Answers. Disponível em: <http://www.immunize.org/catg.d/p4212.pdf>. Acesso em: 11 out. 2019

10 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de vacinação SBIm gestante: Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2019/2020. Atualizado em (28/04/2019).  Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-gestante.pdf>. Acesso em: 11 out. 2019

11-SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Vacinas. Disponível em: <https:// familia.sbim.org.br/vacinas>. Acesso em: 11 out. 2019

12-FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Programa Vacinal para Mulheres. São Paulo: FEBRASGO, 2017. 170p.

13 – SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de vacinação SBIm único do nascimento à terceira idade: Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2019/2020. Atualizado em 05/08/2019. Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-0-100.pdf>. Acesso em: 11 out. 2019.

14-BRASIL. Ministério da Saúde. Pesquisa realizada na base de dados DATASUS, utilizando os limites “REGIÃO DE NOTIFICAÇÃO” para Linha, “ANO 1º SINTOMA(S)” para Coluna, “CASOS CONFIRMADOS” para Conteúdo, “2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, 2016” para Períodos Disponíveis e “TODAS AS CATEGORIAS” para os demais itens. Base de dados disponível em:< <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinannet/cnv/febreamarelabr.def>. Acesso em: 03 out. 2019

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