Nasci e cresci em cidade grande. Não sou do sertão, não sou da terra, mas o pé sempre foi vermelho. E eu não estou falando apenas do gosto por andar descalço.

Acredito firmemente que no mundo existem dois tipos de pessoas: gente da cidade e gente do mato. Só que a divisão se estende para muito além do lugar em que cada um de nós vive. Ainda que você tenha passado a vida inteirinha entre prédios, o mato pode estar guardado lá no cantinho do seu peito, ansioso pela escapada no fim de semana.

Gente de mato tem outra relação com o tempo.

Não mata a fome, para pra comer. Não pergunta, proseia. Não corre errado, no desespero do chegar. Observa e age, pois sabe que tudo é um ciclo. O que se planta, cresce. O que frutifica também seca – ou morre. Acima de tudo isso, gente de mato sabe que, se essas descrições servem para os vegetais, também funcionam como metáforas para o homem.

Se você é de mato, aprecia entender como as coisas funcionam, em termos filosóficos e práticos. Vê sentido em enxergar a vida no seu entorno e fazer comunhão com ela enquanto tudo se transforma. Crê na importância do resgate à natureza, mesmo parado à frente de um computador ou rodeado por concreto.

Não é à toa que em um mundo cada vez mais urbano e frenético, as pessoas têm tirado mato de onde não tem. Manter uma jardineira com ervas como alecrim e tomilho em casa virou sonho de consumo. As ecovilas aparecem em cada pedaço de chão disponível. Composteiras domésticas ganham espaço e incentivo. Em cidades como São Paulo, hortas comunitárias brotam em praças públicas.

Em meio à natureza, a gente se conecta mais com nosso lado animal. Passamos a sentir a importância das fases da lua e das estações do ano. Acordamos sozinhos, antes do sol nascer.

Ao mesmo tempo, também é na natureza em que nos tornamos mais humanos.

Com uma galinha no quintal, as crianças passam a entender que os bichos que comemos não surgem da prateleira do supermercado. Com o “eu não tenho, mas fulano tem”, entendemos a importância de viver e fomentar uma comunidade. Cercados apenas pelo farfalhar do vento e o cantar dos passáros, ganhamos a chance de prestar menos atenção no som dos motores e gastar mais tempo com o nosso barulho interior.

A noção de processo

Enquanto boa parte dos coleguinhas de escola passavam os finais de semana nos clubes de Belo Horizonte ou no parquinho do prédio, os meus se dividiam entre a soleira da porta de minha avó e as ruas de terra e paralelepípedo ao redor da casa dela na periferia de Sete Lagoas. Volta e meia, ainda esticávamos para o lugar que chamávamos de “a roça”: Coqueiros, um distrito de um ex-distrito da cidade, à margem do Rio das Velhas e do ribeirão da Taboca.

Eu adorava calçar a botina e sair por ali, mas também volta e meia reclamava, criança de tudo, sobre estar em um lugar sem energia elétrica, sem televisão. Vinte anos mais tarde, só penso em quanto os dias que passava no povoado me ensinaram sobre o encadeamento natural das coisas.

A sombra que envolve a rede nos intervalos da lavoura é fruto de anos de água, adubo e paciência. O que descarga abaixo seria dejeto, ali é esterco. Roupa não fica velha, se passa pra frente. O pintinho que cresce no quintal? Está na engorda, assim como esteve a mãe que acabara de ir para a panela. O sol se pôs? Hora de dormir, para aguentar o tranco do amanhã.

Feita em um fogão de lenha, a comida ganha um ritmo próprio. Por que diabos a gente passou a entender que com uma papelada deveria ser diferente? Tudo tem seu tempo, inclusive o trabalho. Sem começo e sem meio, não há fim.

O controle é uma ilusão

Comecei a fazer natação com alguns meses de idade, pois meus pais morriam de medo que eu me afogasse (eles não sabiam nadar). Até por isso, não entendia por que meu velho me proibia de nadar livremente nos riachos. Só quando mergulhei em um e passei a frequentar cachoeiras é que entendi que nadar não se limita ao que se faz na piscina.

O mundo não vem com raias ou paredes azulejadas em volta. Quando você se joga em um lago ou rio, pouco sabe se o leito é fundo ou se uma pedra te espera logo abaixo. Você não vê onde a água começa, onde acaba e tampouco é capaz de calcular todas as possibilidades que a correnteza gelada esconde.

E quando não existe controle absoluto, tudo o que você pode fazer é se preparar.

Aquecer para evitar câimbras, aprender a boiar para descansar, entrar devagar e reconhecer o terreno para só depois pular de ponta.

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O outro não é inimigo

É fácil esquecer que existe uma pessoa por trás do vidro fumê em um congestionamento infernal. Agora experimente ignorar a existência do próximo quando o supermercado mais próximo fica a 50 quilômetros e o açúcar acabou. Sair da cidade de quando em quando não representa só a oportunidade de ter contato com bichos e barulhos não mecânicos. É uma baita chance de resignificar a relação que temos uns com os outros.

Há um motivo pelo qual nossos antepassados se uniram em tribos e comunidades: juntos, somos mais fortes. A individualidade é importante, mas reconhecer o outro também é.

É generoso ofertar o que se sabe ou o que se tem. Mas o mais importante em viver sob o princípio de oferecer apoio é que essa atitude abre, do mesmo modo, espaço para recebê-lo. Quando as relações de confiança mútua são construídas e se aprende que não há mal algum em contar com o outro, ninguém precisa ser super homem, super mulher ou ganhar rios de dinheiro para comprar o que der na telha.

Pegar as sementes de um vizinho ou pegar carona para dar um pulo “na cidade” são gestos simples, mas dizem muito sobre como podemos completar as características e necessidades de cada um. Se alguém da sua comunidade cultiva um pomar com afinco e tem frutas o ano inteiro, você pode se preocupar em criar seus porcos e fazer linguiças.

O silêncio, a contemplação e a essência

Em meio ao caos, entendo que meditar é uma excelente saída para conquistar um pouco de silêncio – ao menos por dentro. Mas para conquistar isso para além da meia hora antes de começar o dia, a natureza segue imbatível.

Observador e parte integrante do ambiente em constante transformação ao redor de si, o sertanejo compreende na alma as diferenças entre o que é necessário e o que é frugal. Não perde tempo alimentando ansiedades e, depois tentando acabar com fantasmas internos.

"Qual o sentido de eu ficar correndo atrás de coisas no momento em que eu descubro que tudo é o espelho de mim mesma?"

Márcia Baja. “O que aprendi com o silêncio”, publicado aqui no Papo de Homem

Há quem diga que quem mora na roça não faz nada. Há espaço para o ócio, é claro, mas não para a inércia: se um sitiante deixa de fazer o que precisa ser feito, as plantas não brotam, a comida não se põe à mesa e os bichos invadem.

Permitir-se parar para contemplar o nascer e o pôr do sol ou o pastar de uma vaca é bem diferente de ser preguiçoso. É estar conectado com as essências – a sua e as que movem o mundo.

Não é por acaso que uma das melhores definições sobre o que nos faz humanos vem da sabedoria de Riobaldo, de Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas. “A natureza da gente é muito segundas-e-sábados”.

Rumo ao mato

Eu já rodei muitos quilômetros por aí. E apesar de acreditar piamente que com esforço a gente entra em contato com a nossa natureza, a dos outros e recria a sensação de mato onde a gente estiver, decidi que minha próxima aventura será rumo à natureza de fato. Quero ter outra relação comigo e com o tempo.

Em breve, quero sair de São Paulo e oferecer a mim, à minha companheira e aos nossos filhos (o que ela já tem e os outros que virão) a oportunidade de nos conectarmos com o passo a passo das coisas e com os valores que constituem nossa humanidade. A ideia é criar uma base em um sítio e pegar estrada com a casa e família nas costas sempre que um projeto nos deixar com o coração cheio.

Divida sua opinião comigo nos comentários. Você também está em busca de viver em outro ritmo? Vê sentido em voltar (ou não sair) do interior? Se mora em cidade, tenta criar o mato seja qual for o ambiente a seu redor?

Mecenas: Land Rover

Não adianta. Mesmo para quem vive na metrópole, sempre há a necessidade de se reconectar a natureza. De um simples vasinho de plantas na sala àquela tão esperada viagem para o interior ou para a praia.

Reconecte-se a natureza, aventure-se, descubra e experimente novos sabores, paisagens, conheça novas culturas, amplie seus horizontes. E quando você precisar de um parceiro para explorar a natureza, seja na praia aqui do lado, ou naquela cachoeira que você sempre quis conhecer, pode contar com a gente.

Vantagens fora de série Land Rover. Toda linha Discovery Sport com taxa 0%.

Ismael dos Anjos

Ismael dos Anjos é mineiro, jornalista e fotógrafo. Acredita que uma boa história, não importa o formato escolhido, tem o poder de fomentar diálogos, humanizar, provocar empatia, educar, inspirar e fazer das pessoas protagonistas de suas próprias narrativas. Siga-o no <a>Instagram</a>."