Pronto para o passeio? A estrada é suave e a conversa vai ser boa.

Para dar a partida, temos todo um gênero no cinema dedicado a filmes que se passam nas estradas, com protagonistas em fuga ou em rumo de um destino especial. São road movies, e a lista desse gênero, além de enorme, inclui algumas das melhores obras da história do cinema.

Você provavelmente tem o seu road movie predileto, talvez até vários. A minha lista de prediletos inclui Coração SelvagemEasy Rider, Into the Wild, Sideways, Pequena Miss Sunshine, Mad Max 2, Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia, Bye Bye Brasil, Estrada para Perdição, Thelma e Louise e Terra de Ninguém, na ordem de preferência.

 

Into the Wild
Into the Wild

Mas vamos colocar o pé no freio e desacelerar, pois estamos passando por uma pergunta digna de atenção. Qual o motivo do sucesso dos road movies? Não se engane, observe bem pois essa não é uma pergunta retórica. Da sua resposta podemos tirar uma lição para a sua vida.

Em primeiro lugar, em um road movie, o que menos interessa é o motivo da viagem. O que importa é a jornada em si, pois no seu transcorrer ninguém fica incólume.

Segredos são revelados, fragilidades são expostas, potencialidades são despertadas e desafios operam um amadurecimento acelerado nas relações e nos indivíduos. Novos amigos surgem e novos cenários se descortinam a cada manhã. Todos os que participam da viagem saem dela, de alguma forma, transformados.

Fazendo uma curva nesse papo, a gente vê que também há livros que são road books. Uma geração inteira, a beatnick, foi definida pela obra On The Road, de Jack Kerouak, que acabou virando filme. E compreendemos a razão de Kerouak ter tamanha influência ao ouvirmos um comovente trecho de uma carta que ele escreveu a sua ex-esposa, em um video que fala justamente de viajar:

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Mas não percamos o rumo. O fato é que parece não haver filme ou livro que conte uma história de transformação pessoal e cuja trama ocorra dentro de casa, sem o protagonista escapar das paredes que servem de moldura para suas certezas, dos cômodos que consomem seu desejo de viver realmente.

É como se os autores e diretores dissessem: “para ir de encontro ao seu destino, você não deve ficar aqui, neste espaço que chama de lar, pois aquele em quem você deve se transformar está lá fora, esperando que você o encontre para viverem uma vida plena, para chamar de lar o mundo inteiro”.

Estamos chegando perto de uma conclusão. Vamos acelerar até lá pois essa conclusão é justamente isso, sobre aceleração.

Longas viagens aceleram nossa evolução pois nos colocam em um contexto em que somos obrigados a diariamente a desbravar lugares desconhecidos, travar relações com estranhos e enfrentar desafios dos quais as paredes de nossa casa nos protegem indevidamente. Precisamos nos adaptar, permitir que cada experiência nos transforme um pouco, para seguirmos viagem.

 

Easy Rider
Easy Rider

Isso tem a ver com a memória inscrita nos nossos genes. Nossos antepassados eram nômades, e viajar por semanas, até meses, resgata em nós um chamado ancestral. Paradoxalmente, para alcançar o cume mais elevado de nossa evolução, precisamos sair de casa como os primeiros humanos.

Grandes e demoradas viagens, portanto, aceleram o desenvolvimento, turbinam nosso amadurecimento emocional. Ficar em casa, por outro lado, é quase a garantia de que permaneceremos os mesmos, de que nosso crescimento tardará ou sequer chegará algum dia. A casa, de certa forma, lembra sempre uma espécie de útero feito de tijolos e cimento, lembra uma bolha que nos isola das lições que precisamos aprender se quisermos nos desenvolver e fortalecer.

Devemos, então, fazer de nossa vida um road movie, e cantar como Edie Veder canta em “Far Behind”, música da trilha sonora de Into The Wild: “minha sombra corre comigo sob o grande sol branco, minha sombra vem comigo quando deixamos tudo para trás; na riqueza dos bolsos vazios o amor vai criar a sensação de fortuna.”

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Mas calma, não é aqui onde quero chegar, nosso destino está um pouco mais adiante. Vamos descer e andar a pé, pois o que importa não é a distância que se mede em quilômetros, e sim por passos. Precisamos colocar os pés no chão.

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Sejamos humildes e realistas: quantos de nós podem ficar a vida inteira viajando? É sem dúvida muito empolgante imaginar uma história pessoal de eterna aventura por estradas ao redor do mundo. Mas e se temos um emprego, família e toda uma vida construída em nossa cidade? E se aqueles que amamos e talvez dependam de nós precisam ficar? Não seria uma aspiração juvenil, irreal, abandonar tudo e se jogar na estrada feito personagens ficcionais do cinema?

Mas o detalhe é que o poder de crescimento pessoal que os road movies retratam não vem exatamente da jornada, mas da abertura para o novo que o ato de sair de casa nos impõe. Eu mesmo conheci pessoas que deram a volta o mundo por um ano e retornaram tão superficiais quanto antes. Elas não estavam realmente atentas e dispostas a se deixar tocar pelas experiências diárias de sua viagem.

Elas levaram a sua casa consigo, por assim dizer.

 

On the Road
On the Road

Criar as oportunidades para o nosso crescimento, fugir do pântano que afunda nossos sonhos de viver plenamente e evoluir são coisas que podemos realizar todos os dias de nossas vidas, sem planejar grandes viagens. Mesmo nos limites do seu bairro, da sua cidade, você pode viver como um road movie.

Basta não ficar em casa, basta aceitar todos os convites, todas as oportunidades e até mesmo uma simples desculpa para, sempre que puder, ir lá fora. É só perder o detestável hábito de voltar para casa após o trabalho, como se nosso dia inteiro tivesse sido um espécie de pecado do qual temos que nos purificar pagando penitência ali, sentados no sofá diante de uma televisão, assistindo sempre os mesmos programas, ou na internet, curtindo e compartilhando memes nas redes sociais.

É só abandonar o costume de nos fins de semana fazer exatamente a mesma coisa, ir aos mesmos lugares – o que não deixa de ser uma maneira de se manter “em casa”, ainda que fisicamente longe. Conheça as cidades vizinhas, caminhe por ruas do seu bairro que não estão no seu itinerário diário. Mesmo ao ir na padaria trace trajetos diferentes.

Pronto, pode parar de caminhar. Chegamos ao nosso objetivo, ao lugar que eu queria te mostrar. Está vendo? Percebe toda essa beleza? Olhe ao seu redor. O mundo aqui fora é uma grande estrada que percorre seu destino. Todos aqueles que você conhecer e os lugares que visitar estão nas margens dessa imensa via. Aqueles que ama são seus companheiros de viagem.

Sua casa é apenas o ponto de partida, e permanecer dentro dela é como tornar o cenário dessa viagem monotonamente idêntico durante todo o percurso. Uma calçada, uma praça, uma festa, a conversa em um bar: são as paisagens como essa que tornam sua jornada especial.

Como Eddie Veder pergunta naquela música, podemos perguntar: por que ficar parado, por que se conter como um livro na estante?

 

Mecenas: Timberland #AVidaTaAquiFora

Assim como o Victor Lisboa, a Timberland acredita que o melhor da vida está aqui fora. Quantos amores não deixamos de viver, amigos que deixamos de fazer, festas que perdemos, só porque optamos por ficar em casa e não ir pra rua?

Descubra seu bairro. Caminhe sem rumo. Encontre novos amores. Permita-se viver intensamente cada momento desconhecido, como se não houvesse amanhã. E ao voltar para casa, se surpreenderá com tudo o que ‘a vida aqui fora’ te proporcionou.

Conheça a Vitrine Interativa nas lojas físicas e na loja virtual da Timberland.

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Victor Lisboa

Não escrevo por achar que tenho talento, sequer para dizer algo importante, e sim por autocomplacência e descaramento: de todos os vícios e extravagâncias tolerados socialmente, escrever é o mais inofensivo. Logo, deixe-me abusar, aqui e como editor no site <a>Ano Zero</a>."