Em novembro de 2010, embarquei rumo a Manaus para participar do TEDx Amazônia, cujo tema foi qualidade de vida para todas as espécies do planeta.
Entre os palestrantes estavam um construtor de oásis, um ativista do meio ambiente que seria assassinado brutalmente meses depois, um pesquisador florestal, um investigador forense, o Lama Padma Samten, um capturador de sons, um viajante falando sobre merda, um designer inventor, um surfista em busca de recorde impensáveis e até mesmo um palhaço. Não me lembro de todos, apenas da sensação de muito a se fazer no mundo e mais pessoas incríveis soltas por aí do que se imagina. Foram dois dias fervilhantes, sobrecarga sem igual de novas ideias.
Ao fim, a maior parte dos 400 participantes voltou pra casa. Eu e Felipe ficamos, nosso destino era outro. Junto a outros poucos, formamos um grupo que, liderado pela Aoka, viajaria quatro dias Rio Negro adentro.
Narro aqui os principais trechos da expedição. Antes de começar, dê o play abaixo.
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Nossa embarcação e casa, o Jessé Silva I.
Ali descobrimos o prazer de dormir em redes, embalados pelos sons da floresta e do rio. Na primeira noite, os borrachudos se apresentaram. O incauto que vos fala foi brindado com 70 picadas (contei cada uma) ao puxar uma soneca à tarde, acordando somente em plena madrugada. Dormir somente com repelente até as narinas e/ou mosquiteiro.
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A primeira caminhada. Duas horas em calor sufocante, em busca da fauna e flora locais. Parecia duro, mas foi apenas uma maneira de nos preparar para os próximos dias.
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Visita a uma das inúmeras vilas ribeirinhas. População sobrevive com parco comércio e agricultura de subsistência, basicamente. Pouco depois da foto desabou uma belíssima tempestade.
À noite saímos na voadeira em busca de jacarés do papo amarelo. Conseguimos avistar três deles após quase duas horas. O capitão insano pulou na água e tentou pegar um filhote com as mãos. É uma prática considerada não-suicida de lazer por lá.
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Ao longo do Rio Negro, há pequenos paraísos particulares. Nessa praia encontramos uma cobra, uma arraia de água doce morta e aproveitamos para pegar a voadeira e sair para pescar piranhas enquanto escutávamos boas histórias do capitão do barco.
À noite, improvisamos um lual na beira da praia com direito a música ao vivo, drinks e uma peixada salivante – não, não comemos as piranhas.
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– Pular para um mergulho aqui é perigoso? (estávamos na parte mais funda do rio)
– Não muito. Tem umas piranhas, arraias, jacaré e baiacus, mais ou menos como em qualquer outro lugar do rio…
Após o salto, passamos por uma pequena ilha e escutamos um barulho de máquina. Chegamos mais perto, eram motosserras. Ali não pegava celular para denunciarmos. E se a denúncia fosse feita, seria quase impossível explicar a ilha exata onde o desmatamento estava sendo feito. Alguém sugeriu empurrar as canoas dos criminosos no rio, já que eles estavam no meio da mata. Era uma possibilidade, mas com o risco de sermos recebidos por balas.
No final das contas, voltamos para nossa embarcação nos sentindo impotentes e frustrados com a realidade.
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Esse foi o dia mais harcore, disparado. Caminhada na selva durante toda a tarde e início da noite. Calor infernal, usando botas e calça pra nos proteger dos insetos, aranhas e cobras. O destino era uma cachoeira deliciosa, ao menos isso.
Ao final do dia, montamos acampamento pra passar a noite na mata. As picadas dos borrachudos estavam inflamadas a essa altura e como eu estava completamente suado, a ânsia de me coçar era terrível. Para amenizar a situação, nosso guia preparou frango e peixe assado, em uma grelha feita na hora com galhos e folhas de bananeira.
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No último braço da aventura, escalamos uma árvore de 35 metros. Pelas fotos não parece tanto, mas o cagaço ao chegar lá no alto é impressionante. Mal conseguir sacar minha câmera do bolso.
Exaustos após o feito anterior, visitamos uma tribo indígena reclusa. Realizaram para nós duas danças rituais hipnotizantes – uma para invocar a fertilidade e outra usada em preparação a batalhas.
Na última noite, uma tempestade de relâmpagos e chuva leve tomou conta da noite. Em meio ao breu absoluto, cada novo e silencioso relâmpago nos permitia vislumbrar o rio e a mata. Nenhum trovão, apenas luz, chuva e o silêncio. Fui dormir às 3am somente. Espetáculo inesquecível.
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O retorno a Manaus foi silencioso, não teria como passar por cada detalhe da viagem sem escrever um livro. A combinação das palestras do TEDx com a experiência visceral dentro da mata foi única. Até hoje uma das jornadas mais intensas de toda minha vida. A expedição ao Rio Negro é uma recomendação a qualquer pessoa interessada em conhecer mais sobre si mesmo, a selva e o quão vasto é nosso mundo. Por fim, deixo grande abraço ao time da Aoka, que estruturam todo o roteiro com enorme zelo.
E vocês, quais jornadas e aventuras têm feito?
Mecenas: Hotmail
O blogueiro Nick Ellis do Digital Drops foi convidado a testar o Hotmail e encarou um desafio: colocar o Rio Amazonas inteiro dentro do SkyDrive, que está com cada vez mais espaço. Como você pode ver no vídeo, ele foi bem equipado.
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