Sempre passo pela Marginal Pinheiros e vejo as agências de publicidade abarrotadas de gente até as duas, três horas da madrugada, produzindo conteúdo inteligente para vender mais pasta de dente, mais carro, mais roupa. Vez ou outra aparece mais uma propaganda engraçadinha, mais um vídeo bonitinho, mais um bebê fofo vestido de panda. O bebê faz alguma graça, arranca sorrisos e nos afeiçoa a marca que o patrocinou.
Depois, num dia de vazio, buscamos propósito, nos cadastramos em algum trabalho voluntário, visitamos uma ONG, frequentamos algum centro budista e compramos alface orgânica. Programadores, publicitários, matemáticos, gastando a vida em pról de uma causa que não brilha os olhos, para depois, pós expediente, buscar fôlego e espaço para tocar os projetos que realmente acreditam.
Link YouTube | Ouçam, por um minuto, o que esse cara tem a dizer
Acho fantástico quando alguém nos contraria e faz com que percebamos que dá para falar mais alto, dá para fazer outra coisa, mesmo que meia hora depois voltemos a nossa vida corporativa. Já vale a pena. Em resposta à um possível bombardeio entre Israel e Irã, um pai de família israelita de 41 anos lançou alguns posts em sua página no Facebook. A mensagem era simples e direta:
“Iranianos, nós nunca vamos bombardear seu país. Nós te amamos”
É tão crua que desarma, pega na veia, mesmo indo contra as manifestações de ódio proferidas pelos governantes e viralizadas pela imprensa nos últimos dias. Os posts foram compartilhados em todos os cantos do mundo.
Partiu de um designer, com um laptop e uma conta em uma rede social. Sem grandes estruturas. Uma tristeza não conseguirmos empurrar as grandes companhias numa direção que preencha os dias vazios citados acima. Ao invés de servir como catalisador, muitas corporações engessam. Camada em cima de camada, tudo fica cada vez mais artificial.
Falta visceralidade, olho no olho.
Falta ser de povo pra povo.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.