Para comemorar o Dia dos Pais, resolvemos inverter o foco: em vez de presentear os pais, perguntamos como eles poderiam presentear seus filhos (reais ou hipotéticos).
A pergunta foi “Qual conselho essencial você daria para seu filho?”. Quase todos da Equipe Papo de Homem escreveram seus conselhos, além de diversos colaboradores e amigos.
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Verbetes no dicionário e três discografias
“1. Quando precisar consultar um dicionário, leia sempre duas, três, quatro palavras acima e abaixo daquela que o levou até o “amigo-dos-inteligentes”. Afinal, vasculhar 5, 6 mil páginas atrás de um único verbete é sacanagem e conhecimento nunca é demais. Nem conhecimento, muito menos vocabulário. Essa manha de encher a cabeça de palavrinhas vai lhe garantir mais armas para aquela redação sobre as férias, para o xaveco na guria da lanchonete e pra impressionar na entrevista de emprego.
2. Compre (ou baixe) assim que possível as discografias dos seguintes artistas: The Beatles, Radiohead e Chico Buarque. O que essas três entidades já falaram vão lhe ajudar a dizer as coisas que você quer e que nem todas as palavras que conheceu seguindo a dica anterior permitiriam.”
–Pedro Jansen, 25, escreve no blog A funky experience e aqui no PdH.
O que precisa ser feito
“Durante anos eu disse a meus filhos que escolhessem uma profissão da qual gostassem, à qual pudessem se dedicar com alegria, que o sucesso financeiro, e de reconhecimento, viria como decorrência. Continuo achando que é um bom conselho, mas eu o mudei um pouco, acrescentando: (1) mesmo nos trabalhos que gostamos há partes e momentos que não gostamos, e aprendi a extrair alegria de fazer bem feito o que precisa ser feito; (2) é bom manter uma visão mais ampla, perguntando se estamos oferecendo algo valioso, ao invés de focar apenas em nossos interesses. As pessoas percebem nossa intenção, e de certa forma cuidam também de nós.”
–Carlos Ernesto de Oliveira, 61, administrador e professor, tem filhos com mais de 20 anos.
A grande escolha
“Guri, vai chegar uma hora em que tu terá de fazer uma escolha importantíssima na tua vida. É algo fundamental que vai te seguir pelo resto da tua vida, nos momentos de tristeza e euforia, bebedeira e ressaca.
Esta escolha, que deverá ser feita exatamente como eu te digo sob risco de surra de relho ou de prancha, diz respeito ao assunto mais importante e vital de um jaguara de respeito. Grêmio ou Inter. Democraticamente, escolhe o primeiro.”
–Daniel Bender escreve em seu blog pessoal e já enviou suas pérolas para o PdH.
Espectador da vida?
“Viva. Aproveite a vida em toda a sua plenitude. Não estou falando de atitudes inconsequentes, pelo contrário: seja responsável pelo seus atos. Curta, aprecie e divirta-se com o mundo que o cerca. Ele está lá fora cheio de oportunidades esperando por você. Trancado em casa vivendo o esquema “escola-cinema-clube-televisão” os anos irão passar até que você se dê conta que a vida acabou e você a viu passar como o espectador de um filme, ao invés do personagem principal que deve ser, afinal estamos falando da sua própria vida!
Não tenha medo de arriscar e às vezes quebrar a cara e sofrer, pois esse é um belo método de aprendizado e está incluído no pacote da vida.
Tenha juízo e vá pela sobra.”
–André Silveira, 23, consultor, tem um filho de 2 anos.
Violão, capoeira, surfe e dança de salão
“Aprenda desde cedo violão, canto, capoeira, surfe e dança de salão. Quando ficar velho não vai ter tempo nem motivação pra isso.
Ah, e se dedique aos estudos para passar por média até o ensino médio e para ter sucesso profissional, independente da faculdade.”
–Bruno Melo escreve o Verdade absoluta e colabora aqui no PdH.
O mantra
“Seja leal aos seus amigos e aos seus princípios. Frasezinha curta, mas vou seguindo esse mantra que meu pai me criou.
Sou muito grato por ele sempre ter insistido que um dia a vida me pressionaria para seguir os mesmos caminhos que os outros, tomar atitudes esperando aprovação dos outros, ser como os outros… Meu pai sempre falava no determinismo em relação a quando o ambiente influencia você.
A gente vai morrer. Isso é fato. No final não vai adiantar se arrepender de ter feito algo errado alegando que naquele momento era necessário ou conveniente. O que aprendi com o meu pai é, não importa quaisquer que sejam as consequências, mesmo que sejam graves ou desastrosas para sua vida, siga seus princípios e faça o que é certo.
Eu levo isso a sério até hoje. Sou um pé no saco às vezes, mas vou contra o melhor dos amigos ou até a minha família pelo que eu acho que é certo.”
–Rodrigo Almeida, engenheiro, sempre publica artigos excelentes no PdH.
Ciência
“1. Leia muito e aprenda a escrever decentemente, isso pode lhe fazer muita falta.
2. Entenda ciência, pelo menos o suficiente para não acreditar em tudo que lê.
3. Assista à série Cosmos, de Carl Sagan.”
–Atila Iamarino, biólogo, escreve no blog Rainha Vermelha e faz ciência aqui no PdH.
Movimento, arte e serenidade
“O mestre Liu Pai Lin dizia para seus alunos: se quiser ter saúde e longevidade, tenha pelo menos uma prática diária de movimento, e outra de serenidade. Em outras palavras, pratique tai chi chuan e meditação. Acho um ótimo conselho. Cuide do corpo e da alma, também diziam os gregos. O mesmo princípio está presente em muitas tradições orientais. Parece mais um chavão, mas esta sabedoria antiga não chegou até nós por acaso e merece ser transmitida para as novas gerações. Para os nossos filhos. Para o meu filho.
Tenha uma prática diária de movimento e outra de serenidade. Encontre uma prática física que você goste, que dê prazer e melhore a sua saúde. Aprenda uma forma de meditação e pratique regularmente. Com o corpo e a mente em ordem, nosso bem-estar aumenta e ficamos mais felizes. É uma orientação muito sintética, não conheço uma forma de obter retorno maior com menor investimento.
Na minha rotina pessoal, resolvi incluir um terceiro elemento, o cultivo da criatividade. A arte movimenta nossa energia e nossa vida fica mais colorida. Por isso, guarde um tempinho para cultivar a criatividade. Pode ser tocando violão ou outro instrumento musical, escrevendo, desenhando, pintando, ou dançando, o que também é uma prática de movimento. Mais uma vez, escolha o que mais te agradar. A prática física dá ao corpo alegria, a arte reabastece a nossa mente e o nosso coração. Então, parafraseando o mestre taoísta, eu diria para meu filho: se quiser ser feliz, cultive diariamente o movimento, a arte e a serenidade.”
–Guto Guimaraens, 35, advogado, tem um filho de 2 anos.
A tradição
“Eu não tenho pai, porém uma coisa que eu sempre senti falta foi aquela tradição do pai levar o filho no puteiro pra perder a virgindade! Nunca tive isso! É isso o que eu faria com ele e também o que eu aconselharia a fazer com meus netos.”
–Fabio Luiz Rodrigues (“Morróida”), 27, escreve em seu blog pessoal e aqui no PdH.
Estudar, saber, casar
“Filho, nunca, sob hipótese nenhuma, seja mercantilista com seus estudos. Muita gente acredita que escolas servem para fazer pessoas passarem no vestibular, que essas pessoas vão passar e depois estudar em boas universidades. Consequentemente, elas terão bons empregos. Para estas pessoas, esta é a fórmula da vida. Tem gente que pensa que só assim é o jeito certo de viver. Não, não é. Quer dizer, para alguns é. Mas não precisa ser pra você.
Não estude para passar na prova, não estude para entrar na faculdade. Estude para saber. Saber é que é importante. Passar numa prova, entrar na faculdade, isso é consequência direta do saber. Aquele que sabe e aquele que decora, ambos passam nas provas. Mas quem decora esquece. Quem sabe sabe.
Não decore, entenda. Aprenda de uma vez que ninguém nunca vai lhe ensinar nada. É você que vai aprender. Se você não quiser, nada poderá fazê-lo entender.
Leia muito, e não só coisas que parecem ter utilidade. Leia tudo que puder, sobretudo as coisas que podem parecer inúteis, pois muitas delas, você verá, mostrarão sua utilidade no futuro.
Não faça a faculdade da moda, nem o curso que promete melhores salários. Faça o que você gosta e faça bem. E não gaste tudo que ganhar. Aprenda a poupar. Invista em seus amigos. Dedique-se.
E o mais importante de tudo: na hora de escolher a mulher para casar, escolha a mais inteligente.”
–Philipe Kling, autor do Mundo Gump e colaborador aqui no PdH.
Entre comprar e plantar
“Não compre, plante! Pelo menos foi isso que meu pai me disse quando eu entrei na adolescência.”
–Ivo Neuman, 25, é editor do Treta.
Esportes e empreendedorismo
“Pratique esporte desde cedo, pegue gosto pela coisa, descubra alguma atividade física que você curte. Seu corpo colherá frutos no futuro.
Coloque suas ideias em prática e acredite em você. Faça. A mentalidade empreendedora é algo que me fez muita falta, já que meus pais me criaram para ser um empregado dos outros. Só agora estou descobrindo a paixão pelo empreendedorismo.”
–Mauricio Garcia é o nosso Dr. Health, mas escreve sobre tudo aqui no PdH.
O colchão de segurança
“Quando era pequeno lembro de ouvir meu pai falar: “Quem tem um colchão de segurança nunca passa trabalho, nem perde boas oportunidades”. Mais do que falar, eu via o exemplo dele em manter uma reserva e não precisar se desesperar no caso de uma doença, ou ao aproveitar um negócio de ocasião que precisasse ser fechado naquele minuto. Qual não foi minha surpresa, vários anos depois, de lembrar desta frase quando pude aproveitar uma excelente oportunidade de lucrar rapidamente.
Estava em casa quando toca o telefone. Era um amigo que descobriu um notebook top de linha, naquela época em que notebooks eram caríssimos e raros de encontrar, sendo vendido por apenas US$ 2000 (sim, naquela época os preços de notebooks eram sempre em dólares). Ganhava o equivalente a pouco mais de US$ 150 naquele tempo, para dar uma idéia da grandeza do número, mas tinha o valor necessário guardado. Já meu amigo, louco para comprar tal máquina, ganhava quase os US$ 2000 mensalmente, mas não tinha dinheiro para comprar, além de dever para o banco, no cheque especial. Resultado: comprei o notebook por US$ 2000, vendi em menos de uma semana por US$ 4000 e até hoje o comprador, quando me encontra, lembra da barbada que consegui para ele, um notebook de US$ 10000 por apenas US$ 4000.
Para explicar como isso foi possível, já que sempre há os céticos de plantão, vamos ao outro lado da história. O vendedor do notebook viajava anualmente para os EUA e a cada ano vendia aqui o notebook que havia comprado no ano anterior pelo valor que custaria o modelo novo que compraria ao chegar. Fazia uma boa ação e mantinha sua máquina de trabalho atualizada. O restante da diferença dos valores fica por conta da política burra de reserva de mercado vigente na época.”
–Fabricio Stefani Peruzzo é o nosso Dr. Money.
Frio na barriga
“Aventure-se quando sentir aquele friozinho na barriga para um dia não se arrepender de algo que não fez.
E nunca seja escroto ao dar um fora em uma mulher, mesmo que ela não esteja na melhor fase. Dez anos depois ela aparece gostosíssima só pra se vingar (isso aconteceu comigo).”
–Gus Fune é gerente de operações do PdH.
Um esporte e um instrumento
“Escolha um esporte, escolha um instrumento. Não tenha medo de errar nem de se arriscar. E valorize as amizades que forem recíprocas.”
–Lucas Cerroescreve no PdH.
Uma história boa de contar
“O conselho que eu daria pro meu filho é que não importa se a maioria das pessoas só repara onde você está na vida, e não como você chegou lá. Mesmo assim, faça do caminho, da escalada, uma puta história pra contar, feita de honestidade e respeito. Pode ser que para as pessoas isso não importe, mas no fim o seu caráter agradece.”
–Breno Spadotto, estudante, é um dos colaboradores do PdH.
Controle zero e capacidade crítica
“Apesar de já ser pai, minha filha ainda não completou seu primeiro ano. Razão pela qual conselhos ainda não são em grande quantidade. Mas tenho um discurso que pretendo utilizar com ela no decorrer de sua vida.
Quanto maior é a capacidade de comunicação que a humanidade desenvolve, maior é a quantidade de informação que chegará aos nossos filhos sem o nosso conhecimento. Ou seja, controle zero. Eu não terei controle sobre aonde minha filha acessará a internet, que conteúdo ela acessará, com quem o fará e assim por diante — e isso desconsiderando outras mídias.
Se antes os pais tinham um maior controle sobre as informações e conceitos que chegavam a seus filhos — e em um segundo momento transferiam esta responsabilidade para uma escola em que confiassem — hoje uma criança recebe muito mais informação através da web do que na escola e sua rede social com seis anos de idade é muito maior do que a da minha geração — vale a pena assistir ao filme Pro dia nascer feliz, de João Jardim (2006).
Dentro deste contexto, acho importante que minha filha tenha capacidade crítica diante dos muitos conteúdos e conceitos que lhe chegarão. Se me limito a dar a receita pronta não serei abrangente. Assim, meu conselho é para que ela seja capaz de ter um bom entendimento sobre seus limites e os riscos a eles relacionados. Talvez, sendo capaz de fazer esta análise, ela poderá enfrentar, da sua forma, os acontecimentos da vida.”
–Renato de Almeida Prado, 32, arquiteto, pai há quase um ano.
Amigos e pessoas ao redor
“Filho, pense no seguinte: o que acontece se numa festa você encontrar o seu maior inimigo, aquele moleque chato que te aborrece na escola… e ele te oferecer drogas? Provavelmente você vai rejeitar.
E se ao invés dele, quem te oferecer o entorpecente for o seu melhor amigão, aquele com quem você divide todos os momentos? E se quem está oferecendo for a menina por quem você está apaixonado? Vai ser tão fácil dizer não? A mensagem simples que lhe ofereço para reflexão é: selecione bem aqueles que te cercam. Isso fará uma grande diferença por toda sua vida.”
–Victor Lee é autor do From Victor with love e também publica seus insights aqui no PdH.
Dois esportes
“Pratique dois esportes na vida: surf e jiu-jitsu. Com eles aprenderá muitas coisas.
Busque aprender tudo que for possível enquanto criança – nessa fase é muito mais fácil e divertido.
Saiba conquistar as garotas. Mesmo que não namore com elas, pelo menos durante a fase de colégio terá sempre com quem pegar as matérias que perder por causa do surf ou dos campeonatos de jiu-jitsu.”
–Pablo Fernandes, 21, estudante ainda sem filhos, escreve direto aqui no PdH.
E você? O que já disse ou diria ao seu filho?
Queremos conhecer os leitores que já trocaram fraldas e direcionaram a vida de alguém. E também o que tem a dizer os futuros pais. Vale tudo, desde conselhos “Paulo Coelho” sobre a vida até aquele jeito de fazer a barba que você demorou anos para descobrir.
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