A The School Of Life é um daqueles lugares que a gente gostaria de ter conhecido antes. Eles oferecem ideias, sugestões, desafios e questionamentos para vivermos uma vida melhor.
Admiramos bastante o trabalho deles e ficamos bastante lisonjeados quando, por ocasião do curso Intensivo que eles estão oferecendo em São Paulo, entre os dias 23 a 27 de janeiro, pudemos falar com alguns dos professores da Escola.
Formulamos quatro perguntas específicas para cada um deles e também mais quatro para todos responderem. Vamos soltando durante a semana, para quem quiser acompanhar.
Hoje, vamos começar com David Baker, um dos professores mais Seniors da The School of Life. Ele é Jornalista e escritor distinto, coach e consultor, baseado em Londres. Ele foi um dos fundadores e editores da Wired e escreve regularmente para algumas das mais reconhecidas publicações do mundo como: Financial Times, The Guardian, Wallpaper, The Independent, Wired, The Face, entre outros.
1. O mote da TSOL é “Good ideas for everyday life” (Boas ideias para a vida cotidiana, em tradução livre). Boas ideias, das quais já estamos cheios, são suficientes para realmente transformarmos nossa vida?
Há boas ideias e boas ideias. Na The School Of Life, nós tentamos manter as coisas práticas. Isso não significa que não possamos sonhar – longe disso: algumas das melhores ideias da vida vêm de imaginar onde nós queremos estar, quanto queremos viver e então lidr com os passos que precisamos dar para chegar lá em um determinado tempo. De fato, se há uma coisa que conecta todos os programas da escola é essa ideia: a de que podemos viver uma vida que é mais autêntica pra nós e que podemos chegar lá aprendendo como assumir menores riscos que nos custem quase nada se derem errado, mas nos entreguem grandes recompensas se eles nos levarem na direção certa.
2. Acreditamos que um dos grandes males atuais do mundo é o excesso de informação. E o volume produzido cresce assustadoramente. Diante disso, como desenvolver critérios efetivos para não perdermos tempo de vida e navegar melhor em meio a montanhas de conteúdo e distração?
É tentados querer saber toda a informação do mundo por que agora ela está lá, acessível aos nossos dedos. E a internet está crescendo em uma velocidade impressionante agora. No final do ano passado, o Google indexou cerca de 200TB de dados na internet, mas isso é provavelmente apenas 0.004% da informação que está por aí. Nós subimos cerca de 16 anos de vídeo para a internet todos os dias, por exemplo. Obviamente, ninguém pode se manter atualizado com tudo isso, mas muitas pessoas tentam, insistentemente checando Twitter, Facebook, Snapchat e Instagram, procurando por mais e mais informação. A questão não é se conseguimos ou não, mas se realmente queremos isso. Ao invés de ter a internet empurrando para nós informação 24 horas por dia, que tal retomar o controle e apenas buscar a informação que queremos quando realmente precisamos? Eu tentei usar o Facebook por um certo tempo e para ser honesto, eu fiquei um tanto intimidado por toda essa informação chegando até mim, então eu saí de novo e não senti muito a perda. Ao invés disso, quando eu quero saber do que está acontecendo no mundo, eu checo as notícias e quando eu quero saber o que está acontecendo com meus amigos, eu ligo e marco de sairmos para beber algo.
3. Quais os seus critérios práticos e pessoais para definir onde deposita seu tempo e atenção atualmente?
Eu gosto de ter tempo de lazer e tempo para pensar. Isso pra mim, à parte de passar tempo com amigos, é o uso mais importante do meu tempo. Como o neurocientista David Eagleman já mostrou, o cérebro funciona melhor quando ele reflete silenciosamente sobre algo, longe do nosso pensamento consciente. Agora, por exemplo, eu estou na Bahia, passando meu tempo cochilando na praia. Mas é impressionante o qual afiado seu pensamento fica quando você deixa sua mente relaxar dessa forma. Eu venho pra casa no final da tarde para escrever e é impressionante como tudo vem muito mais fácil do que quando a sua mente está ocupada.
4. Seguindo o tema do excesso de informação, notamos também que as pessoas sofrem cada vez mais da escassez de atenção. Estão sem tempo, glorificam a ideia de estarem ocupadas, estão distraídas e parecem cada vez menos dispostas a se engajar com atividades que exijam longo período de concentração, foco e criticidade (como ler livros e artigos mais longos na web).
Deve ser a minha idade, mas eu acho realmente difícil ler longos artigos na web. De alguma forma, a tela é pouco amigável e os seus olhos e mente ficam cansados. Além disso, há todas aquelas distrações – não só na página em si, mas em saber que há toda a rede mundial de computadores apenas a um clique de ser explorada, sem falar em Candy Crush Saga ou Angry Birds. Quando começamos a Wired no Reino Unido, muitas pessoas se perguntaram por que estávamos produzindo uma versão impressa, mas o fato é que ela se tornou imensamente popular. Nós temos artigos de 4000, até 5000 palavras, e é muito mais confortável e satisfatório lê-los no papel. Não há distrações em uma revista e você pode até mesmo deixa-la no banheiro – o que é mais do que pode ser feito com um iPad.
5. Seguindo a tendência, vemos também cada vez mais iniciativas direcionadas para essa cultura disléxica, desatenta. Como se valesse mais à pena sacrificar a mensagem para garantir que as pessoas a leiam. O que você pensa sobre essa cultura da distração, David?
Não há um jeito de garantir que as pessoas vão ler o que você tem a dizer, exceto contar uma boa história. Desde o surgimento do Homo Sapiens, nós tentamos manter a nossa espécie alerta e engajada por meio de boas histórias: deuses são histórias, assim como impérios, mesmo o capitalismo é uma história na qual todos acreditamos, permitindo-nos trocar pedaços de papel inúteis por bens reais que podem ser exibidos nas nossas casas. Mas às vezes, histórias tomam tempo para ser absorvidas e os curtos fragmentos de informação nos quais o mundo digital é muito bom podem ser bastante insatisfatórios, sendo esse o porque, eu acho, de nós os esquecermos tão rápido. Nós temos uma escolha: pensar em poucas coisas profundamente ou muitas superficialmente. É nossa responsabilidade decidir qual preferimos.
5. O que você demorou anos para aprender sobre seu trabalho e agora pode resumir em poucas palavras?
Seja uma boa companhia, orgulhe-se do que você faz, e as pessoas sempre vão ter prazer em trabalhar com você.
6. O que você demorou anos para aprender sobre a vida e gostaria que alguém tivesse te contado décadas atrás?
Nada. Eu não acho que seria útil que pessoas do nosso futuro nos dissessem como viver as nossas vidas. Primeiro, nós não os ouviríamos e depois, eles estariam falando sobre a vida deles, não as nossas. Viver é sobre assumir riscos e cometer erros e enquanto nos parabenizarmos quando as coisas forem bem e refletirmos quando não, vamos crescer como bons seres humanos.
7. Em sua visão, qual tema específico temos negligenciado e deveríamos dedicar mais de nossas conversas e atenção, como sociedade?
Acho que estamos esquecendo de tratar as pessoas com respeito. Eu não digo por que eles estão velhos ou mais sábios (ou, apenas às vezes, ambos) mas por que eles são diferentes de nós e os valores e motivaçõe que eles têm devem ser diferentes dos nossos. Levou um certo tempo até eu perceber que o que é bom pra mim pode não ser bom pra todo mundo. Mas agora eu entendo isso melhor. Eu acho (espero) que eu esteja tratando os outros de um jeito melhor.
8. Se pudesse recomendar uma só produção cultural (livro, filme, site…) para que a comunidade do PapodeHomem conheça em 2015, qual seria?
Leiam “Sapiens” de Yuval Noah Harari – uma história da humanidade de abrir os olhos, fascinante e fácil de ler.
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